O grande fato político-televisivo da semana foi o não-depoimento do tenente-coronel Mauro Cid à CPMI do Congresso sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro. Cid tinha tentado evitar seu comparecimento, mas liminares do Supremo exigiram que se apresentasse, liberado, porém, de responder a qualquer pergunta que importasse em autoincriminação.
Cid obedeceu à ordem de comparecer, conduzido por uma escolta da Polícia do Exército que depois o levaria de volta à prisão, mas apareceu fardado – por determinação, segundo se informou, das próprias autoridades militares. Na CPMI, Cid não respondeu a nenhuma pergunta, fazendo uso por mais de 40 vezes do direito ao silêncio garantido pelo Supremo. Nem a questionamentos como sua idade ele respondeu.
A CPMI sabia antecipadamente do silêncio de Cid e se precaveu quebrando seu sigilo telemático, na certeza de que seus celulares podem dizer muito mais do que ele diria. E o dia não foi tempo perdido, porque a CPMI soube de algumas visitas que Cid recebeu na prisão, como, por exemplo, a do coronel Jean Lawand, o interlocutor que no whatsapp dirigiu-se a ele como o amigo do peito “Cidão” e pediu, “pelo amor de Deus”, que “convencesse” Bolsonaro. Convencesse Bolsonaro a que? A apoiar e estimular a multidão que invadia o Palácio do Planalto, o Supremo e o Congresso, imitando o Trump em outro janeiro, o da invasão do Capitólio nos Estados Unidos? Ou, como pretextaria Lawand, para dispersar a multidão e mandar todo mundo para casa?
Além de Lawand, com quem pode ter combinado linhas de defesa comum, Cid recebeu visitas ainda mais sugestivas, como a de Fábio Weingarten, ex-assessor e atual advogado e porta-voz de Bolsonaro, e a do general Júlio César Arruda, ex-Comandante do Exército, nomeado por Bolsonaro em dezembro, nos últimos dias de mandato, e demitido por Lula depois do 8 de janeiro.
A intenção do general pode ter sido a de fazer apenas uma visita de solidariedade ao companheiro de farda em desgraça, mas a de Weingarten não comporta a desculpa de ter sido apenas a tentativa de dar uma força moral ao ex-companheiro de trabalho na Presidência da República.
Essas e mais algumas das mais de oitenta visitas que Cid recebeu até agora podem ter servido para consolidar sua decisão de blindar Bolsonaro e assumir sozinho a culpa pelas acusações que pesam sobre os dois? A troco de nada? Ou, quando a direita radical voltar ao poder, a troco de um futuro indulto, como o de Daniel Silveira, e da reintegração de Cid na carreira militar com possibilidade de chegar ao generalato, ao Ministério da Defesa e à Presidência da República, no papel de herói e mártir de um movimento revolucionário? Ou ainda a troco de tudo isso e mais alguma coisa quando o Trump voltar ao poder nos Estados Unidos e acabar com essa brincadeira das esquerdas na América Latina?
Alguma esperança muito específica deve estar sendo oferecida a Mauro Cid, assim como a outros caídos bolsonaristas, caso de Daniel Silveira, do influencer Allan dos Santos, fugitivo nos Estados Unidos, e do George Washington brasileiro que ia explodir o aeroporto de Brasília. Mas ao lado de tudo isso pode estar implícita ou até explícita a ameaça de Bolsonaro abandonar Cid e até contar ou inventar, com sua falta de cerimônia com os fatos, coisas que comprometam Cid ainda mais.
O fato, porém, é que as imagens de Cid fardado e cercado por tantos paisanos deve ter passado para o antilulismo mais radical e irrefletido a impressão de um confronto ameaçador entre o poder civil e as instituições militares responsáveis pela ordem e pela lei – um confronto que pode levar o país ao comunismo.
Por mera coincidência ou infelicidade, no mesmo dia do não-depoimento de Mauro Cid, o Ministério da Educação anunciou o fim do programa das escolas cívico-militares com que Bolsonaro pretendia proteger a juventude brasileira contra a nefasta contaminação ideológica pelo professorado da escola comum, pública ou privada – essa gente comparada pelo filho 03, o Eduardo, aos traficantes de drogas.
Na mesma hora, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aproveitou para reaproximar-se do bolsonarismo, anunciando o projeto de manter e montar essas escolas cívico-militares em todo o Estado. Dois dias depois, anunciaram que vão fazer a mesma coisa treze governos estaduais – Rio, Minas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Amapá, Tocantins e Acre. Claramente um movimento organizado para reorganizar forças contra o governo Lula no momento em que este apresenta números auspiciosos em seu desempenho econômico e começa a desenvolver projetos sociais de grande impacto eleitoral, como o Minha Casa, Minha Vida, o Mais Médicos e o Desenrola.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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