O vocalista da banda Coisa Nossa lutava contra um câncer de próstata com metástase nos ossos desde 2018. Artistas, fãs e personalidades políticas lamentam morte de um dos maiores sambistas do Distrito Federal
O cantor brasiliense Marcelo Sena foi velado, nesta terça-feira (31/1), no Cemitério Campo da Esperança, em clima de comoção e homenagens. Pioneiro do samba e pagode brasiliense, Sena teve uma despedida embalada por uma roda improvisada comandada pelos músicos do grupo do qual ele era o vocalista, o Coisa Nossa, que Sena também ajudou a fundar há mais de 40 anos e que o acompanhou durante toda a carreira.
O cantor morreu no domingo (29/1), aos 58 anos, em decorrência de câncer de próstata, com metástase nos ossos. O agravamento no quadro de saúde do cantor resultou em internação, no fim de 2022, e necessidade de transfusão de sangue. Em entrevista ao Correio Braziliense, em 2020, o artista contou das ações de voluntariado, numa rede de doações. “Criei o Instituto de Holística do Amor, junto à minha esposa (Nívea). A intenção é passar todo o conhecimento que adquirimos nesse percurso e ajudar as pessoas a manter a imunidade e a autoestima lá em cima”, disse.
Uma matéria do Correio desta que, segundo contou, o crescimento dele na música se deu numa época em que a capital exalava romantismo e harmonia, numa cidade “pura”. “Fomos, despretensiosamente, conquistando espaço na capital do rock, justo naquela época (de fins dos anos de 1970)”. As músicas autorais brotaram antes mesmo do circuito de apresentações em bares e botequins na W3 Sul. Ainda “menor de idade”, o vocalista se apresentou no Festival Fico (do Colégio Objetivo), numa expressão de samba que prenunciava a passagem pela percussão da Acadêmicos da Asa Norte, ainda jovem; o desfilar na escola de samba Turma do Barril e o reconhecimento com a projeção alcançada em posterior (e fundamental) projeto na Aruc. Confira o restante da matéria na íntegra a seguir:
“Brasília, para mim, é minha. Sinto como se a minha casa fosse a Vila Planalto e o DF todo fosse o meu quintal”, comentou, certa vez, em entrevista. Marcelo Sena via o samba e “os seus dissidentes” como a raiz da música popular brasileira. Ainda que celebrasse melhoras no quadro de saúde, Sena demonstrava cautela: “Me renovei no âmbito espiritual, físico, alimentar. Me sinto em remissão, não que estou curado”. No encontro com adversidades, durante a pandemia, Marcelo comemorou a integração em lives, algumas com mais de 40 mil visualizações.
Perda
“É uma perda imensa: Marcelo foi a referência mais importante para o povo do samba na capital, sobretudo, para cantores e cantoras”, observou a sambista Cris Pereira. Ela, aos 42 anos, lembra que, junto a saídas noturnas com seus pais, nutriu a enorme admiração, repassada por gerações, fosse em apresentações pela Asbac, ou mesmo em participações vistas no Samba Choro do Calaf. Para além do projeto do ano passado O Samba tá aí, um tributo ao sambista Júnior do Cavaco, com circulação por praças do DF em que vibrou com Sena, Cris Pereira, mãe de Poema, 13 anos, e Flora, sete, se viu num crescente envolvida pela vibrante presença do amigo, figura importante no tratamento oncológico da filha dela, Flora. “Marcelo foi um guerreiro que lutou muito. Fica a saudade e a certeza de ter conhecido um guerreiro que dividiu a luta. Inesquecível a voz deste sambista que trazia características dele: força, presença e beleza”, destacou.
Com 25 anos de amizade junto a Sena, o músico Valerinho Xavier desabafa: “Ele era praticamente um irmão. Aprendi muito com ele”. Entre projetos inconclusos, a produção de um DVD esteve muito próxima de se concretizar, mas foi protelada diante do quadro de saúde do cantor de De tanto sofrer.
Atuante no Coisa Nossa, entre 2008 e 2015, Valerinho enfatiza a marca de Sena não trocar Brasília por nada. Sempre atento à família que manteve na cidade, Sena resistiu aos inúmeros convites para seguir ambições de carreira no Rio de Janeiro. “Marcelo era a maior referência para os sambistas da cidade. Assisti a shows dele na Aruc e lembro ainda que ele foi o primeiro professor de pandeiro da Escola de Choro. Vai fazer muita falta — o Marcelo tinha um coração muito bom”, conclui.
A cantora Adriana Samartini, que costumava dividir palco com o amigo, disse estar arrasada. “Marcelo é um ícone, uma perda irreparável especialmente para Brasília, uma voz única, inconfundível e uma pessoa que dedicou a vida para compartilhar alegria e positividade. Ele reunia muita gente boa em volta dele”, lamentou, em conversa com o Correio.
Pelas redes sociais, o ex-deputado distrital e atual presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, prestou solidariedade aos amigos e familiares de um dos grandes sambistas de nossa cidade. “Depois de muita luta, partiu neste domingo. Só temos a agradecer por tantas alegrias e bons momentos que ele proporcionou ao povo da capital do país”, comentou, em seu perfil.
Marivaldo Pereira, secretário de Acesso à Justiça, do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), também comentou: “Hoje perdemos um grande sambista aqui de Brasília, querido Marcelo Sena. Ele enfrentava uma batalha contra o câncer, lutou muito e agora descansa. Um abraço apertado e toda a nossa solidariedade aos familiares e amigos, que as lembranças sejam conforto nesse momento tão difícil.”
Com informações do Correio Braziliense
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