Paulo Arantes, sociólogo da USP, diz, no canal Episódio Extra, que, em 2026, a polarização política vai continuar intensa no Brasil e que os dois líderes de massa em confronto continuarão a ser Lula e Bolsonaro.
Pela esquerda, Lula, capitaneando, frente ampla, e, pela ultradireita, Bolsonaro, puxando sua base fascista.
Sobraria a direita, segundo ele, como fiel da balança.
Quem a atrairia, para evitar a ascensão do fascismo pela segunda vez: Lula ou Bolsonaro continuaria sendo a alternativa ultradireitista?
Lula, na opinião de Arantes, está, depois de ter sido solto para disputar eleição em 2022, cumprindo um roteiro combinado com o capital, dono do poder: salvar a direita, para evitá-la de cair nas garras da ultradireita.
A esquerda brasileira – que nunca foi esquerda para valer, diz – não está, junto com os capitalistas tupiniquins, deixando Lula cumprir esse papel, enquanto é cercado de todos os lados pelos brucutus fascistas, apoiados, em 1918-22, pela direita, incapaz de chegar lá por não dispor de líder de massas.
O líder de massas que a salvaria seria Lula, mas os capitalistas não aceitaram ainda esse papel do líder popular como verdadeiro outsider, desconfiando dele como farol capaz de iluminar o caminho para o país cumprir seu destino capitalista, antes da ultrapassagem histórica para o pretenso regime socialista num futuro ainda remoto.
Desse modo, a polarização vai cumprir sua segunda onda em 2026, tendo, de um lado, Lula, se sua saúde permitir ou se não for derrubado por algum estratagema fascista, e, de outro, Bolsonaro, se não for preso, sendo que, se preso, aumentará seu cacife para a disputa eleitoral, conforme circunstâncias que seriam criadas pela própria polarização esquerda-ultradireita.
Mas, o que Arantes não ressalta é sobre se o cacife de Lula aumentaria ou não, de forma expressiva, caso seja derrubado, como foi destronada a ex-presidenta Dilma Rousseff, para abrir caminho ao neoliberalismo.
ROTEIRO PRÉ DETERMINADO
O fato é que Lula, na avaliação determinista de Arantes, não pode fugir do roteiro que o império traçou para ele: dirigir o capitalismo tupiniquim para salvar a direita da ultradireita, fugindo dela, para não ser irremediavelmente tragado por ela.
Se quiser inventar moda, tipo dar uma de esquerdista, cairá, irremediavelmente.
Washington saiu em defesa de Lula, com uma condição: seguir o roteiro de Washington.
Assim que se elegeu, vitorioso, ficou faltando o essencial: a posse.
Afinal, no Brasil, como a história demonstrou várias vezes, há uma distância entre a vitória eleitoral e a posse, de modo que ganhar nas urnas só não basta, precisa ser empossado, o que demanda rendição do vitorioso ao status quo do capital.
Lula sairia da cadeia para derrotar o bolsonarismo, em 2022, com um objetivo: ser o porta-voz do capital, não da esquerda, o que lhe assegurou o apoio do império, resistente às pressões da ultradireita para impedir sua posse.
A tentativa de golpe, comandada por Bolsonaro, Braga Neto e Cia Ltda, conforme investigações da Polícia Federal, que evidenciou a trama golpista, só não deu certo porque Washington não permitiu.
Lula teria tomado posse, na avaliação de Arantes, em troca do compromisso histórico de tocar a agenda implícita ao programa “Ponte para o Futuro”, concebido pelos golpistas comandados por Michel Temer, que derrubaram Dilma.
Bolsonaro, ultradireita, seria eleito em 1918-22 por ser líder de massa que teve o apoio da direita, atraída à ultradireita bolsonarista, mas, passado quatro anos de desastre fascista, a direita caiu na real, distanciando-se do fascismo para render-se ao lulismo em Frente Ampla.
DIREITA INDEFINIDA BALANÇA
A rendição da direita à fFrente Ampla lulista, rechaçando a ultradireita, está, porém, ameaçada, porque os capitalistas direitistas não aceitam Lula como outsider; não acreditam que ele veio encomendado para salvar o capitalismo, não para preparar caminho da esquerda ao socialismo.
Os capitalistas, portanto, na avaliação de Arantes, não deixam Lula salvar o capitalismo, tendo a fortalecê-los em sua desconfiança a incompreensão da esquerda, do PT e aliados progressistas, polarizados entre si, tentando levar o presidente para uma agenda contrária à “Ponte para o futuro” temerista-golpista.
Mas, se Bolsonaro já está, pela justiça, inelegível, a ultradireita teria chances, por exemplo, com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, eleito com amplo apoio das forças bolsonaristas?
Sem chances, diz Arantes, assim como, também, excluindo Lula, a frente ampla progressista anti-fascista não teria outra alternativa senão ele, dado que ambos, Lula e Bolsonaro, são os únicos dois líderes de massa existentes.
A situação poderia ficar ainda pior para Lula, caso Bolsonaro vá para a cadeia, depois de desvendada a tramoia do golpe preparado para acontecer em dezembro de 2022.
Detrás das grandes, o líder fascista posaria de herói, agitando a massa ultradireitista, aumentando suas chances de voltar ao poder, o qual perdeu para Lula com diferença de, apenas, 1,8% dos votos.
A ultradireita faria tudo, durante 2025 e 2026, para inviabilizar a política econômica, agitando o financismo rentista, para piorar a popularidade lulista e elevar sua vantagem comparativa, com apoio da mídia conservadora entreguista, como já está acontecendo, nessa altura do campeonato.
QUEM TEM VOTO?
Dessa forma, a questão na disputa entre esquerda e ultradireita se restringe a quem realmente tenha votos para ganhar, por um lado ou outro, visto que, por exemplo, candidatos, supostamente, viáveis, como Haddad e Alckmin, no campo lulista, ou Tarcísio, no lado bolsonarista, não dispõem de cacife eleitoral suficiente em termos nacionais.
Nesse sentido, os dois anos que restam à Frente Ampla lulista, para levar o governo até o fim – ainda, assim, sob perigo de golpes e outras escaramuças, caso Lula tente cumprir roteiro esquerdista –, serão cumpridos, se o presidente fizer governo com a cara do centro-direita, que venceu, com ampla maioria, as eleições municipais em 2024.
Nesse caso, ele cumpriria o compromisso com o status quo capitalista para salvar os capitalistas tupiniquins do trágico roteiro ultrafascista pela segunda vez que levaria o Brasil ao colapso final de consequências inimagináveis.
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.
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