O desafio de estimular a participação popular nos municípios passa pela construção de um poder legislativo mais representativo. Metas que estão na ótica do jornalista gaúcho Lúcio Haeser. Além disso, é preciso construir uma relação transparente do legislativo com a prefeitura. Neste caso, a cidade de Canela que ele morou nos anos de 1990, e que sonhou em voltar. E agora com um desafio: a disputa por uma vaga para vereador pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Ou como Haeser resume nessa frase, “é nas horas difíceis que mais temos que lutar pelo que acreditamos”..A cidade localizada na Serra, tem 45.488 habitantes, segundo o IBGE. Haeser fala como está sendo essa construção com a comunidade, e a avaliação dos cidadãos sobre o governo Bolsonaro, que aqui ele chama de “necropresidente. Confira a entrevista concedida ao blogueiro Dieison Barcarolo, direto de Canela.
- Participação popular e a relação com o Partido dos Trabalhadores
Apesar de toda a campanha midiática de demonização do PT, que levou à derrubada de Dilma, à prisão de Lula e à eleição do necropresidente, percebemos que a memória dos bons governos do Partido dos Trabalhadores permanece. Antes de iniciar a campanha, acreditava que encontraria muita hostilidade nas ruas. Mas quase nada disso foi percebido. Nos bairros populares e no campo, as pessoas sabem que foi com Lula e Dilma que elas tiveram muitas melhorias em suas condições de vida. Claro, também há muita indiferença ou ódio generalizado à figura do político, mas a aceitação ao PT tem sido maior daquilo que eu esperava.
- Envolvimento social em Canela e atuação no PT
Em Canela, estou começando agora. Já morei aqui nos anos 90 e decidi que um dia voltaria. Foi o que fiz em 2018. Tenho envolvimento com os moradores do Chapadão, onde resido, mas – até antes da campanha – não como militante partidário. Talvez seja importante eu dizer que assinei ficha na filiação provisória de 1979, quando na época estava colocando um tijolinho na construção do PT em Porto Alegre, onde morava. Sou natural de Santa Cruz e em 1978 fui estudar jornalismo na UFRGS. Em 1979 muito modestamente ajudei na construção do partido. Em 1980, insatisfeito com o partido – eu queria um partido perfeito, mas depois evidentemente fui descobrir que isso não existe – não quis assinar a ficha definitiva de filiação. Mas, é claro, a partir da primeira eleição em que o PT esteve presente, em 1982, sempre votei no partido. Aí, pulamos para 2019: encontro o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont na rua, em Canela, e batemos um papo. Resolvo, 40 anos depois, assinar a ficha definitiva. Participo de reuniões para a reestruturação do partido na cidade. É nas horas difíceis que mais temos que lutar pelo que acreditamos. Portanto, minha militância começa praticamente com a campanha.
- Como melhorar os problemas na cidade
Acho que tudo começa com a falta de transparência. A administração municipal e o legislativo não estimulam a participação popular. Ao contrário, parece que desejam decidir tudo num pequeno círculo fechado. Assuntos importantes que deveriam ser debatidos são burocraticamente divulgados em murais e sites oficiais de baixa visitação.
- Reação popular em relação ao governo federal
Não só em Canela, mas em todo o país, o PT sempre foi alvo da mídia. Isso se acentuou a partir de 2005 e especialmente a partir de 2013, quando houve o início do golpe de 2016. Além dos meios tradicionais de comunicação, nesta década vieram as redes sociais a acentuar mentiras absurdas nas quais grande parte das pessoas passou a acreditar. Mas nota-se que, como o atual desgoverno é extremamente nocivo à sociedade, algumas pessoas começam a perceber novamente a realidade. Não é fácil. Mas é preciso estar presente. Olhando os números da eleição de 2018, eu esperava encontrar um ambiente muito mais favorável ao atual necropresidente. Mas a realidade não é essa. Não ouvi ninguém defender o seu nome. Eu defendo Lula e não aparece ninguém para defender o capacho de Trump. É claro que percebo rejeição ao PT, mas ninguém que ouse se contrapor citando o amigo de milicianos. Tudo que ele faz de destruição e entrega do país já é percebido como algo indefensável. A direita achou que iria domar um direitista extremo e fascista. Mas ele não aceitou esse papel. Veja o caso do Mandetta. O necropresidente poderia muito bem surfar na onda de um ministro que, por sua atuação sóbria no início da pandemia, estava obtendo popularidade. Ele poderia muito bem dizer: “Vejam, eu sou um idiota completo, mas tenho uma equipe de governo maravilhosa e que sabe fazer as coisas.” Nem isso ele quis. Preferiu mostrar sua ojeriza à ciência e adoração ao obscurantismo.
- Reestruração do PT em Canela
Estamos nos reestruturando. O antipetismo foi construído de forma avassaladora. Em uma cidade pequena isso se torna ainda mais complicado. Termos uma candidatura é um ato de resistência. Não esmorecemos, não temos vergonha, ao contrário, temos orgulho do que esse partido fez pelo país. Os tempos ruins não duram pra sempre, mas na hora da tempestade é preciso enfrentá-la.
- Manter contato permanente com a comunidade
Queremos manter contato permanente com a comunidade, promover encontros de discussão política. Fazer um trabalho constante. Estimular outras forças.
- Como melhorar a comunicação do Legislativo com a Prefeitura
Além de levar nossas ideias e propostas, precisamos principalmente ouvir a comunidade. É dela que precisamos nos alimentar. Ela nos dará o Norte. Mas, é claro, muitas vezes também precisamos exercer o papel de tirar o véu que impede a visão de muitos. Não é tarefa simples. As máquinas de Fake News fizeram e fazem grande estrago a serviço da desinformação. Mas precisamos lutar pelo que acreditamos.