A apatia venceu a rebeldia. Mais pessoas, em Porto Alegre, não votaram do que aqueles que votaram no candidato mais votado do primeiro turno.
A “cidade vermelha” das Administrações Populares, do Fórum Social Mundial, do Orçamento Participativo, da descentralização da cultura está inclinada a se omitir, apática, esmagada diante dos infortúnios locais, não indo votar ou votando naquele que é o principal responsável pelo estado de abandono da cidade.
As esquerdas chegam a um terço das cadeiras na Câmara, enquanto a extrema direita elege um grupo que conseguiu inspirar o eleitorado, consciente de sua condição político-ideológica, não importando sua condição sociocultural, sua vida atual. Venceu a ideologia do capital, do individualismo, dos preconceitos.
A geração de 70-80, que combateu a ditadura militar nas ruas, massacrada com mortes, desaparecimentos e prisões, tem dificuldades de entender que os jovens não tenham mais rebeldia, trocando aquela rebeldia e a luta pelo socialismo pelo capitalismo, pelo individualismo, defendendo atitudes preconceituosas.
O Iluminismo, depois de 300 anos, perde sua luz, seu brilho, sua pujança de consciência de massas para uma soma de vertentes obscurantistas, autocráticas, negacionistas, avessas às instituições que moldaram as modernas sociedades democráticas.
Morrem as democracias. Morre o ânimo popular. O discurso universal da esquerda, dos democratas, de segmentos de centro dá lugar a posições de nichos, de grupos; enquanto, do outro lado, um discurso reacionário se universaliza, indo cada vez mais para o lado extremo da direita, caindo no fascismo.
O barulho das ruas dá lugar ao teclar nas redes sociais, numa perigosa repetição de chavões, da falta de reflexão político-filosófica do nosso lado; enquanto espalham-se “fake news” nos massacrando. Influenciadores ganham dinheiro e metem na cabeça dos pobres que a esquerda é culpada pelos males do mundo.
Cadê a rebeldia? Talvez a “rebeldia” esteja do outro lado, numa tomada de consciência, mesmo entre os pobres, de que o certo é o individual e não o coletivo. Esta “rebeldia” se expressa pela negação da política ou pela adesão a políticos populistas de direita que se travestem de povão.
(*) Adeli Sell é professor, escritor, bacharel em Direito e vereador.