O golpe de Bolsonaro depende apenas dele conseguir botar o pronome possessivo “meu” na frente do Exército. Por isso concordo com Boulos, quando disse que “se Pazuello não for punido Bolsonaro dará o golpe”.
O golpe assumiria a forma da desmoralização do CPI do genocídio, do STF e do comando do Exército, tornando a instituição militar submissa a Bolsonaro.
Conseguido isso, Bolsonaro faria a intervenção nos estados para suspender as medidas contra a pandemia e então o golpe fascista em defesa da covid-19 e contra a vacina se consumaria. A partir de então o seu objetivo seria impor mudanças nas regras eleitorais de 2022 para garantir a reeleição de Bolsonaro.
Apesar das respostas democráticas não serem ainda suficientes para deter as ameaças fascistas de Bolsonaro, que reage de forma desesperada, ignorando qualquer limite ético, político e constitucional, mas continua não tendo o apoio integral das Forças Armadas para a sua aventura golpista.
O golpe seria uma aventura porque o avanço descontrolado da pandemia e o fracasso econômico não lhes garantiria o consenso da burguesia nem o apoio americano, como ocorreu com o golpe do impeachment.
Além disso, a forma como se daria, um processo político gradual e não uma ação militar decisiva, como em 64 ou uma votação conclusiva, como no impeachment contra Dilma, permitiria a qualquer momento a sua interrupção pela reação democrática institucional com apoio majoritário da sociedade e das forças internacionais.
Mas conclusão óbvia é que a marcha de alta cilindrada golpista de Bolsonaro ainda não foi interrompida e portanto a ameaça fascista está na ordem do dia.
Qual um personagem a procura de um autor, como na peça do dramaturgo italiano Pirandello, Bolsonaro é um projeto de ditador a procura de um golpe.
Val Carvalho – escritor e militante de esquerda.