Imagine o prezado leitor que lhe tirarão o botijão de gás ou cessará o fornecimento do gás canalizado e você voltará a cozinhar no fogão a lenha. Porém sua cozinha continuará com as mesmas dimensões e arejamento. Mas isso ocorrerá com propaganda imensa, o novo fogão terá as cores do arco-íris, acompanhará recipiente de plástico incolor, que lhe será oferecido como brinde para guardar a lenha, e tudo estará no pacote da melhor alimentação, da comida mais saudável e saborosa. Mesmo que você não tenha alterado sua receita para adquirir os ingredientes necessários a estas maravilhosas refeições.
A transição energética é exatamente isso. O retorno ao passado, não apenas da energia, mas para sociedade escravagista.
Examinemos com isenção mas com rigor o que, fora dos slogans e propagandas, significa a “transição energética”.
A história da humanidade ocidental pode ser contada pela evolução das tecnologias para produção de energia. Afinal, a energia está em tudo que lhe acontece. A energia do corpo para nascer, ainda do corpo para andar, o avanço da roda para se deslocar, do fogo para cozinhar, da domesticação dos animais para plantar e colher, etc, etc, etc.
E quanto mais sofisticada é esta energia, mais rapidamente a sociedade avança para novo patamar de relacionamento e de economia e política. A escravidão que, por quase 400 anos, aviltou as relações humanas no Brasil, também levaram-nos à estagnação no desenvolvimento tecnológico, econômico, social e político, que, ainda hoje, em pleno século XXI, nos faz país atrasado, culturalmente subdesenvolvido.
A cada novo patamar tecnológico da produção de energia, mais rapidamente a sociedade humana atinge nova condição de produção que, por sua vez, acarretará novos padrões de comportamento social. Não é preciso ir muito longe. Veja um país que está no patamar mais primitivo em uso de energia, do consumo de energia pré-industrial, ou seja, antes da descoberta dos combustíveis fósseis. Certamente é um país que se rege, politicamente, com presença de divindades, de rei ou dirigente cercado de misticismo e o povo, analfabeto e rude, mesmo se for acolhedor e singelo, não desfruta dos benefícios da II Revolução Industrial, nem mesmo da Primeira.
A descoberta do carvão mineral como produtor de energia levou a Europa a ser a dona do mundo, especialmente a Inglaterra que dispunha de reservas de carvão mineral e soube aproveitá-las, denomina-se I Revolução Industrial. A descoberta do petróleo, nos Estados Unidos da América (EUA) fez com que este país suplantasse a Inglaterra, como dono do mundo, e se chama II Revolução Industrial. O outro país que também dispunha de petróleo em grandes quantidades, dividiu o poder mundial com os EUA, e foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Mas o Oriente Médio? inquirirá o culto leitor. Não se apropriou das tecnologias do petróleo, como também ocorreu com a Nigéria, e continuaram dependentes dos donos do mundo, do novo mundo industrial.
Ficamos com esta lição, não basta ter o insumo energético, é indispensável dominar sua tecnologia de produção e de uso para dar o passo a frente na evolução da sociedade.
O MUNDO DAS FINANÇAS APÁTRIDAS
Que mundo se vive neste século XXI? Qual o poder que nos governa? A resposta a esta questão é fundamental para entendermos o porquê nos procuram conduzir para o passado, especialmente a nós, brasileiros.
O Brasil, com a descoberta do pré-sal (2007), conquistou não somente a ampla, ainda não delimitada reserva de petróleo, como demonstrou-se qualificado tecnicamente para conduzir sua produção e uso. Tudo que as finanças apátridas, atuais donas do mundo, não querem: abrir a unipolaridade dos recursos financeiros nos paraísos fiscais. Já lhe era suficiente ter que enfrentar a República Popular da China (China) com seu sistema aberto e democrático da Organização de Cooperação de Xangai (2001) e, logo após o pré-sal, a criação dos BRICS (2009), a Nova Rota da Seda (Iniciativa do Cinturão e Rota – 2013) e diversas uniões de países sem estarem sob a dominação de um único.
Para finanças apátridas o Brasil precisa regredir, e nada mais regressivo do que as energias do passado.
Ao contratar por milhões de dólares a produção da intermitente energia eólica nas costas brasileiras, e da igualmente intermitente energia solar distribuída pelo País, a Direção da Petrobrás tornou explícita sua opção pelo retrocesso: energético, econômico e social para o Brasil.
E, em consequência, maior quantidade de leilões para transferir o petróleo do subsolo brasileiro para refinarias estrangeiras. Tal qual se fez, no passado não muito distante, com o café, o cacau, o açúcar e o pau-brasil. Hoje se faz com os minérios, a soja, o agro que é pop, mas gera, como toda esta exportação de produtos primários, lucro para a banca apátrida. E a imprensa hegemônica, presa na manutenção do Brasil Colônia e escravagista, celebra os saldos da balança comercial!
O caminho da Transição Energética não é o passado, é a Revolução Termonuclear, a fissão nuclear, amplamente desenvolvida, garantindo, pelo desenvolvimento tecnológico a segurança. Também, como até empresas de petróleo no exterior já estão investindo, a fusão nuclear.
A China também nos oferece o exemplo. No mês de abril passado, aquele país atingiu novo marco no campo da fusão nuclear, com o Supercondutor Avançado Experimental Tokamak (EAST, na sigla em inglês), também chamado “Sol Artificial”. Noticia Flavia Correia, editada por Carolina Martins, no “Olhar Digital” (17/04/2023): “Um plasma de fusão superquente foi gerado, sustentado e confinado por 403 segundos pelo reator, trazendo a energia de fusão em escala comercial um passo mais perto da realidade. A conquista quebra o recorde anterior do reator de plasma de alto confinamento em estado estacionário, que foi estabelecido em 2017, em 101 segundos. Localizado no Instituto de Física de Plasma da Academia Chinesa de Ciências, em Hefei, o dispositivo é referido como o Sol artificial da China por produzir energia de forma semelhante à que faz a nossa estrela”.
E, esclarece a jornalista, que “ao contrário da fissão nuclear – a reação nuclear que é atualmente usada no setor de energia – a fusão não cria resíduos radioativos. Além disso, produz de três a quatro vezes mais energia e não libera dióxido de carbono na atmosfera, ao contrário da queima de combustíveis fósseis”.
Aí está o caminho da transição energética para o futuro, para o progresso social e político. Mas será que também interessa os capitais das drogas, da corrupção, do rentismo, este que governa o Brasil desde 1990?
QUEM MEXE COM FOGO SE QUEIMA
As notícias que nos chegam de toda parte do Brasil são alarmantes. O País está tomado por incontrolável violência. Há quem peça a ditadura, quem clame pelos militares, que estiveram nestes últimos quatro anos no governo. Mas estiveram no poder?
Os militares que estiveram no poder foram os governantes de 1967 a 1980. Foram destituídos pelas finanças, sempre com falsas razões, naquele momento em nome da democracia.
Mas aqueles militares prosseguiram a Era Vargas, com desenvolvimento econômico e social, criando a previdência rural, impulsionando a ida da Petrobrás para o mar, com a criação da Nuclebrás, da Embrapa, da Embratel, da Cobra, da Petrofértil, do PASEP, do PRORURAL, do FUNRURAL, do PROTERRA, sem descuidar da cultura, do Mobral, da Funarte, da Embrafilme, da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, da reforma do Serviço Nacional do Teatro, entre outras medidas.
Eles fizeram como os quase 20 anos de Getúlio Vargas, o Brasil se desenvolver econômica, social e culturalmente, ter orgulho da nacionalidade.
Vemos, desde 1980, o retrocesso da sociedade brasileira, na medida em que avançam as finanças apátridas no controle do País. Não é outra a razão de tanta violência, do controle das áreas urbanas por milícias, do campo por jagunços, do Estado pelo “mercado”. Já não existe nacionalidade, há o aviltamento do trabalho pelo uberismo, das relações sociais pela corrupção e pelo neopentecostalismo, com as teologias do domínio e da prosperidade.
Chega o momento da energia. Poder-se-ia até dizer que é o último prego no caixão do Brasil. Viveremos como no Império, um país escravo, um país onde a elite se caracteriza pelo servilismo aos interesses estrangeiros, se no século XIX era à Grã-Bretanha, hoje nem mais tem pátria, é ao capital financeiro, o apátrida.
E como reagirá a sociedade? Com nova Revolução de 1930? Onde estão as lideranças nacionalistas?
(*) Por Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG), é atual presidente da AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobrás.
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