O Equador, país da América do Sul com o qual não temos fronteiras físicas, vive uma crise na segurança pública, causada pelo fortalecimento de facções criminosas e do narcotráfico no país. O presidente Daniel Noboa anunciou na última terça-feira (9) o reconhecimento de um estado de “conflito armado interno” que já deixou 13 mortos.
A capital Quito e o porto Guaiaquil vivem momentos de tensão com aulas suspensas, comércio fechado e pouca gente nas ruas, tomadas por militares. A situação vem se agravando no Equador desde 2016 quando, mercê do combate ao tráfico na Colômbia, seus operadores se deslocaram para o país vizinho, sobretudo em Guaiaquil, no litoral, de onde exportam toneladas de cocaína, até em submarinos artesanais que alcançam Estados Unidos e Europa, acabando por mudar a fisionomia do pacato país.
A criminalidade explodiu. A decisão do Equador em dolarizar sua economia, na ilusão de acabar com a recorrente inflação, teria também contribuído para este deslocamento do crime organizado para o país e, por isso, a crítica de vários analistas e movimentos sociais responsabilizando a política neoliberal pelo processo que estão passando. A capacidade de enfrentamento do Equador aos poderosos grupos articulados a grandes cartéis do México é relativamente pequena, mas o atual presidente se dispõe a enfrentar a guerra. Esteve recentemente nos Estados Unidos, o qual, entretanto, já não se encontra capaz de reeditar, ali, as ações que promoveu na Colômbia.
A situação se agrava e os países da América do Sul temem pelo pior, sobretudo o Brasil, que já enfrenta a penetração do tráfico na região amazônica. O Itamaraty se manifestou através de nota e destacou que qualquer apoio ao país vizinho dependerá de pedido do seu Governo, o que, até agora, não ocorreu: “O governo brasileiro acompanha com preocupação e condena as ações de violência conduzidas por grupos criminosos organizados em diversas cidades no Equador. Manifesta também solidariedade ao governo e ao povo equatoriano diante dos ataques. O governo segue atento, em particular, à situação dos cidadãos brasileiros naquele país. O plantão consular do Itamaraty pode ser contatado no número +55 61 98260-0610 (inclusive WhatsApp)”.
Os demais países do continente também condenam a ação do crime organizado no Equador e se manifestaram, também em nota, destacando e importância de que o combate ao narcotráfico obedeça as regras de democracia.
A questão central desta crise no Equador ultrapassa a mera tensão conjuntural. O forte poder de intervenção do tráfico sobre Estados organizados já está colocando em cheque sua própria soberania. Não vamos longe, o Estado do Rio de Janeiro, no Brasil, já é uma vítima desta supremacia do crime sobre a Lei. Na última semana, a imprensa noticiou uma denúncia do próprio Prefeito da cidade de que uma Praça Pública estava sendo oferecida para empreendedor privado ali construir um prédio ao preço de R$ 500.000,00. Nunca, talvez, na história da humanidade chegou-se a este ponto: O crime confrontado ao Estado, com nítida superioridade material, graças a qual subverte a ordem legal e o substitui mesmo em tarefas sociais. Não lhe falta, inclusive, um exército de jovens miseráveis, sem qualquer outra oportunidade de realização, senão o alistamento ao crime.
No Oriente Médio, o mesmo marco da pobreza e subdesenvolvimento alimenta as correntes mais radicais do islamismo. Na África Central, do Atlântico à Somália, grupos criminosos se apoderam de áreas ricas em algum minério e impõe a lei do mais forte. Em todos estes casos, perdemos o futuro que deveria repousar sobre as novas gerações. ‘Tristes trópicos” que hoje alimentam a ideia de que marchamos inexoravelmente para a pior expressão de anarquia: o caos. (The Coming Anarchy by Robert Kaplan: A Critique).
(*) Por Paulo Timm, economista, Presidente PTB/RS.
Artigo publicado, originalmente, no site RED (Rede Estação Democracia). Imagem em Pixabay.Acesse: https://red.org.br/noticia/crise-e-tensao-social-no-equador/
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