Um dos grandes intelectuais que o Brasil produziu, Darcy Ribeiro, foi sem dúvida, o decifrador mais fecundo do Brasil. Aquele que verdadeiramente mergulhou nas entranhas de nossa formação enquanto povo e nação.
Em sua imersão, Darcy apresenta novas conceituações e uma visão antropológica de um processo, segundo ele, violento na forma destribalizadora, que desgarrava as “novas criaturas” das tradições ancestrais para transformá-las.
Os povos novos decorrem da deculturação de seus patrimônios tribais indígenas africanos, assim como da aculturação seletiva destes patrimônios e de sua própria inventividade diante do novo.
Os povos novos derivam da desindianização do índio, da desafricanização do negro e da deseuropeização do branco. Este processo é o que molda o povo brasileiro, a Nova Roma.
Nesta formulação, evidentemente, Darcy Ribeiro não seguiu os ditames de parte de nossa intelectualidade que formula e conceitua segundo os ditames dos colonizadores.
Darcy Ribeiro afirma que a diversidade característica essencial de nossa formação é resultado da contribuição de vários povos na formação de nossa identidade, como os índios, os primeiros colonizadores (os portugueses) e imigrantes (franceses, holandeses, italianos, japoneses, alemães, entre outros), e os negros vindos da África. Desta mistura, surge o Brasileiro, filho da miscigenação, da ninguendade.
Toda esta teoria responde aos diversos dilemas que ainda circundam a sociedade brasileira, que conceitua, age e legisla em visão colonizada e em ação subserviente, contra os interesses deste povo miscigenado.
Nossas classes dirigentes, cheias de certezas e vazias de dúvidas, operam violentamente quando seus interesses espúrios, inconfessáveis e impudicos são contrariados. Travestem-se de paladinos na família, na ética e na moral hipócrita da cruzada catequizante do embuste pátrio da defesa de valores que elas mesmas não seguem.
Darcy Ribeiro compreendia e combatia esta elite. Segundo ele, uma classe dominante ruim, ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa que não deixa o País ir para frente. Acreditava na educação como instrumento de emancipação e libertação de nosso povo; coexistiu na fé inabalável da Romanidade deste novo povo e de sua realização como uma nova civilização.
Uma Roma lavada em sangue índio, lavada em sangue negro, melhor, tropical, e que está destinada a representar um importante papel no mundo. Dizia ele que este novo continha uma grande beleza também, porque era um povo se fazendo a si mesmo.
Darcy viveu sob essas causas: os índios; a educação e os novos paradigmas civilizatórios. Diferentemente de nossa classe dominante e parte de nossa intelectualidade, era cheio de dúvidas e vazio de certezas.
Mas em uma coisa não titubeava: a educação honesta e contínua sendo o único caminho de emancipação de nosso povo.
(*) Por Henrique Matthiesen, formado em Direito, pós-Graduado em Sociologia.
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