Publicamos, nesta quinta-feira (20), o terceiro poema da série Amanhece sobre S. Bernardo, de Pedro Tierra. A série é exclusiva do Jornal Brasil Popular. Acompanhe
Amanhece sobre São Bernardo III
III.
Bordando
a alma do dia
Durante a noite, à luz das janelas,
ou sob a lona dos acampamentos,
brotavam dos dedos de mulheres
anônimas
uma clara escritura de pássaros, cores
e premonições.
Bordavam teu nome e tua liberdade,
como se urdissem nos dedos
o dia futuro
sobre os panos da madrugada:
faixas, retalhos, bandeiras
para torna-lo inevitável.
Repetiam teu nome em voz baixa
nas rezas, poemas, promessas
diante do retrato na parede,
ao lado dos santos de devoção.
Aprendemos a guardar na memória
um débil sopro sobre brasas antigas
escondidas nos alforjes,
como diamantes,
nos olhos
ou no peito da gente miúda e inumerável,
que sempre soube combater o impossível.
Você nos ensinou a torcer o impossível,
dia trás dia, noite trás noite,
com a tenacidade das mãos
e da palavra,
no clamor das assembleias, nos estádios
ou em voz baixa, na cela do cárcere,
olhos nos olhos, com ternura e força,
até torná-lo possível.
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