O ano de 2024 consolidou-se como um período de significativas transformações no setor de energias renováveis e sustentáveis no Brasil. Os avanços tecnológicos, os incentivos regulatórios e o crescente interesse internacional colocaram o país em destaque na transição energética global. No entanto, os desafios estruturais e sociais ainda representam barreiras consideráveis à expansão desse setor.
Avanços em 2024
- Energia Solar e Eólica
A energia solar manteve seu crescimento exponencial, com um aumento de mais de 30% na capacidade instalada de geração distribuída em relação ao ano anterior. A expansão foi impulsionada por políticas de incentivo, como a isenção de ICMS em diversos estados e linhas de crédito subsidiadas.
A energia eólica também registrou avanços expressivos, especialmente nos estados do Nordeste, com o início de operação de novos complexos eólicos offshore. Esse segmento mostrou-se promissor, com investimentos estrangeiros e aumento da eficiência tecnológica das turbinas.
- Biometano e Combustíveis Verdes
O mercado de biometano ganhou relevância após a aprovação dos Certificados de Garantia de Origem do Biometano (CGOBs), fomentando a produção sustentável em aterros sanitários e indústrias agropecuárias. Paralelamente, avanços foram registrados em biocombustíveis de segunda geração e na implementação de plantas-piloto de hidrogênio verde em estados como Ceará e Rio de Janeiro.
- Políticas Públicas e Iniciativas Governamentais
O governo lançou o Plano Nacional para Cadeia Produtiva de Hidrogênio Verde, criando condições para atrair investimentos estrangeiros. Além disso, o projeto “1 Milhão de Tetos Solares Sustentáveis no Semiárido” foi lançado pela Articulação do Semiárido – ASA, como importante vetor gerador de impacto positivo na geração de renda e inclusão energética em comunidades rurais.
No âmbito internacional, o G20 destacou a importância da transição energética justa e sustentável, com o Brasil liderando debates sobre financiamento de energias renováveis e cooperação tecnológica entre os países em desenvolvimento. Essas discussões também foram fundamentais para a preparação da COP 30, onde o Brasil assumirá o papel de anfitrião, reafirmando seu compromisso com metas climáticas ambiciosas e soluções inovadoras para descarbonização.
No plano legislativo, diversos Projetos de Lei importantes foram aprovados, incluindo a Lei do Combustível do Futuro, que regula a produção de biocombustíveis e promove o uso do biometano e do hidrogênio verde. O mercado de carbono foi regulamentado, criando um sistema robusto de comercialização de créditos de carbono e atraindo investimentos em projetos de sustentabilidade. O Programa de Apoio à Transição Energética Nacional (PATEN) foi instituído para financiar inovações tecnológicas, enquanto um marco regulatório para eólicas offshore abriu caminho para maior competitividade nesse setor.
Limites Encontrados
- Infraestrutura Deficitária
A infraestrutura de transmissão não acompanhou o ritmo de expansão da geração de energia renovável. No Nordeste, a intermitência na transmissão de energia eólica e solar levou a perdas econômicas significativas, muitas vezes associadas ao curtailment off, que consiste na redução forçada da geração de energia devido a limitações da rede.
- Financiamento e Acessibilidade
Apesar de avanços, o alto custo inicial de sistemas de geração distribuída continua a excluir parte significativa da população, especialmente em regiões periféricas e rurais.
- Regulação e Burocracia
As incertezas regulatórias, principalmente no setor de hidrogênio verde, criaram barreiras para a entrada de novos players no mercado.
Desafios para o Futuro
- Integração e Modernização da Infraestrutura
É crucial investir na modernização da rede de transmissão e na digitalização do sistema elétrico para garantir maior eficiência e redução de perdas. No caso específico do Nordeste, medidas para superar o curtailment off incluem:
Expansão da Capacidade de Transmissão: Investir em linhas de transmissão de alta capacidade para conectar as regiões produtoras às principais redes de consumo.
Soluções de Armazenamento de Energia: Implementar sistemas de armazenamento, como baterias de grande escala, para absorver excedentes de energia durante os períodos de baixa demanda.
Integração de Mercados: Estimular a integração com mercados internacionais, permitindo a exportação de excedentes energéticos.
- Ampliação do Financiamento Sustentável
Novas modalidades de financiamento, como parcerias público-privadas e órgãos internacionais, precisam ser estruturadas para democratizar o acesso à energia limpa.
- Capacitação e Inclusão Social
Investir em programas de capacitação técnica e na inclusão de comunidades vulneráveis no mercado de trabalho é essencial para uma transição energética justa.
Conclusão
O Brasil encerra 2024 com avanços importantes, mas o caminho é longo para que as energias renováveis e sustentáveis alcancem seu pleno potencial. Superar os desafios estruturais, garantir regulações claras e promover a inclusão serão fatores determinantes para consolidar o país como líder global na transição energética.