Nascida e criada em Caruaru, interior pernambucano, em uma família de feirantes, a advogada popular Michelle Santos, 39 anos, é mobilizadora social e iniciou a militância no movimento secundarista aos 12 anos, com fortes vínculos na luta pela terra, moradia e direitos das mulheres. É filiada ao PSOL e concorre à Prefeitura Municipal de “uma cidade do interior com maioria extremamente fisiologista, clientelista”, define ela.
Sua meta é levar a participação popular para a centralidade das decisões políticas e direcionar o orçamento público para o debate geral. “É a revolução na forma como se faz política e como se direcionam as políticas públicas para a educação, a saúde e a construção da própria cidade. Uma cidade mais resiliente, com mais justiça social, mais igualdade, mais acessível”, ressalta Michelle, referindo-se à capacidade da gestão pública em lidar com adversidades, superando problemas e se adaptando a mudanças, o que evidentemente é fundamental neste momento de extremos climáticos.
“Como candidata a prefeita no interior do estado de Pernambuco, em uma cidade que vem de uma cultura coronelista, há uma tendência bem diferente até mesmo da tendência nacional do holofotismo”. Ela se refere à espetacularização dos candidatos com falsos posicionamentos antissistema. “Aqui não necessariamente é isso que interfere na decisão política e na decisão do voto. Aqui o clientelismo e o fisiologismo são de fato a grande mola propulsora”, explica.
Em sua região no interior do estado, segundo Michelle essa realidade não é tão palpável. “O que mais interfere na motivação do voto é o emprego, o favor político. Por isso o desafio é ainda maior. Além de combater as artimanhas da extrema direita com o debate do escracho, a gente aqui combate ainda algo muito mais forte que são as heranças do coronelismo”, acentua.
A advogada popular de esquerda tem consciência também do papel de executora de políticas públicas que representa a sua candidatura à Prefeitura, e ressalta a importância das vivências nos movimentos sociais para o entendimento das demandas das populações mais vulneráveis. “Precisamos trazer toda essa experiência para dentro da gestão pública municipal”, frisa.
Nesse sentido, Michelle ressalta a importância das cotas para a participação das mulheres na política, mas diz que ainda falta muito para deixarem de ser sub-representadas tanto nas casas legislativas como nas gestões municipais e estaduais. “As políticas públicas afirmativas impõem a participação das mulheres na política, mas não temos ainda eficácia nos resultados, ainda são muito tímidos. Precisamos leis muito mais afirmativas ainda para garantir que possamos ocupar esses lugares. Mas não é uma questão meramente legal. A sociedade já nos aceita, mas ainda temos uma luta muito grande a ser travada na quebra de conceitos do patriarcado e do machismo”.