Em publicação exclusiva para o Jornal Brasil Popular, o poeta Pedro Tierra apresenta o quinto poema da série Amanhece sobre S. Bernardo, nesta quarta-feira (12). Confira o número V.
Amanhece sobre S. Bernardo
V.
A morte aqui
é tamanha
Contemplo minha pátria convertida
num vasto cemitério.
Embrutecida pela dor e pelo ódio.
Sufocada entre mãos de um homicida
gerado no ventre da doença
que faz de nós esse monstro bifronte:
Casa-Grande e Senzala.
De tão presente se tornou invisível.
E nos modela a face e a memória
indiferentes à calamidade,
à procissão interminável dos mortos
que se move ao coração da terra,
ceifados pela peste anunciada
e fatal,
essa, que agora nos rouba o alento
dos pulmões que se agarram
às últimas gramas de ar:
fiapos de esperança
contra toda esperança
para resistir.
A morte aqui é tamanha
que se produziram tristes primaveras
de plástico industrial,
humildes,
para velar pelos mortos
e não deixar sem sinal a cova no chão
onde se despejou o corpo asfixiado.
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Amanhece sobre S. Bernardo III