Mira Alves, a poeta que partiu nesta nublada terça-feira, foi versar no jardim do céu, tecer poesia nas nuvens, como o pássaro livre que a habitava. Dessa mulher-borboleta ficou a saudade das prosas versando versos no Beirute Sul. Brasília chora você, Mira, a poeta que fez do abacateiro o manto sagrado do alimento no bosque da Asa Sul. Sim, era assim que Mira gostava de ser chamada, a mulher do Cerrado-Brasília. A nossa poeta das madrugadas, insultava o dito normal. Era mulher-poesia que fez sua vida de versos paridos na Asa Sul. O bosque de árvores e bares era a grande inspiração de Mira em sua criação poética.
Dedicou-se exclusivamente à poesia e às suas pinturas devastadoras, expressas em figuras geométricas, envoltas em mistério que só ela, apenas ela, sabia o seu significado. Mira envolvia as páginas de seus livros ao lado de suas poesias. Ler Mira Alves é descobrir Brasília e sua arquitetura única, como ela, a poeta corajosa, andarilha dos bares, onde vendia de mesa em mesa os seus livros. Essa feiticeira de gente, andava de quadra em quadra e, destemida na sua coragem, vencia o medo tomando cerveja na mesa do bar onde passava, enfrentava a pé a labuta em viver de poesia. Parte foi embora com Mira, como um pedaço do Ipê Amarelo que em paz levava a poeta a respirar o Cerrado.
Hoje, a notícia de sua partida trouxe a noite com o frio entrando pela janela. Não teremos mais prosa sentadas no banco da praça do Cine Brasília, não teremos quibe no papo bom na mesa do Beirute Sul, não teremos bolo e café aqui em casa na mesa da sala. Restou de você, a saudade e lágrimas. Mira Alves, a poeta do Cerrado, dos bares, a editora dos seus livros, a minha amiga amada, a minha irmã da poesia não volta mais…. E o nosso livro desenhado para lançarmos a quatro mãos, exílio na dor, chora a saudade! Vá em paz, minha amiga-poesia!
(*) Por Elisa Carneiro, poeta.