O “breque dos apps”, como a greve dos entregadores de aplicativos deste sábado (25) é chamada pelos organizadores, está ocupando as redes sociais para pedir a população que participe do movimento, em todo o Brasil, de forma indireta, ou seja, deixando de fazer pedidos em plataformas como Rappi, Loggi, Ifood e Uber Eats. A hashtag #brequedosapps foi um dos assuntos mais comentados no Twitter, nesta sexta-feira (24) e ganhou apoio de personalidades e líderes políticos.
O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da Saúde no governo Dilma, foi um dos parlamentares que convocou a sociedade a não fazer pedidos pelos aplicativos. Em seu perfil no Twitter, Padilha disse: “Amanhã teremos mais um breque dos apps, pessoal! Não peçam serviços em apoio às trabalhadoras e trabalhadores de aplicativo!”.
E o trabalho na bancada de oposição não se limita as redes sociais. No Congresso Nacional já foram apresentados mais de 60 projetos de lei que propõem uma regulamentação do trabalho da categoria, precarizado pela falta de respeito das empresas de aplicativos com os entregadores.
A segunda greve de 24 horas dos entregadores de aplicativos por melhores condições de trabalho e renda, tem, mais uma vez, apoio da CUT, demais centrais sindicais, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística da CUT (CNTTL-CUT), que lutam pelos direitos de toda a classe trabalhadora, de parlamentares da bancada de oposição e de parte da sociedade brasileira. A paralisação do dia 1° de julho ajudou a chamar a atenção dos brasileiros para as péssimas condições de trabalho da categoria.
A categoria reclama da baixa remuneração por quilometragem rodada, das jornadas extenuantes – muitos chegam a trabalhar até 18 horas por dia por causa do sistema de ranking e pontuação que obriga os trabalhadores a fazer a jornada que o aplicativo impõe e reivindica também o fim dos bloqueios injustos de entregadores, seguros de vida e contra roubo e furto, base de apoio para descanso, alimentação e fim da pontuação e ranking, sistema que obriga os trabalhadores a fazer a jornada que o aplicativo impõe.
Apoios
Em nota a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística da CUT (CNTTL), em conjunto com a Federação Nacional dos Trabalhadores Motociclistas Profissionais Autônomos (Fenamoto), declarou apoio ao movimento dos entregadores de aplicativos.
Eduardo Guterra, presidente da CNTTE afirma que “apoiar esses trabalhadores e trabalhadoras é uma questão de classe. E acabar com a exploração promovida pelas empresas Rappi, Ifood, Loggi, Uber Eats é dever do movimento sindical”
As entidades informam ainda que estão “construindo junto com as centrais sindicais uma pauta de revindicações unificada que em breve será entregue ao Congresso Nacional e às empresas de plataforma digital”.
A CUT e demais centrais sindicais também divulgaram nota de apoio à paralisação. “Ao se utilizarem das greves como a principal arma para conquistar direitos, os operários conseguiram dar os primeiros passos na luta pela emancipação de toda a classe operária. Isso foi lá na Inglaterra, durante a primeira Revolução Industrial, quando foram criados os primeiros sindicatos. Agora, estamos na quarta Revolução Industrial, a 4.0.”, diz trecho da nota.
Confira como vai ser a greve em todo o Brasil
Diógenes Silva de Souza, um dos organizadores em São Paulo, contou ao portalCUT que a paralisação deste sábado terá como característica principal a parada total dos trabalhadores, que ‘desligarão os plicativos’ para não receber pedidos. De acordo com ele, os entregadores, em sua maioria, ficarão parados nos pontos de coleta como restaurantes, shoppings e outros estabelecimentos conveniados.
“Talvez, para a mídia e para o público, a paralisação em São Paulo pareça diferente, pareça menor. O visual não vai ser tanto, mas a paralisação será mais efetiva”, ele diz.
No Rio de Janeiro, além de desligar os aplicativos, os entregadores farão uma concentração na Candelária, a partir das 8h30 da manhã, seguida de uma carreata da Zona Sul do Rio até Niterói.
Ralf Alexandre Campos, trabalhador da categoria e apoiador do movimento participa da organização junto com outros colegas. Ele afirma que a intenção é mobilizar também sociedade. “Pretendemos terminar a carreata por volta das 18h30 para ‘brecar a janta’, para que não tenha pedidos nesse horário, que é de pico”.
Ralf conta que o movimento no estado conseguiu apoios para a confecção de panfletos e adesivos, carro de som e alimentação para os trabalhadores durante o movimento.
“A gente tem também uma campanha forte das redes sociais, com a hashtag #brequedosapps pela qual a gente pede para que toda a população não faça pedidos neste sábado”, ele complementa.
Em Fortaleza, no Ceará, entregadores de aplicativos aderem a greve de 24 horas e farão manifestação com concentração na Praça da Flores, no Bairro Dionísio Torres, a partir das 9h, depois, os trabalhadores e trabalhadoras vão percorrer as principais avenidas da capital cearense.
De acordo com o motoboy Edvan Souza, que chega a trabalhar até 15 horas por dia, sem intervalos e sem nenhuma estrutura, o “Breque dos Apps” deste sábado tem como objetivo pressionar as empresas de entrega que, apesar da grande repercussão dos atos ocorridos em 1º de julho, continuam sem atender as demandas da categoria.
“As empresas não nos deram uma resposta satisfatória ou positiva. A exploração continua. Não mudou nada. O valor mínimo por km continua custando apenas R$ 0,99”.
“A nossa voz precisa ser ouvida”, prossegue Edvan, “somos força de trabalho e merecemos ser vistos com seriedade. Por isso voltaremos às ruas neste sábado e quantas vezes forem necessárias para garantirmos o respeito que merecemos”.
O Ceará ocupa a quinta posição entre as maiores taxas de informalidade do Brasil e na terceira do Nordeste. 53,8% não tinham carteira assinada no primeiro trimestre de 2020, segundo dados da Pesquisa Nacional por Mostra de Domicílios Contínua (Pnad-C), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em maio.
No Maranhão, os trabalhadores da capital São Luís vão desligar os aplicativos, parar as atividades e permanecer em casa com suas famílias.
No entanto, Bernardino Santos, um dos organizadores afirma que também está sendo organizada uma manifestação por meio dos grupos de WhatsApp dos trabalhadores, para reunir ao menos 50 entregadores para fazer uma ‘volta’ pela ilha de São Luís.
Em Sergipe os trabalhadores começaram a manifestação já na tarde desta sexta-feira (24), com um ‘esquenta’ em frente ao Shopping Jardins, na capital Aracaju. A mobilização é feita com colagem de adesivos e diálogo com a população sobre as condições de trabalho dos entregadores.
De acordo com Henrique Dantes, um dor organizadores, o estado só tem entregadores na capital, por isso, a situação deles é mais difícil que em outros estados.
“Não podemos nos comparar com São Paulo, por exemplo, que é um estado grande e tema presença dos aplicativos. Aqui não temos nenhuma central do Ifood, por exemplo. Não temos com quem conversar. Até mesmo os materiais são entregues por terceirizados, mas estamos nessa frente nacional e lutaremos juntos”, diz ele.
No sábado, eles também se concentrarão, a partir das 10h da manhã, no Shopping Jardins.
No Distrito Federal, o presidente da Associação de Motoboys, Autônomos e Entregadores do Distrito Federal (AMAE-DF), Alessandro da Conceição, conhecido como Sorriso, também confirma a paralisação na capital federal.
Ele conta que o vice-presidente do iFood no Brasil, Bruno Piai, foi às redes sociais para dizer que a plataforma já atende reivindicações dos trabalhadores, o que segundo ele, não é verdade.
“Ele não fala do sistema de score e pontuação, dos bloqueios injustos e outras necessidades que temos, por isso estamos juntos com os trabalhadores e todo o Brasil e, em Brasília, também vamos parar”, ele diz
No Acre, Dyieymerson Rodrigues, do grupo Família Motoboys do Acre e um dos organizadores da mobilização no estado, diz que, apesar da falta das dificuldades financeiras para organizar o movimento, os trabalhadores também estão unidos e “vão pra cima dos aplicativos” para reivindicar as melhorias nas condições de trabalho e uma remuneração mais justa.
Em Terezina, no Piaui, haverá concentração dos entregadores de aplicativos às 16 horas, na Ponte Estaiada. Paulo Bezerra, presidente da CUT-PI, afirma que “a luta é uma questão de classe e, portanto, não se pode admitir que a exploração permaneça”.
Atuação sindical e próximas mobilizações
A Federação Nacional dos Trabalhadores Motociclistas Prossionais Autônomos (Fenamoto), se filiou a CNTTL (Condeferação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística da CUT) na última semana.
De acordo com o presidente da entidade, Nonato Alves, a filiação é “um avanço e ajudará na unificação das reivindicações da categoria e na organização do sistema de transporte do modal motociclista no país.”
A Fenamoto está mobilizando sua base nacional para uma grande mobilização em defesa da aprovação da pauta unificada da categoria no Congresso Nacional e para as plataformas digitais.