Para infectologista, ‘regiões com maior densidade populacional sofrem por conta do descarte inadequado de lixo e acúmulo de água parada; já áreas rurais enfrentam desafios logísticos’
O Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, segue como um dos grandes desafios de saúde pública no Brasil. Apesar de décadas de esforços, a combinação de fatores climáticos, culturais e estruturais ainda favorece a proliferação do inseto, impactando diferentes regiões de maneiras distintas.
Enquanto estados como São Paulo investem em tecnologias avançadas, como drones e armadilhas inteligentes, outras regiões, como o Norte e Nordeste, enfrentam barreiras logísticas e estruturais que dificultam a eficácia das campanhas de combate.
Segundo Matheus Todt Aragão, professor adjunto de Infectologia da Universidade Tiradentes (Unit), a solução para o problema requer uma combinação de ciência, tecnologia, educação comunitária e políticas públicas coordenadas.
O Brasil tem implementado abordagens inovadoras no combate ao Aedes aegypti. Projetos com mosquitos geneticamente modificados e bactérias Wolbachia, que impedem a transmissão de doenças, já mostram resultados promissores em diversas cidades. Além disso, ferramentas como drones, aplicativos de monitoramento comunitário e plataformas digitais têm ampliado a eficácia das ações de controle.
As universidades desempenham um papel central nesse esforço. Instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) lideram pesquisas genéticas, enquanto a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) investiga o uso de plantas nativas como repelentes naturais.
“No Nordeste, a Universidade Tiradentes (Unit) se destaca pela aplicação de biotecnologia e educação comunitária, promovendo modelos replicáveis que integram ciência e engajamento social” acrescenta Aragão.
Ainda assim, o Brasil enfrenta obstáculos consideráveis. Regiões com maior densidade populacional, como o Sudeste, sofrem com a proliferação do mosquito em locais de descarte inadequado de lixo e acúmulo de água parada. Já áreas rurais enfrentam desafios logísticos que limitam a eficácia das campanhas de conscientização e controle.
Casos recentes, como a primeira morte por dengue em Sorocaba em 2025, reforçam a urgência de intensificar ações preventivas.
“O combate ao mosquito exige mais do que iniciativas isoladas; é preciso um esforço coordenado que combine educação, tecnologia e políticas públicas”, afirma Aragão.
O cenário também apresenta oportunidades. Investimentos em tecnologias de monitoramento, iniciativas comunitárias e a expansão de redes de vigilância epidemiológica podem transformar a realidade do combate ao Aedes aegypti no Brasil. A integração entre ciência e participação popular tem se mostrado uma ferramenta eficaz na busca por soluções sustentáveis.
O painel de monitoramento do Ministério da Saúde contabilizou onte, 21 mortes por dengue no país em 2025, dois terços das quais no Estado de São Paulo, onde a secretaria estadual realiza campanha pela vacinação de públicos vulneráveis. A imunização tem tido baixa procura do público preferencial, composto por jovens de 10 a 14 anos.
O acompanhamento mostra pouco mais de 139 mil casos prováveis de dengue registrados no país, sendo 82 mil em território paulista. São investigadas 160 mortes com suspeita de dengue, 114 em São Paulo. Monitoramento da Secretaria de Saúde do estado registra apenas 7 óbitos dentre 81.950 casos prováveis, enquanto 121 casos estão em investigação.
O governo do estado registra ainda que 37 municípios estão em situação de Emergência em razão da epidemia, estando Jacareí e Mira Estrela, ambos no interior paulista, em Emergência desde janeiro de 2024.