O presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) troca seis ministros de uma vez, incluindo aí o da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o que revela desgastes das relações do seu governo com as Forças Armadas
As trocas revelam também que o Centrão começou a ingressar, de uma vez, dentro do governo a ponto de colocar, na Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF).
As trocas também indicam a presença do ex-deputado Valdemar Costa Neto que, apesar de longe dos holofotes, está bem perto do poder. Além de assumir, sem alarde, a presidência do PL, ele vem liderando a aproximação do partido e do Centrão com Bolsonaro. Antes de colocar Flávia Arruda dentro do palácio, ele emplacou nomes de seu interesse na presidência do Banco do Nordeste e na diretoria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Em entrevista ao site Sputnik Brasil, o cientista político e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Danilo Bragança, vê na nova configuração e na troca de seis ministros uma deterioração do governo Jair Bolsonaro (ex-PSL).
Em nota oficial, Azevedo e Silva anunciou que sai com “certeza da missão cumprida”, afirmando que preservou “as Forças Armadas como instituições do Estado”.
Numa primeira análise, o cientista entrevistado pela Sputnik também aponta para o fato de que todas as movimentações do governo indicam mudanças muito fortes no jogo de forças da política brasileira.
De acordo com ele, a mudança de ministros que agitou a vida política do País, nesta segunda-feira (29), sugere também que o País está ingressando no limite da governabilidade de Bolsonaro e das relações do bolsonarismo com outras instituições e poderes.
“O Legislativo que forçou a saída de Ernesto Araújo, o Judiciário que tem reprovado ou negado demandas que são absolutamente absurdas por parte do governo Bolsonaro, e parece que há um elemento a mais nesse processo tudo ainda a se confirmar, que é a resistência das Forças Armadas”, observou.
De acordo com Danilo Bragança, a chegada do centrão, a partir dos acordos que levaram Arthur Lira e Rodrigo Pacheco à presidência da Câmara e do Senado, respectivamente, acabou virando um obstáculo para o governo Bolsonaro.
“Se imaginava no começo um governo formado por uma base evangélica muito forte, uma base de policiais militares e as Forças Armadas […] Essa base aos poucos ficou sendo formada somente pelas Forças Armadas, tendo à frente de ministérios-chave como Defesa, da Saúde, da Infraestrutura, entre outros, militares da ativa ou da reserva”, declarou.
O especialista argumentou que a saída de Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde já havia indicado um certo desgaste, porque “embora Pazuello tenha sido um ministro catastrófico para o nosso país, no geral ele tinha algum respaldo das Forças Armadas”.
“A saída do Pazuello representou um processo de deterioração também das relações entre as Forças Armadas e Bolsonaro, entre esse partido militar propriamente dito que está no governo e as Forças Armadas enquanto instituição. Esta relação foi ruindo”, afirmou.
O especialista avaliou que as mudanças ministeriais desta segunda-feira (29) revelam um processo de deterioração das relações do governo com as Forças Armadas, ao mesmo tempo que há um processo de “acomodação” das relações entre o governo, o Executivo e o Legislativo, sobretudo com o Senado, que atacou duramente o Ernesto Araújo no Ministério das Relações Exteriores.
“É um momento de ruído de comunicação, de desentendimento, de desinteligência entre o Executivo federal, o partido militar que está no governo, e as Forças Armadas, que tem o general Fernando Azevedo e Silva como um dos mais antigos dentro do governo”, completou.
O ex-ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, estava à frente do Ministério da Defesa desde o início do governo de Jair Bolsonaro.
Reproduzido do site Sputnik Brasil com edição e acréscimos do Jornal Brasil Popular