Eu errei num dos meus textos, quando afirmei que a elite econômica mundial está jogando às calendas toda a preocupação com as Mudanças Climáticas. Um erro da minha parte foi não exercitar um olhar cuidadoso no que está acontecendo no momento atual, não foi por falta de vontade, e sim, porque eu estava mirando as Adaptações às Mudanças Climáticas e deixei de observar que os desastres ambientais que já se transformaram em crise climática, pois são muitos eventos ocorrendo ao mesmo tempo no mundo. Por isso, a frase correta deve ser: Se não pararmos de mandar as calendas às mudanças climáticas, todos vamos sucumbir!
Aos incautos, aviso que a natureza não está se vingando, ela está apenas se adequando à nova realidade. A natureza é complexa! Os avisos foram dados, que se a média de temperatura ultrapassasse 1,5oC os desastres climáticos iriam acontecer. Os especialistas estão nos alertando, em recente publicação, Carlos Nobre, especialistas do IPCC disse: o mar mais aquecido produz umidade e muita chuva, a temperatura média já passou dos 1,5oC e isto é grave; Paulo Artaxo, em entrevista afirmou que a temperatura média pode chegar a 3-3,5oC e as consequências serão muito graves…
Estudos afirmam que as crises são tratadas em cinco fases: prevenção, choque, resposta, recuperação e resiliência. Vamos fazer um breve exercício, olhar a crise climática e ver como deveria ser tratada: prevenção (adaptação às mudanças climáticas), choque (desastres ambientais), resposta (ação para salvar pessoas e a infraestrutura), recuperação (ação para voltar a vida ao normal) e resiliência (manter a vida como se nada tivesse acontecido).
Não vou tratar de todos os pontos, mas apenas discorrer sobre a Prevenção, que é a Adaptação às Mudanças Climáticas. Ou seja, nada é feito no Brasil para se preparar para o momento atual de crise climática. Para a prevenção deveríamos saber onde estão os locais com potencial de alagamento, de deslizamento de terra, tampouco onde estão os 3 milhões de brasileiros que vivem em área de risco. Como exemplo de Prevenção, sabendo onde estão os locais de alagamento, retiramos os moradores, se não for possível colocamos bomba para evitar o alagamento, bem como podemos fazer emissários para jogar a água no mar, fazer locais para absorver água e até podemos fazer acumuladores de água.
Não há prevenção, e será que é difícil achar os culpados? É facílimo. A elite política que executa os desejos mais sórdidos da elite econômica não propõe nada para proteger a sociedade dos efeitos graves das Mudanças Climáticas, pelo contrário, há muitas propostas de mudança da legislação ambiental para flexibilizar a proteção ambiental, logo, achamos os culpados.
Nos eventos de desastres ambientais (aqui e em uma parte do mundo) a sociedade está sem apoio, porque a atuação do poder público é atabalhoada, o poder público não tem um método estudado e preparado para executar no caso de desastres, não tem um protocolo de quem faz e como faz cada uma das atividades.
Os avisos de que desastres poderiam acontecer no Rio Grande do Sul é antigo, segundo o CEMADEN, entre 1991 e 2022 foram 74 alagamentos e 100% depois de 2007, 302 chuvas intensas e 100% depois de 2007, 1487 enxurradas com 75% de incidência depois de 2007 e 570 inundações e 67% depois de 2007. Ou seja, os dados não mentem. Além disso, o Relatório do IPCC de 2007 já indicava que o Rio Grande poderia sofrer com graves problemas de desastres ambientais, mas o poder público não deu atenção, numa indicação de negacionismo científico; é fácil achar os culpados…
Um estudo realizado na Amazônia, de responsabilidade do Prof. Henrique Vieira, mostrou que os mais vulneráveis são aqueles que são mais afetados, porque as noites estão mais quentes à beira dos rios, produzindo noites mal dormidas, para a pesca é necessário mais gelo para manter o pescado, o aumento das ventanias tem derrubado árvores e outras espécies têm morrido nas enchentes.
Para contribuir com a discussão, proponho cenários de atuação, recompor as matas ciliares (proteger os curso de água), incentivar a agricultura agroecológica (diminui o uso de agrotóxico), diminuir a impermeabilização do solo (aumentar a absorção de água pelo solo), recriar cidades onde viver seja seguro (diminuir as ocupações indevidas e irregulares), diminuir a ocupação de áreas de várzea (diminui os alagamentos dos rios), arborizar as cidades (diminui as ilhas de calor). Vamos atuar para conter os alagamentos em territórios, cidades que alagam é necessário fazer contenções (eclusas, barreiras, acumuladores funcionais), fazer drenagem adequada de água, implantar emissários submarinos para bombear a água em excesso.
Ou seja, precisamos pensar e atuar para mudar as cidades para que todos e todas vivam melhor e sem sobressalto, como a Bíblia diz: “…para que todos vivam em abundância…”, sem desconsiderar que a natureza está nos mandando às calendas.
(*) Por Artur de Souza Moret, físico, doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos é pesquisador amazônico em Energia Renovável. Marxista, Ambientalista, Pacifista e anti Capitalista.