Nos “Caminhos da boa mesa” pela capital do Rio Grande do Sul não tem como não
falar do “Bar Chopp Tuim”, nome emplacado desde 1941. Atendendo de segunda a sexta, das
11h às 21h.
A Revista Veja em 2018 o classificou como “o melhor e mais tradicional boteco de
Porto Alegre”.
Nada como sentar à mesa ali na subida da Ladeira e falar com o atual proprietário,
André Ervalho, sempre disposto a falar com os clientes e com quem quiser saber algo a mais
da longevidade deste tal de TUIM. O nome seria uma referência ao nosso pequeno periquito
“tuim” ou porque os clientes como o “tuim” só tomavam a verdadeira seiva (o bom chope) e o
ele que só toma água das plantas. Se não for isso exatamente, a história em si já é boa.
A data da sua fundação é tida como certa desde 1941, na Rua Uruguai, no Centro
Histórico da capital, num prédio que não existe mais, mas há fotos antigas do local ostentando
o nome “Tuim”. Começou com um ucraniano, Zenon. Mais uma certeza da multiplicidade
étnica de Porto Alegre.
De 1958 em diante quem tocou o espaço foi um filho de criação do avô do André, José
Pedreira. Em 1994 foi o pai do atual dono, seu Manuel que o chamou para ajudar e tocar o
negócio dos petiscos e do chope.
Da Uruguai o Tuim vem para a Ladeira, Rua General Câmara, 333, num minúsculo
espaço, com poucas mesas, seguindo com seus petiscos e o chope bem tirado.
Hoje, há um espaço externo com um “parlet” estendido, deck, para a glória dos
clientes e da cidade. Muitas vezes grupos de pessoas ficam ali de pé bebendo em seu entorno.
É um lugar de encontros. Há aqueles que todas as semanas em algum dia ou momento
juntam os amigos. É muito eclético, o público vai do cidadão comum ao governador. Os
últimos governadores, incluindo a governadora Yeda, “bateram ponto ali”. Olívio Dutra é o
mais frequente, “alugado” pelos clientes para fotos, para uma charla (papo) e uma declamação
de um poema gauchesco, na que é mestre.
Eram frequentadores, entre tantos jornalistas conhecidos, Paulo Santana, com aquele
humor e manias que sabemos, o David Coimbra, este – como faz questão de enfatizar o André –
com muita simpatia, falando com todo mundo. André lembra que mesmo depois de seu longo
tratamento de saúde fora do país voltou ao Tuim para um chope bem tirado.
Lupicínio Rodrigues era outro que costumava bater ponto no Tuim, tendo a lenda que
“dor de cotovelo” teria sido composta por ali, pois ficava pensando, bebericando com os
cotovelos na mesa e talvez pelo “incômodo” do tempo denunciasse uma “dor”, e nosso grande
compositor ligou com a história dos desiludidos (dor de cotovelo). Mais uma vez se não foi
bem assim, a história é boa.
Como dissemos o público é diverso, com tribos político-partidárias, com muitos
debates, mas sem quaisquer broncas. Eu mesmo já estive ali à mesa com políticos e se a foto
circulasse as pessoas não iriam acreditar.
Tão eclético que passaram ali o Miguel KGB, a Terezinha Morango, a Nega Diaba, entre
outros personagens marcantes da cena local.
A fama do bom chope está na rotatividade dos barris que não podem durar mais de 48
horas para manter a sua qualidade.
Por sinal, é chope e ponto final. Não tem cervejas. É Brahma, e agora o Petra escuro
(meu preferido).
Antes eram apenas o bolinho de bacalhau e as almôndegas aceboladas (minhas
preferidas). Elas vêm com um pãozinho para aproveitar o suculento molho. Sempre tem uma
boa pimenta, só pedir.
Agregou-se a estas maravilhas o bauru no velho e bom estilo dos primórdios do
Trianon, pois seu Manuel tocava este empreendimento com o irmão. Por sinal, este continua
com os primos do André.
Nos anos 90 começam a servir comida a pedidos implorados pelos clientes e agora tem
dias que, com mais espaço, se serve, por exemplo, às terças: massa com carne de panela, e nas
6as: costela na panela. Mas garanto que se pedir um carreteiro vai gostar também.
Em 2023, o Tuim disputou e venceu o certame do Comida di Buteco com o seu
Bacalhau Atolado, um bacalhau defumado com legumes, creme de aipim, farofa com bacon e
páprica picante.
Tem uma história digna de nota, ainda nos tempos das poucas mesas, chega uma
pessoa e pede uma cachaça com mel, seu Manuel fala que na hora do almoço não dava para
servir, e ele sem rodeios pegou sua marmita e reforçou o pedido. Levou o trago de graça.
Outra história é a longevidade dos garçons e pessoal da cozinha. Uma das cozinheiras
ficou mais de três décadas na casa.
Tudo isto só pode acontecer num local em que não se oferece sinal de wi-fi. É local de
papo, de conversa, de convivência. Por sinal, algo faltante nos quadrantes das cidades.
Nosso leitor também não achará muita coisa nas suas redes sociais, pois seu público e
fama são feitos pela fiel clientela que leva amigos e conhecidos para apreciar o que tem de
bom na casa.
Fora do Tuim, o André e sua esposa fazem muita outra arte na cozinha e trilham seus
outros “caminhos da boa mesa” com suas paellas e sardinhas assadas para grandes grupos.
Porto Alegre tem algumas marcas longevas, uma delas é o Tuim.
(*) Por ADELI SELL, professor, escritor e bacharel em Direito.