Os bloqueios internacionais, frequentemente impostos por superpotências, são uma forma contemporânea de cerco econômico e político. Seu objetivo principal é pressionar governos de países considerados inimigos, mas suas consequências recaem principalmente sobre a população civil, que enfrenta a escassez de alimentos, medicamentos e insumos essenciais. A lógica por trás dessa estratégia é simples: criar miséria e desolação para estimular revoltas internas, enfraquecendo governos e forçando a submissão ao controle externo.
O caso de Cuba é emblemático. Desde 1962 o país sofre um bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos que restringe suas relações comerciais e financeiras com o mundo. A Assembleia Geral da ONU, desde 1992 tem reiteradamente votado pelo fim desse bloqueio, reconhecendo seus impactos devastadores sobre o povo cubano. No entanto, o poder de veto no Conselho de Segurança—um mecanismo que concentra decisões em poucas nações—impede a implementação dessas resoluções. Esse cenário evidencia como uma minoria de países pode contrariar a vontade da maioria da comunidade internacional, perpetuando um cerco desumano.
Longe de atingir seus objetivos declarados, os bloqueios frequentemente fortalecem a coesão interna dos países afetados. Governos sob sanções utilizam a pressão externa para construir narrativas de resistência e soberania, mobilizando apoio popular. Em vez de ceder, as populações tendem a se unir em torno de seus líderes, transformando o bloqueio em um símbolo de autonomia e autodeterminação. A resistência dos povos e governos sob cerco demonstra que essa estratégia é contraproducente, reforçando discursos nacionalistas e unindo as nações contra interferências externas.
Essa dinâmica não se restringe a Cuba. Venezuela, Irã e Coreia do Norte também enfrentam sanções unilaterais e, apesar das dificuldades, desenvolveram mecanismos de adaptação—embora a um custo humanitário elevado. Isso demonstra a ineficácia dos bloqueios como ferramenta de mudança política e sua natureza essencialmente punitiva contra civis.
Diante desse cenário, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) podem desempenhar um papel fundamental na construção de uma alternativa global. Como bloco emergente que desafia a hegemonia das potências tradicionais, os BRICS têm a oportunidade de liderar uma aliança em defesa da multipolaridade e do respeito às decisões da Assembleia Geral da ONU.
Uma iniciativa concreta seria a criação de uma zona de livre comércio entre os países do bloco, com foco em setores estratégicos como saúde e alimentação. Essa medida permitiria:
- Garantir o acesso a medicamentos e insumos médicos – Países sob bloqueio, como Cuba, poderiam importar vacinas, equipamentos e remédios essenciais, reduzindo o impacto humanitário das sanções.
- Fortalecer a segurança alimentar – A exportação de alimentos entre os membros dos BRICS ajudaria a combater a fome e a desnutrição em nações afetadas.
- Promover a multipolaridade – Ao desafiar os bloqueios unilaterais, os BRICS fortaleceriam a autonomia dos países em desenvolvimento e reduziriam sua dependência de superpotências hegemônicas.
A comunidade internacional, liderada por blocos como os BRICS, deve trabalhar para romper com esses bloqueios, promovendo cooperação e solidariedade que priorizem a dignidade humana e o respeito à autodeterminação dos povos. A criação de uma zona de livre comércio focada em saúde e alimentação representaria um avanço concreto nesse sentido.
Além disso, é essencial fortalecer o papel da Assembleia Geral da ONU como expressão da vontade global e reformar o poder de veto no Conselho de Segurança—um resquício de uma ordem mundial ultrapassada—para que a governança internacional reflita as necessidades e aspirações de todos os povos. Somente por meio do diálogo, da cooperação e do respeito mútuo será possível construir uma ordem internacional mais justa e equilibrada.
(*) Ronald Pinto é indígena Kaingáng e militante pelos Direitos dos Povos Indígenas
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