Como forma de resgatar uma cultura ancestrais em que o lúdico era mais valorizado entre a garotada da aldeia Utawana, no Xingu, o diretor indígena Aiuruá Meinako lança curta-metragem estrelado por crianças que vivem na comunidade onde aprendem a brincar como seus ancestrais
Com direção de Aiuruá Meinako e roteiro escrito pelo diretor junto com Delvair Montagner e Elza Ramalho, no próximo dia 15 de abril, às 10h30, será lançado o filme “Brincadeiras Mehinako”, uma produção que traz à tona a discussão do direito das crianças indígenas de se reconectar com suas tradições, sua cultura, suas ancestralidades por meio de atividades lúdicas. Estrelado por crianças da etnia Mehinako, o curta-metragem com duração de 16’’32’’’ foi realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, com o consentimento e a colaboração do povo indígena Mehinako e com a autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Em função das medidas sanitárias para o enfrentamento da COVID-19, o lançamento do filme acontece no canal do projeto no Youtube – https://www.youtube.com/channel/UClzgVFiRhq0q-oi6wRCOEMQ. Como parte da programação de apresentação do filme, Aiuruá Meinako, Delvair Montagner e Elza Ramalho participam de uma roda de conversa aberta a toda a comunidade. Durante o evento, o público poderá participar enviando comentários e perguntas por escrito. A participação é gratuita e a classificação é livre para todos os públicos.
Em “Brincadeiras Mehinako”, o diretor evoca um tempo não muito distante em que as crianças de sua aldeia, a Utawana, da etnia Mehinako, no Parque Nacional do Xingu, ainda se divertiam com brincadeiras tradicionais com o uso de arco e flecha, nadar no rio, entre outras atividades lúdicas que além de divertir, passavam conhecimentos ancestrais de geração em geração. O curta-metragem de 16 minutos e 32 segundos de duração, surgiu da constatação por parte do diretor de que crianças Mehinako não brincam mais como na época da sua infância.
O realizador do filme ressalta que a formação social e cultural de uma criança começa desde pequena ao participar de brincadeiras que seus pais lhes ensinam. Estas por sua vez, foram passadas através das gerações como parte da socialização e, posterior, integração do indivíduo como um adulto que dará continuidade e preservará os bens culturais que serão seu norte para o resto da vida, mesmo que esta venha a sofrer mudanças drásticas. O desaparecimento de um aspecto cultural das populações tradicionais, afeta a estrutura social que rege o funcionamento da mesma. A perda da memória cultural, em especial das brincadeiras infantis, tem reflexos desastrosos no ethos cultural do grupo.
Até os anos 1990, lembra o diretor, as crianças ainda tinham o interesse em participar das atividades do grupo na aldeia. “Hoje, as crianças só se divertem com o celular e a TV, como os brancos”, afirma Aiuruá Meinako. No entanto, ao convidar as crianças da aldeia a participar do filme e a aprender a usar o arco e flecha, a resposta foi positiva. “Eles gostaram da ideia e em três dias já estavam atirando com arco e flecha”, conta. “Crianças são curiosas e querem saber como as coisas são feitas. Com o estímulo e a orientação certas, elas podem receber e passar adiante os conhecimentos dos mais velhos, mantendo assim uma tradição ancestral. Durante o período de filmagem, elas aprenderam a fazer o brinquedo e como brincar com ele”, completa o diretor.
O filme
“Está fazendo uma flecha?… Quem ensinou você?”, pergunta um menino a outro que lapida gravetos. “Quer aprender? … Então vou levar você”, diz o menino. Crianças em busca de diversão procuram saber mais sobre como se faz um brinquedo para jogar um jogo. Essa é uma situação comum em qualquer parte do planeta. E assim também é na aldeia Utawana, da etnia Mehinako, no Parque Nacional do Xingu. Em “Brincadeiras Mehinako”, o diretor Aiuruá Mehinako traz à tona muito mais que uma memória de infância, ele faz lembrar que crianças são crianças sempre e que têm o direito de brincar e de se conectar com suas tradições que passaram de geração em geração. Falado em língua nativa do tronco Aruak, o filme tem legendas em português e tradução para LIBRAS.
Distribuição
O filme será disponibilizado no canal do youtube “Brincadeiras Mehinako”, com acesso e download gratuitos. Além disso, serão distribuídos DVDs na aldeia Mehinako e nas escolas públicas do Distrito Federal. O filme poderá ser compartilhado pelo público em redes sociais e exibido gratuitamente em salas de aula de escolas públicas e privadas, em todas as etapas do ensino, do básico ao superior, como um elemento de contribuição para o ensino da História, da Cultura Afro-brasileira e Indígena, seguindo os parâmetros da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
O diretor
Aiuruá Meinako é diretor e roteirista de cinema. Desde 1995, mora em Planaltina – DF. Deixou sua aldeia no Xingu em busca de uma nova identidade, acreditando que pudesse ser aceito na nossa sociedade. O tempo transcorrido, com família constituída e vendo os próprios filhos se apropriarem da vida urbana, não mostrando interesse no convívio com a etnia dele e de sua mãe, nem com as tradições culturais dos pais, levaram Aiuruá a tomar a iniciativa de promover o resgate do patrimônio cultural imaterial de seu povo, por meio do audiovisual. Brincadeiras Mehinako é seu terceiro filme. Com o documentário “Mapulawache – A Festa do Pequi”, venceu o Prêmio DOC TV III – Radiobrás, Fundação Padre Anchieta. Já o documentário “Mehinako Ukayumai” ritual Kuarup da aldeia Mehinako, Xingu, venceu o Prêmio de melhor documentário no VÍDEO TERRA, 1998 e menção honrosa no 21º TOKYO VIDEO FESTIVAL, 1999, junto com Elza Ramalho e Delvair Montagner.
Codiretora e corroteirista
Delvair Montagner é pesquisadora, corroteirista, codiretora e coeditora do curta Brincadeiras Mehinako. Doutora em Antropologia Social pela UnB e pós doutora em Antropologia Visual pelo C.I.E.Angel Ganivet, Granada, Espanha. Em seu trabalho em audiovisual, realizou vários filmes como diretora, pesquisadora e produtora, entre eles: Yanomami: Extermínio e Morte e Yanomami: Povo sem Futuro (diretora, 1993); e Ouro Negro da Floresta, (direção, 2010), filme que abriu a mostra oficial do Festival Internacional de Cinema e Alimentação – Slow Filme de Pirenópolis (2010) e premiado com a Menção Honrosa do Júri no XVII Festival de Cinema e Vídeo Cuiabá (2010).
No projeto Brincadeiras Mehinako, Elza Ramalho atuou como codiretora, corroteirista e coeditora. Formada em Desenho e Plástica pela Universidade de Brasília (UnB), Elza atuou como produtora executiva e diretora de vídeos documentários do Centro de Produção Cultural e Educacional da UnB (1991 a 2001). Desde 2001, é colaboradora da cineasta Tania Quaresma na realização e produção de vídeos, como: Fome zero – institucional sobre o programa fome zero (assistência de direção – 2003); O Direito Cecria – institucional para a ONG Cecria que cuida principalmente do direito da juventude e da infância (direção e câmera-2003). Entre as premiações, recebeu o Prêmio de melhor documentário VÍDEO TERRA, 1998 e menção honrosa no 21 TOKYO VIDEO FESTIVAL -Produção executiva – 1998 pelo filme Mehinako Ukayumai.
Serviço:
Lançamento do filme
“Brincadeiras Mehinako”
Do diretor Aiuruá Meinako
Roda de conversa com Aiuruá Meinako, Delvair Montagner e Elza Ramalho
Onde | Canal Brincadeiras Mehinako no Youtube
Endereço | https://www.youtube.com/channel/UClzgVFiRhq0q-oi6wRCOEMQ
Quando |15 de abril
Horário | 10h30
Entrada | Franca
Classificação indicativa | Livre para todos os públicos
Acessibilidade | O filme é falado em língua nativa do tronco Aruak, com legendas em português e tradução para LIBRAS
Projeto realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultural do Governo do Distrito Federal, com o consentimento e a colaboração do povo indígena Mehinako e com a colaboração da Fundação Nacional do Índio (Funai)
Ficha técnica
Brincadeiras dos meninos Mehinako
Duração | 16’’32’’’
Direção | Aiuruá Mehinako
Elenco infantil | Amélia Mehinako, Daniela Mehinako, Diego Mehinako, Dudu Mehinako, Eric Mehinako, Júlia Mehinako, Luan Mehinako, Luciano Mehinako, Luciano Mehinako, Maciel Mehinako, Maike Mehinako, Mari Mehinako, Paulina Mehinako, Pela Mehinako, Prince Mehinako, Samira, Sandro Mehinako, Silvana Mehinako, Simone Mehinako e Yan Mehinako
Participações especiais | Tukuyari Mehinako (Yerê), Arrula Mehinako e Levi Mehinako
Figuração em Planaltina | Ana Clara Alves, Gabriel Nicolas Pereira Marques, Gabriely Campelo Araújo Ribeiro e João Felipe Campelo Rodrigues
Codireção | Aiuruá Meinako, Delvair Montagner e Elza Ramalho
Roteiro | Aiuruá Meinako, Aurenir Campelo Araújo, Delvair Montagner e Elza Ramalho
Direção de fotografia | Aiuruá Meinako
Montagem | Aiuruá Meinako, Delvair Montagner e Elza Ramalho
Editor | Diego Cajueiro
Direção de Arte | André Ramalho Maciel
Som direto | Chico Bororo
Desenho de som | Micael Guimarães
Trilha Sonora | Paulo André Tavares e Daniel Baker
Finalização e montagem | Studio 13
Design | André Maciel
Gestão Administrativa | Valéria Marcondes
Disponível no canal do Youtube | https://www.youtube.com/watch?v=TdLCjVc0VAM