Nada como um dia após o outro. Os atos dos apoiadores do presidente da República deste 7 de setembro podem ter parecido uma bem sucedida manifestação de força de quem dá as cartas no país, mas essa impressão não se confirmou no dia seguinte. Esse atos tiveram um resultado insuficiente para reverter a queda de popularidade do “capitão” e não conseguiram intimidar os outros poderes republicanos, a imprensa e a sociedade. Verdade seja dita: o presidente-capitão tentou, mas apenas conseguiu um quadro mais complicado do que o dos dias anteriores.
Prometeu 3 milhões de pessoas em Brasília (exagero, mas é a referência que ele próprio fixou) e reuniu menos de 150 mil (5%). Teve menos gente em São Paulo (125 mil em uma megalópole de 10 milhões de pessoas). Ou seja, a minoria não conseguiu se mostrar maior nas ruas. O objetivo dele não foi alcançado, desta vez.
Pior para o ‘capitão’: a afronta explícita à democracia lhe trouxe mais problemas do que soluções, no imediato. O impeachment volta à tona, o Congresso desacelera a tramitação de projetos do poder executivo, o clima com o Judiciário piorou, a minoria de seguidores ficou mais isolada, entre outros problemas.
Contudo, o ‘capitão’ mostrou força, mesmo que aquém do que ele queria. O nosso alívio é real, mas relativo. São bem possíveis outras tentativas “golpistas”.
E quanto às forças democráticas? Há problemas sérios. Aponto alguns deles:
* a maioria é apática;
* os partidos “democraticos” nao conseguem mobilizar (a rua é mais dos bolsonaristas do que dos opositores, até aqui);
* o vice Mourão não promete nada de substancialmente melhor do que o capitão reformado;
* a proposta de desregulamentação selvagem e do Estado Mínimo parece hegemonica na sociedade;
* mesmo que o bolsonarismo seja derrotado nas próximas eleições, será difícil desalojar os militares do governo (estão em todo lugar e não querem largar o osso)…
Haja desafios!
Na lógica de um passo de cada vez, na terça-feira da independência o quadro não piorou para as forças democráticas. É suficiente?
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E O PAIS REAL?
Foi um 7 de setembro em que os verdadeiros problemas do pais ficaram silenciados: a crise sanitária, a crise econômica, a crise da falta de água e energia elétrica, o ataque à Amazônia, o desmonte do Estado…
É clara a luta do poder pelo poder por parte de um presidente incapaz de dar respostas ao país.
(*) Luciano Fazio é matemático pela Università dgli Studi de Milão/Itália e especialista em previdência pela FGV, trabalha com consultoria e formação na área previdenciária.
Brasília-DF, 8 de setembro de 2021