O mundo passa por um momento político-histórico singular marcado pelos seguintes fatores:
1) A decadência da hegemonia do imperialismo norte-americano;
2) O surgimento de um eixo geopolítico eurasiático –com a aliança estratégica China-Rússia-Irã, como centro de gravidade- que disputa com o eixo geopolítico Norte Atlântico, comandado pelos Estados Unidos;
3) O aumento do peso estratégico do Sul Global –em particular da África e Nuestra América- na disputa geopolítica global.
O resultado da conjugação dos fenômenos anteriores é uma mudança telúrica no ordenamento global, que transita de um mundo unipolar, comandado pelos EE.UU, a um mundo multipolar. Agora bem, vale a pena ressaltar que a emergente ordem global não representa uma mudança sistêmica diferente do capitalismo, isto é: transitamos de um mundo unipolar –capitalista- para um multipolar –também capitalista. A nova configuração geopolítica mundial pode bem oferecer novas oportunidades e condições para os países do Sul Global, porém não necessariamente oferece saídas à crise civilizatória que ameaça a vida do planeta.
1) A decadência da hegemonia do imperialismo norte-americano
A decadência da hegemonia do imperialismo norte-americano se dá no contexto da crise de civilização que a humanidade e o planeta enfrentam. O modelo de acumulação capitalista, que reproduz o modelo de desenvolvimento baseado no consumo massivo, na virtualização e banalização das relações humanas, no crescimento econômico e consumo sem limites de bens comuns e da natureza significam hoje uma ameaça existencial para a vida sobre o planeta. É importante assinalar que a decadência do imperialismo norte-americano não significa uma decadência do modelo que nos arrastou a esta crise civilizatória. Na competição entre o poder imperial e os poderes emergentes não se vislumbram alternativas ao capitalismo nem claras saídas emancipatórias, se chamem socialistas ou pós-capitalistas. Não obstante, o enfraquecimento do imperialismo pode gerar melhores condições para se ir edificando alternativas civilizatórias.
Os dois pilares da hegemonia imperialista –a dominação econômica e a dominação militar- têm perdido força. Tanto as guerras de Afeganistão, Iraque, Síria, Iêmen e agora Ucrânia demonstram que, apesar de contar com a maior força militar do planeta, o imperialismo norte-americano não tem sido capaz de ganhar uma só destas. Sucede com o imperialismo norte-americano o mesmo que aos impérios que lhe antecederam [Roma, Otomano, Britânico, Francês etc.]; ao se aproximar o final de seu domínio, se lançaram a aventuras militaristas projetadas para deter seu declínio, porém, ao fim e ao cabo, acabaram por acelerá-lo.
A erosão da supremacia econômica se dá a partir da década dos 80s, quando os EUA começa a se desindustrializar, a exportar sua manufatura ao Terceiro Mundo, a China em particular que, nos últimos 25 anos, se converteu na grande fábrica do mundo. Estados Unidos desinveste em Pesquisa e Desenvolvimento [PD], muito necessários para manter a supremacia tecnológica. A economia norte-americana modificou de uma economia manufatureira-produtiva para uma economia financeirizada e de serviços. Porém, desde fins dos 1990s, os mercados financeiros se tornaram cada vez mais voláteis e instáveis, provocando grandes crises, como a de 2007-8.
Manter aventuras belicistas pelo mundo, sem contar com uma economia produtiva sólida, tem servido para aumentar a dívida interna a tal extremo que não só é impagável como também a mais vultosa na história das nações: US$ 36 trilhões; uma dívida que só aumenta com a subvenção da Ucrânia na guerra da OTAN contra a Rússia, e a subvenção de Israel em sua guerra extermínio contra o povo Palestino, a mesma que transmudou numa guerra regional na Ásia Ocidental.
O uso do dólar –outra sustentação do domínio imperial- como arma de guerra econômica o levou a diminuir seu poder. Muitos países -de economias emergentes tais como os do Sul Global- ativam mecanismos alternativos ao dólar ianque para o comércio e o crédito internacional. O poder financeiro global do qual os EUA desfrutou historicamente se baseou em grande medida no poder do dólar; este, ao cair, também cai seu poderio financeiro mundial e novos poderes financeiros surgem no mundo. Hoje a China é o principal credor do mundo cujos empréstimos superam a soma dos empréstimos do FMI e do Banco Mundial.
A institucionalidade global que o imperialismo norte-americano criou a partir do final da Segunda Guerra Mundial –como a ONU, as instituições do Bretton Woods [Banco Mundial, FMI, GATT etc.] são cada vez mais ineficazes na hora de resolver os problemas mais elementares da humanidade. A chamada “ordem internacional baseada em regras” que o imperialismo impôs ao mundo hoje se tornou inteiramente irrelevante.
No intento desesperado de conter a Rússia, o imperialismo norte-americano tem sacrificado a sua aliada histórica, a União Europeia [UE], que hoje sofre um processo de desintegração dramático. Os EUA pressionou a UE a dar todo seu apoio à guerra subsidiada [proxy] contra a Rússia, a mandar dinheiro e armamento [inclusive a custa de sua própria defesa], a romper relações comerciais com a China e deixar de comprar combustível barato da Rússia. O resultado tem sido o endividamento dos membros da UE, a inflação exorbitante, aumento do desemprego e corte de programas sociais. Sem o combustível barato russo, os custos de produção das indústrias europeias se tornaram insustentáveis e se acelera a desindustrialização do velho continente. Como exemplo, indústrias históricas como a química BASF, a maior do mundo, fundada em 1865, foi obrigada a fechar. Os protestos massivos de trabalhadores, estudantes e agricultores que a Europa vive hoje são resultado direto desses erros de cálculo estratégicos.
2) O Eixo Geopolítico Eurasiático
O novo Eixo Geopolítico Eurasiático se consolidou em tempos recentes graças, em certa medida, aos erros de cálculo estratégico do imperialismo ianque. Zbigniew Brezinski, em seu livro “El Gran Tablero Mundial” [“O Grande Tabuleiro Mundial”] [1979], alertou que haveria que evitar, a qualquer preço, uma aliança entre Rússia e China, já que esta teria nefastas consequências para a hegemonia mundial dos Estados Unidos. Porém o assédio, a fustigação e provocação simultâneas contra China e Rússia só serviram para aproximá-los a ponto de criar uma aliança estratégica econômica, política, cultural e militar cada vez mais sólida.
A política hostil contra a China foi inaugurada com o “pivô para Ásia” de Obama, e depois se intensificou com a guerra econômica de Trump. Ao que Biden lhe somou as provocações político-militares no Mar Meridional da China, em apoio à “independência” de Taiwan. Para cumprir com o “pivô para Ásia”, os EUA precisava se retirar das aventuras militaristas da Ásia Ocidental e do Afeganistão, uma retirada paulatina que, aliás, se vinha cumprindo. Porém, a irrupção da guerra de extermínio de Israel contra o povo Palestino obrigou o imperialismo a focar novamente seus esforços e recursos nessa região.
Este novo eixo é o motor e músculo por trás de novas arquiteturas multilaterais, como a Organização de Cooperação de Shangai [OCS] [China, Índia, Cazaquistão, Quirquistão, Rússia, Paquistão, Tadjiquistão e Uzbequistão, Irã], e o BRICS [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]. A Organização de Países Exportadores de Petróleo [OPEP] é hoje mais influenciada pelos membros dos BRICS+ e a pela OCS do que pelos poderes ocidentais.
Na passada cumbre dos BRICS [Johanesburgo, setembro 2023], sete novos membros aderiram: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito, Etiópia e Irã. Naquele momento, aqueles 11 membros do BRICS representavam 43% do PIB global e controlavam 2/3 partes da produção do petróleo em nível mundial. Com a chegada de Milei ao governo, a Argentina se retirou dos BRICS, porém há uma longa fila de países [aproximadamente 40] solicitando seu ingresso, incluindo Venezuela, Bolívia, Cuba, Turquia, Indonésia e Cazaquistão. Somente com a adesão da Venezuela, os BRICS+ controlariam mais de 77% da produção global de petróleo. Muito chamativo é que três dos novos membros que se somarem em 2023 –Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Egito- foram aliados históricos dos EUA.
3) O crescente peso estratégico do Sul Global na disputa geopolítica global
Ante o panorama acima exposto, o Sul Global tem exercido um peso estratégico cada vez mais preponderante. A fragilização do imperialismo ocidental cria novas condições para o Sul Global, pois aumenta sua capacidade de manobra, de estabelecer novos pactos e associações com os poderes globais emergentes. Como exemplo disso, as pressões que os EUA exerceram sobre os países africanos e nuestroamericanos para que se somassem às sanções contra a Rússia e fornecessem armamento a Ucrânia não frutificaram, pois ninguém lhes obedeceu.
Os poderes emergentes –China em particular- contribuem muito mais para a construção de novas infraestruturas [ferrovias, portos, rodovias, telecomunicações etc] no Sul Global do que os [países] do imperialismo ocidental.
Se torna evidente que o Sul Global gravita mais e mais em torno ao novo eixo geopolítico eurasiático, já que este representa melhores condições para o comércio internacional e o acesso a créditos internacionais, sem imposições de ajuste estrutural, como as fizeram historicamente o FMI e o Banco Mundial.
O Eixo Eurasiático também brinda ao Sul Global possibilidades de apoio em matéria de defesa e segurança sem a ingerência dos EUA. O apoio militar que a Federação Russa tem proporcionado a Venezuela e Nicarágua em Nuestra América, ou à República Centroafricana, Mali, Argélia e Burkina Faso na África são mostras disso.
O Secretário de Estado Anthony Blinken realizou périplos maratônicos [2023-2024] por Ásia Ocidental, África e Nuestra América, numa tentativa desesperada para convencer a essas vitais regiões do Sul Global que se distanciem do Eixo Eurasiático e, por outro lado, se alinhem novamente ao império em decadência, recorrendo frequentemente a cooptação, a chantagem e a ameaça, porém sem maiores resultados.
Nuestra América no novo panorama geopolítico mundial
No caso específico de Nuestra América, esta se encontra numa disjuntiva complexa. Por um lado, tende a se aliar cada vez mais com o Eixo Eurasiático e, ao mesmo tempo, mantém relações subordinadas ao imperialismo norte-americano, o qual, ao ver como se desvanece seu poderio mundial, intenta consolidar seu controle e domínio sobre o “pátio traseiro” [quintal], fortalecendo sua Doutrina Monroe, versão 5G.
Os governos de Brasil e Colômbia ilustram bem esta tendência ambivalente. Tanto o governo de Lula como o de Petro são partidários da ideia de que o exército norte-americano brinde apoio militar para “ajudar a cuidar da Amazônia”. No caso da Colômbia, Petro não questionou a presença de bases militares ianques em território colombiano. Pelo contrário, ele sugere permitir que os EUA utilizem a ilha de Gorgona como uma base para operações navais, e recentemente aceitou que a Polícia de Nova Iorque [NYPD, por suas siglas em inglês] instalasse um escritório em Bogotá.
O acima exposto sucede num contexto de uma segunda onda progressista marcadamente mais conservadora que a anterior [1999-2015], inaugurada com a chegada de Chávez ao poder. Os governantes de esquerda atuais [Brasil, Colômbia, Bolívia, México, Chile] governam com pouco poder e em aliança com forças da direita tradicional. Sua capacidade de manobra para realizar reformas é muito menor que no período passado.
A primeira onda progressista, onde se destacou o protagonismo de Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, foi precedida por uma década de levantamentos populares. Os mais emblemáticos foram o Caracazo [1989] da Venezuela, o levantamento Zapatista [1994], os levantamentos da CONAIE no Equador [ao longo dos anos 1990s], o Argentinazo [2001], as Guerras da Água e do Gás na Bolívia [2000 e 2003], respectivamente. Estas puseram em crise aos governos neoliberais da década dos 1990s, criando uma nova correlação de forças no continente que permitiu a ascensão de governos alternativos, antineoliberais e, em alguns casos, como Venezuela e Bolívia, com horizontes socialistas. Por outro lado, a segunda onda progressista não foi precedida por grandes levantamentos ou rebeliões sociais [salvo nos casos de Chile e Colômbia]. O resultado de processos eleitorais e o retorno dos governos progressistas se conseguiu, em grande medida, conciliando com as direitas e as burguesias tradicionais.
O conservadorismo do progressismo de hoje se reflete no pouco impulso que se lhe dá ao projeto de unidade nuestroamericana de corte anti-imperialista, como a ALBA, UNASUL e CELAC, algo que foi muito emblemático da onda anterior, graças, em grande medida, a liderança estratégica que exerciam os Comandantes Fidel Castro e Hugo Chávez. Também se evidencia na ausência do socialismo e revolução como horizontes emancipadores, ambos muito presentes no período anterior.
Na conjuntura atual, os movimentos sociais se apegaram muito mais à institucionalidade progressista e minimizaram significativamente seus níveis de mobilização e beligerância popular nas ruas e no campo. O golpe parlamentar contra Dilma Rousseff no Brasil [2016] não foi rechaçado pelas massas nas ruas, como tampouco o foi o golpe contra Evo Morales em 2019. O assalto fascista a Praça dos Três Poderes no Brasil de 8 de janeiro de 2023 não teve uma resposta do campo popular.
As explosões sociais do Chile [2019] e da Colômbia [2019-2021] são a exceção, porém estes se deram em contextos de governos de extrema direita. Não obstante, os sujeitos coletivos das explosões também parecem recuar no contexto dos governos de Petro e Boric. Na Argentina, a centelha da rebeldia se acendeu novamente em reação às medidas draconianas que tem o governo de Milei querido impor.
Ásia Ocidental, o Sahel Africano e Europa: focos de rebeldia global e de luta anti-imperialista
Ásia Ocidental
A guerra de extermínio que Israel tem empreendido contra o povo Palestino –que começou muito antes da Operação Dilúvio Al-Aqsa de 7 de outubro 2023- rapidamente se regionalizou, reativando o Eixo da Resistência que se havia constituído em 2010 em defesa da Síria. Uma grande provocação à Resistência Palestina foi o discurso de Benjamin Netanyahu na ONU, na 78ª Assembleia Geral, onde mostra um mapa de Israel no qual não aparece nem a Faixa de Gaza nem a Cisjordânia, evidenciando claramente as intenções de exterminar e desalojar ao conjunto da população Palestina.
As raízes históricas do conflito se encontram na Europa de fins do Século XIX, onde foi inventado o movimento Sionista, promovido por potências imperiais como o Reino Unido, que buscava a criação de um Estado judeu no coração da Palestina. O “problema judeu” dos países europeus foi transladado ao coração da Palestina. Igualmente, a criação de Israel tinha propósitos geopolíticos. Ao final da Primeira Guerra Mundial, a Ásia Ocidental ficou repartida entre as potências imperiais de França e Inglaterra [o Acordo Sykes-Picot-1916]. O fim da Segunda Guerra Mundial viu uma Europa enfraquecida e junto com o ressurgimento do nacionalismo árabe e do projeto Pan árabe, movimentos que, no contexto da Guerra Fria, haveria que conter. A criação de um enclave pró-imperialista como Israel serviu a este propósito.
O Eixo da Resistência articula a República Islâmica do Irã [através da Força Quds], ao Exército Árabe Sírio, Hezbollá do Líbano, as Resistências Islâmicas da Palestina [Hamas e Jihad Islâmico], as Milícias Islâmicas do Iraque [Katáib Hezbolá e as Forças de Mobilização Popular, ambas já incorporadas ao Ministério de Defesa do Iraque] e ao Movimento Anasrrolá do Iêmen [conhecido no Ocidente como os Houtíes].
O Eixo da Resistência obrigou Israel a deslocar uma parte de suas forças da Faixa de Gaza, ao se abrir novas frentes de guerra no norte contra o Hezbollá, no leste contra a Síria e as milícias islâmicas iraquianas, no Mar Vermelho e no Estreito de Bab el Mandeb.
Os ataques contínuos das milícias iraquianas contra bases norte-americanas e israelenses no Iraque e na Síria; os ataques com mísseis e drones aos portos israelenses de Haifa e Eilat; os ataques, por parte do Hezbollá, contra bases aéreas e estações de inteligência e espionagem no norte de Israel; e os ataques do Movimento Ansarrolá no Mar Vermelho a qualquer barco -comercial ou militar- destinado a Israel, e a barcos Britânicos e Norte-americanos. Toda esta ofensiva do Eixo da Resistência, somada à heroica resistência Palestina dentro de Gaza e Cisjordânia [Hamas, Jihad Islâmico, Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP), Frente Popular pela Libertação da Palestina-Comandância Geral (FPLP-CG), Frente Democrática pela Libertação da Palestina [FPLPl geraram um desgaste do Sionismo do qual [de acordo com muitos analistas militares norte-americanos] Israel não poderá se recuperar.
O Eixo da Resistência –em suas mensagens e sua linguagem- se mostra em identidade com as lutas dos povos oprimidos do mundo. Hamas já não se refere a si mesmo como um movimento de resistência exclusivamente islâmica, senão que se descreve como “um movimento de libertação nacional” onde cabem todas as religiões, incluindo a judia. O Movimento Ansarrolá fala dos “mustafezene”, ou os oprimidos da Terra e invocam o conceito islâmico de “asabiyya”, ou solidariedade social.
A dimensão da catástrofe humanitária que gerou a campanha de genocídio israelense e os níveis de crueldade do mesmo não têm paralelo em tempos contemporâneos. O repúdio mundial do genocídio –mais dos povos e movimentos que dos governos- é algo inédito. A legitimidade de Israel ante os olhos do mundo caiu a níveis nunca antes conhecidos.
Igualmente, o mito da “segurança do Estado de Israel” caiu para sempre, pois a magnitude e escala da Operação Dilúvio Al-Aqsa era algo inconcebível para a sociedade israelense.
Porém também o holocausto do povo palestino pôs em evidência a inocuidade da institucionalidade internacional. Por exemplo, a sentença da Corte Penal Internacional [CPI] foi completamente ignorada pelo Estado Sionista e o genocídio só se intensificou.
O Sahel Africano
Em vários países do Sahel Africano, ex-colônias francesas, das quais a França nunca se acabou de ir, assumiram o poder pela via de golpes de Estado- novas forças políticas e militares com clara vocação anti-imperialista e descolonizadora. A França conseguiu manter um controle sobre suas ex-colônias impondo o Franco Central Africano [CFA] como a moeda de seis países independentes: Camarões, República Centroafricana, Chade, República do Congo, Gabão e Guiné Equatorial. Assim, a França tem podido controlar o sistema monetário e financeiro desses países. Também tem mantido um controle monopolístico dos recursos estratégicos da região, como o urânio, o ouro e o ferro. Movimentos contra a presença da França se têm produzido no Sudão, Chade, Mali, Burkina Faso, Senegal, Costa do Marfim e Guiné Equatorial.
É neste contexto que se produzem os golpes de Estado de tipo nacionalista [e frequentemente anti-imperialista] em Guiné Equatorial, Burkina Faso, Mali e Niger. Em fins de 2023, Burkina Faso, Mali e Niger formaram a Aliança de Estados do Sahel [AES], um pacto defensivo entre os três para enfrentar uma eventual intervenção militar francesa direta ou através de Estados proxy, tais como Nigéria, Gana, Camarões e Costa do Marfim. A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental [ECOWAS], bloco pró-imperialista, tem ameaçado a Niger com uma intervenção militar. Em janeiro de 2024, Niger, Burkina Faso e Mali decidem abandonar a ECOWAS em bloco.
Ibrahim Traoré, o jovem capitão que é agora presidente de Burkina Faso, recupera os ideais do Pan-africanismo e retoma o pensamento do dirigente revolucionário Thomas Sankara. Declarou que “os presidentes africanos devemos deixar de ser marionetes que bailam a cada vez que os imperialistas movem os fios”. Assim como Sankara, [Traoré] disse: “o escravo incapaz de organizar sua revolta não merece compaixão”, e encerra suas intervenções com “Pátria ou Morte: Venceremos!”
É inquestionável o desmoronamento do imperialismo francês na África ocidental e no Sahel.
Volta a Europa rebelde
As elites europeias optaram por sacrificarem o bem-estar de suas próprias populações para cumprir com as exigências do imperialismo norte-americano de continuar subvencionando a Ucrânia em sua confrontação com a Rússia. Isto levou a uma dramática queda no nível de vida das sociedades europeias que derivou na ira coletiva. Os protestos em França, Portugal, Espanha, Alemanha, Inglaterra e República Checa são permanentes.
Dos mais emblemáticos protestos estão os seguintes: a resistência dos trabalhadores na França oriunda das reformas trabalhista e previdenciária, o mesmo que na Inglaterra e Espanha; a mobilização da cidadania contra a reforma da saúde em Espanha; e as mobilizações campesinas na Alemanha, França e Espanha devido aos custos dos insumos, protesto por falta de medidas de proteção da agricultura e pela utilização de venenos como o glifosato.
Tradução > Joaquim Lisboa Neto