Na segunda quinzena de setembro, a propósito do Dia Mundial da Alfabetização e do centenário de nascimento do educador Paulo Freire, nos aproximamos da sua principal contribuição
É possível transformar a sociedade se não se transforma a maneira na qual se educa as pessoas? É possível transformar a educação para a opressão em educação para a libertação? Em que consiste a educação libertadora? Em particular a que propõe o educador brasileiro Paulo Freire [1921-1997].
Para compreender a ideia da educação libertadora, primeiro se faz necessário entender a concepção que pretende superar: a educação bancária.
Em seu livro Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire critica o espírito da concepção bancária, para a qual a educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos.
Ao refletir a sociedade opressora, a educação bancária mantém e estimula a dicotomia educador-educandos, entre o que sabe e o que não sabe, entre quem narra ou transmite um saber e quem o memoriza, entre quem ostenta o saber, a autoridade e quem se submete a ela.
Nessa concepção de educação tudo gira ao redor do professor, ele é o protagonista principal. A educação é eminentemente vertical, o educador impõe as regras e estabelece uma relação de opressor-oprimido.
O principal achado de Freire é que este tipo de relações transcende o plano propriamente pedagógico, pelo qual é possível estender essa análise ao resto da sociedade para explicar a estrutura da dominação.
Frente à educação bancária, cujo propósito é a domesticação social, Paulo Freire propõe a educação libertadora, a qual começa com a superação [não a inversão] da contradição educador-educando.
Desde essa perspectiva, educador e educando são sujeitos intercomunicados, os quais se reconhecem em seus respectivos papéis, juntos aprendem, juntos buscam e constroem o conhecimento na medida em que sintam que têm um compromisso para fazê-lo com liberdade e capacidade de crítica.
De acordo com Freire, a educação desde esta perspectiva envolve o ato de conhecer e não a mera transmissão de dados. Desta maneira professores e estudantes compartem um mesmo status, construído conjuntamente num diálogo pedagógico caracterizado pela horizontalidade de suas relações.
A educação libertadora não se considera apolítica, nem não ideológica: tem um propósito claro que é a revelação e a desmontagem das estruturas da dominação, não só educativas como também sociais.
A educação libertadora promove o diálogo, através da palavra, como o fundamental para realizar o ato cognoscível, desperta a criatividade e a crítica reflexiva no educando, reforça o caráter histórico dos seres humanos, promove a transformação e a luta pela emancipação.
Frei Betto, teólogo brasileiro, continuador da obra de Freire, disse sobre a educação libertadora e sua concretização na educação popular: “é o método do socialismo e o socialismo o nome político do amor”.
Por: teleSUR – drl – JGN
Tradução > Joaquim Lisboa Neto