A viagem do presidente Lula a China é um novo marco político no mundo atual, no qual numerosos países e governos se esforçam para escapar da ditadura política e econômica em que foi convertido o mundo unipolar, e buscam coordenar políticas externas soberanas de modo a promover um mundo multipolar. No centro político disto, está o Brics, dentro dele, a relação expandida entre Brasil e China.
Não foi apenas mais uma viagem rotineira, muito menos os acordos firmados por Lula e Xi Jin Ping apenas acrescentam mais volume na já significativa relação bilateral sino-brasileira. Para se compreender isto basta ver que entre os acordos firmados, há aqueles em que se planeja a instalação de indústrias chinesas de tratores no Brasil, adequadas para estimular a produção da agricultura familiar. Note-se que na mesma comitiva de Lula à China, havia representantes do Agronegócio, que buscavam apenas expandir a relação comercial, ou seja, mais recursos financeiros, visando mais volume na exportação de monoculturas. Segundo João Pedro Stedile, da Coordenação do MST, também integrante da comitiva, aqueles empresários do grande capitalismo agrário brasileiro, não foram atendidos como esperavam.
Segundo Stedile, que ficou mais 10 dia no gigante asiático, após a volta de Lula, para visitar indústrias e centros de tecnologia agrícolas, a China também se comprometeu a transferir para o Brasil, novas modalidades tecnológicas para a produção de alimentos, especialmente um tipo de trigo de pequeno porte, mais resistente às intempéries do clima, e também de um novo tipo de arroz, adaptado ao clima mais seco.
Além disso, a visita do presidente Lula à Hauwei, gigante da área de telecomunicações, foi bastante emblemática, tendo vista a perseguição que os EUA movem contra esta empresa – chegou até a prender uma de suas principais executivas. – e também porque durante o governo Bolsonaro, o embaixador norte-americano no Brasil fez escandalosas pressões para que o Brasil não adotasse a tecnologia 5G da empresa asiática. A postura de Lula indica que o Brasil não aceita ingerências dos EUA em seus negócios internos e que não restringirá suas relações com a China a prioridade para a área de produtos primários. Entre os acordos, encontra-se também a fabricação conjunta de um satélite para a proteção da Amazônia, indicando que é uma relação de novo tipo que está sendo aberta por Lula e Xi Jin Ping.
Dólar: arma de guerra econômica
A viagem de Lula a Pequim e Xangai, onde participou da posse de Dilma Rousseff na presidência do Banco do Brics, também demarcou um novo campo de ação do Brasil na arena internacional, pois foi exatamente de lá, país que realizou uma Revolução Socialista em 1949, que o presidente brasileiro fez contundente críticas ao papel negativo do dólar no comércio internacional.
De fato, ao questionar a exclusividade do dólar no comércio internacional, Lula levanta o véu para todo tipo de denúncias, há muito realizadas, para o fato de que a moeda norte-americana só conseguiu esta exclusividade por imposição militar, apesar de se uma moeda sem lastro em riqueza real, como o ouro ou outra. Sugerindo a realização de operações comerciais com novas moedas, ou moedas próprias, Lula vai se somando ao que já vem sendo praticado há alguns anos por países como Rússia, China e Irã, que já dispensam aquela moeda em gigantescas operações. Este questionamento de Lula ao dólar provocou enorme fúria na Casa Branca, seguida de declarações nada diplomáticas, como aquela em que o Porta-Voz do governo estadunidense acusa o Brasil de ser “papagaio da Rússia” referindo-se assim, grosseiramente, também às corretas declarações do brasileiro de que “Eua e União Europeia não estão interessados na paz, já que continuam enviando armas para a Ucrânia”. As declarações posteriores de Lula, visando amenizar a situação criada, não apagam o que foi dito, especialmente onde foi dito, nem ofuscam a importância dos acordos bilaterais com a China – uma inimiga para os EUA – muito menos o notório fato de que o Brasil consolida sua presença ativa no âmbito do Brics. Esvaziada durante os governos Temer-Bolsonaro.
Reindustrialização
Evidentemente, o Brasil poderá tirar muito mais proveito da relação com a China, se apresentar propostas que induzem à reindustrialização brasileira, e não apenas a uma maior presença chinesa na compra de empresas brasileiras ou na exportação primária. Vale lembrar que em 1980, ano em que os economistas não liberais concordam ter sido o Fim da Era Vargas (1930-1980) , o Brasil possuía um PIB industrial superior ao PIB Industrial da China e dos Tigres Asiáticos somados. Hoje, após tantos governos que sucessivamente, eliminaram o protagonismo estatal que o Brasil registrava na Era Vargas, substituindo-o por prioridades rentistas colonizadoras e desindustrializantes, o Brasil hoje não alcance sequer 30% do PIB Industrial da China, perdendo também para o dinamismo industrial dos Tigres Asiáticos.
A pauta de exportações brasileiras hoje é marcadamente dominada por produtos primários, sinalizando que há um plano nefasto, urdido por poderes externos, visando a transformação do Brasil em um país agrário, como era na República Velha. Para alcançar o objetivo da reindustrialização, tão correta e insistentemente anunciado pelo Presidente Lula, é indispensável redirecionar políticas, e enfocar as relações com a China para as clamorosas lacunas existentes no Brasil, como a ausência de uma indústria ferroviária, no que os chineses são hoje a vanguarda mundial. A instalação de uma indústria ferroviária no Brasil, em parceira com a China, será grande impulso para mudar o modal do transporte de passageiros e de cargas, além de pavimentar o caminho para a integração ferroviária da América do Sul, outra das prioridades do governo Lula, que opera para a retomada da Unasul.
Assim, a visita de Lula à China e os acordos firmados com Xi Jin Ping, abrem uma nova era na cooperação bilateral, sem submissão à pauta do agronegócio ao aos ditames da moeda sem lastro, o dólar, e enfocando a parceira para aproveitar o grande potencial construído pela Revolução Socialista da China, a maior fábrica do planeta hoje, para alavancar a reindustrialização brasileira, com positivos impactos para retomar e acelerar a integração latino-americana.
Maio/2023
(*) Beto Almeida, jornalista, presidente do Jornal Brasil Popular.
SEJA UM AMIGO DO JORNAL BRASIL POPULAR
O Jornal Brasil Popular apresenta fatos e acontecimentos da conjuntura brasileira a partir de uma visão baseada nos princípios éticos humanitários, defende as conquistas populares, a democracia, a justiça social, a soberania, o Estado nacional desenvolvido, proprietário de suas riquezas e distribuição de renda a sua população. Busca divulgar a notícia verdadeira, que fortalece a consciência nacional em torno de um projeto de nação independente e soberana. Você pode nos ajudar aqui:
• Banco do Brasil
Agência: 2901-7
Conta corrente: 41129-9
• BRB
Agência: 105
Conta corrente: 105-031566-6 e pelo
• PIX: 23.147.573.0001-48
Associação do Jornal Brasil Popular – CNPJ 23147573.0001-48
E pode seguir, curtir e compartilhar nossas redes aqui:
https://www.instagram.com/jornalbrasilpopular/
️ https://youtube.com/channel/UCc1mRmPhp-4zKKHEZlgrzMg
https://www.facebook.com/jbrasilpopular/
https://www.brasilpopular.com/
BRASIL POPULAR, um jornal que abraça grandes causas! Do tamanho do Brasil e do nosso povo!
Ajude a propagar as notícias certas => JORNAL BRASIL POPULAR
Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.