No dia mundial da mudança climática há muito pouco o que comemorar. Vivemos num planeta onde existem cada vez mais negacionistas, sempre por conveniência ou ignorância, que agem como se a vida fosse mágica. Como se tapando os olhos os problemas sumissem. O fato é que estamos mudando o clima muito mais rápido do que imaginávamos e as consequências serão duras para todos. Temos, mais frequentemente, sofrido secas, enchentes e temporais como jamais tivemos antes. A temperatura média do planeta segue subindo. Só com esses problemas já estamos pondo em risco a principal atividade da nossa espécie, a produção agrícola, base da nossa alimentação e dos animais que criamos.
A desorganização do clima, principal efeito da mudança climática, sozinha, põe em risco nossa sobrevivência e vai causar muito sofrimento e guerras. Sem alimentação de nada adianta ter outros recursos. Essa irregularidade do clima está ameaçando biomas como a Amazônia, onde uma seca, pequena mudança térmica, pode causar uma extinção em massa. Biomas que são insubstituíveis, pois foram formados através de milhões de anos de evolução conjunta daquelas espécies que, por isso, são insubstituíveis.
Quase tão ruim quanto essas mudanças é a forma como a humanidade está reagindo a elas, de forma burocrática nos governos, e de forma especulativa nas empresas que rapidamente distorcem propostas para segurar a destruição e as transformam em marketing verde através de maquiando atividades insustentáveis e fingindo que estão combatendo a destruição.
Dou exemplos que são muito significativos: está sendo proposta uma mina de carvão na zona metropolitana de Porto Alegre, 16 km do centro da capital gaúcha, onde a empresa tem uma diretoria de sustentabilidade. Ora, o carvão mineral está sendo banido de todos os países desenvolvidos por ser uma atividade totalmente insustentável. Precisa explicar mais?
Por outro lado, ouço e leio diariamente sobre a sustentabilidade da agricultura convencional de monoculturas e venenos. Qualquer pessoa com senso crítico de uma criança pequena pode se dar conta da impossibilidade de chamarmos de sustentável a produção de alimentos envenenados, que envenenam também toda a água que bebemos, todos os outros seres vivos dos quais dependemos para manter a vida no planeta.
Porém, afirmações como estas não estão sendo chamadas de mentirosas, ainda que devessem responder por estelionato ao venderem idéias ilusórias.
A mudança climática envolve todo o equilíbrio planetário e não pode ser resolvida por pessoas simplórias que não percebem a complexidade da questão, nem por empresários querendo lucrar rápido, mas somente por governos democráticos e participativos que podem usar toda a inteligência dos cidadãos de seus países para construir soluções de complexidade proporcional ao desafio e têm poder de implementá-las de forma contundente.
Precisamos criar essas condições para harmonizar o clima novamente.
(*) Francisco Milanez – Biólogo, arquiteto e urbanista, especialista em análise de impactos ambientais e doutorando em educação em ciências