Quinta-feira Vermelha, é assim que está sendo chamada a chacina da favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. Já são 28 mortos em condições de extrema violência. A situação, que se repete há muitos anos, parece não ter fim enquanto as políticas de segurança pública não levarem em conta a extrema pobreza, o desemprego, a falta de educação, o racismo estrutural e a total ausência do Estado.
A propósito dessa chacina de Jacarezinho, a maior em termos numéricos desde 2007, o antropólogo Luiz Eduardo Soares, autor do livro Desmilitarizar, segurança pública e direitos humanos, fez o seguinte comentário:
“Palavras se tornaram vazias ante o duplo genocídio, promovido pela pandemia, turbinada pela estupidez política que se alia à morte, e pelas ações brutais das polícias civis e militares, que se repetem há décadas contra negros e pobres, nas favelas e periferias. Essas operações abrem espaço para as milícias.”
Segundo Soares, “ante a impotência das palavras, restam duas sentenças sintéticas:
– Casa de vidro, voto de papel, coração de pedra, mãos sujas de sangue, esse o governo BolsoCastro do Rio, que chama execução de segurança.
– Vacina não faz ninguém virar jacaré, mas governo fascista faz do Jacarezinho ensaio geral para a barbárie nacional.”
CDDH na Alerj
A deputada estadual do PSOL, Dani Monteiro, presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) está trabalhando para que as investigações apontem o quanto antes os responsáveis pela tragédia.
Uma das funções do Ministério Público é o controle externo da atividade policial. Apesar disso, o MP do Rio extinguiu, no início de 2021, o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (GAESP), criado em 2015. Cabe agora à Procuradoria Geral de Justiça indicar qual órgão interno será responsável pela apuração das responsabilidades civis e penais das denúncias de violações de direitos, caso explícito da chacina do Jacarezinho.