Em entrevista exclusiva ao Jornal Brasil Popular, o líder do PT no Senado e médico sanitarista, Rogério Carvalho, respondeu como vê a atuação do Congresso Nacional na guerra contra o Coronavírus e como a posição irresponsável de Jair Bolsonaro aprofunda a crise na saúde e na economia do Brasil.
Foto: Alessandro Dantas
Filho de agricultores, natural de Aracaju, capital de Sergipe, o líder da bancada do Partido dos Trabalhadores no Senado Federal, Rogério Carvalho, assumiu o mandato como Senador em 2019, após ter sido Secretário de Saúde no Sergipe e deputado estadual e federal pelo estado. Médico sanitarista e Doutor em Saúde Coletiva pela Unicamp, Rogério Carvalho foi relator de dois projetos importantes para o Brasil na Câmara dos Deputados: do programa Mais Médicos e na Comissão de Reforma do SUS. Em 2020, assumiu como líder do PT no Senado, viabilizando ações e projetos da bancada em conjunto com a oposição ao governo Bolsonaro. Desde o início da pandemia do Coronavírus, a oposição foi bem-sucedida na aprovação de leis fundamentais para a defesa da população brasileira, como o auxílio emergencial de 600 e 1200 reais para famílias e a liberação de recursos aos estados e municípios, enfrentando o descaso de Bolsonaro frente a crise sanitária e econômica que se instalou no Brasil e no mundo. A pandemia já causou mais de 50 mil mortes no país. Em meio às várias atividades e “lives” que tem promovido e participado, Rogério Carvalho respondeu gentilmente e com exclusividade as perguntas do Brasil Popular sobre os trabalhos do Congresso Nacional na guerra contra o Covid-19 e sobre as crises sanitária, econômica e política que o Brasil passa com a omissão irresponsável do governo Bolsonaro.
JBP: A pandemia é o maior drama deste novo século e vai marcar a história do Brasil e do Mundo. Qual o papel do Congresso Nacional, o poder legislativo, no combate à pandemia da Covid 19?
Rogério Carvalho: Considerando a inoperância e incompetência do governo Bolsonaro, nosso papel tem sido de fazer proposições para diminuir os impactos da pandemia, especialmente sobre a população mais vulnerável e também projetos de fortalecimento do Sistema Único de Saúde. Já foram mais de 80 medidas e projetos de lei neste sentido. A nossa bancada tem agido assim no Senado Federal, mas acreditamos que o papel do Congresso Nacional também seja esse: preencher uma lacuna de atuação séria e republicana deixada pelo atual governo federal.
JBP: Como o senhor observa a postura do presidente Bolsonaro na tomada de decisões e consequentes ações do Governo Federal diante de uma possibilidade de o Brasil se tornar epicentro de contágio do Coronavírus? O presidente chegou a comentar que vamos ter 70% da população infectada e, neste cenário, a previsão de alguns cientistas é que o Brasil pode chegar a 1 milhão de mortes.
Rogério Carvalho: É uma postura irresponsável desde o primeiro caso confirmado do novo Coronavírus. Primeiro, com atitudes negacionistas, minimizando a pandemia ao compará-la com uma “gripezinha”. Depois, em todas as ações descoordenadas e de ataques frequentes aos governadores, atuando contra o isolamento social, fazendo mudanças na condução do Ministério da Saúde, atrasando o repasse de recursos para os estados… foram inúmeras as vezes que o presidente agiu de forma irresponsável, aumentado a situação já calamitosa e nos empurrando para esta triste marca, de estarmos entre os países com o maior número de mortos e contaminados pela Covid-19.
JBP: Alguns projetos da oposição têm se destacado por conta da crise econômica e sanitária, como a taxação das grandes fortunas pela desigualdade social histórica e desproporcional do País, e o Renda Mínima, que pode viabilizar o mínimo de direitos para cidadania da população carente. O país tem condições de aprovar esses projetos?
Rogério Carvalho: O Brasil tem condições e tem urgência também. A pandemia nos leva a um patamar de crise econômica sem precedentes. Nós teremos que, no período pós-pandemia, reinventar a economia brasileira e mundial em outras bases, mais solidárias, mais distributivas. Se não fizermos isso, estaremos rumo ao colapso econômico, o que não interessa a ninguém.
JBP: Quais as consequências sociais e econômicas que poderemos ter com a crise prevista não só no Brasil, mas no mundo?
Rogério Carvalho: Mais recessão, gerando mais desigualdade e consequentemente mais violência, fome, caos social. Só que, vale lembrar, essa crise econômica não foi causada pela pandemia do Coronavírus. Ela foi aprofundada e vai se radicalizar. A crise é anterior, começou com o golpe contra a Dilma e o governo de Temer. O modelo neoliberal e de estado mínimo não dá as respostas e soluções que o povo precisa, e que o crescimento do país exige. Ainda mais no caso do Brasil, um país enorme, de tamanho continental. As soluções precisam ser, portanto, pensadas de forma grande, regionalizadas, republicanas.
JBP: Qual é a possibilidade de o Congresso Nacional iniciar um debate sobre um possível impeachment do presidente Bolsonaro, a partir das declarações do ministro Sérgio Moro sobre suas interferências ilegais na Polícia Federal?
Rogério Carvalho: O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já recebeu mais de 40 pedidos de impeachment do Bolsonaro. Até agora, só um deles foi arquivado. Recentemente o PT, junto com outros seis partidos e 400 organizações, protocolou o primeiro pedido de impeachment coletivo. Há, portanto, muitas razões para iniciar a avaliação sobre estes pedidos de afastamento do presidente. A questão é o quanto a base aliada do governo e os partidos que compõem o Centrão estão coesos e com seus interesses sendo correspondidos, como na indicação de cargos no Executivo, por exemplo, para impedir ou derrotar a votação de um processo de impeachment. É essa a avaliação que precisa ser feita, e a correlação de forças muda de semana para semana, muito rapidamente.
O Senado tem declarado a importância de defender a democracia neste momento de ataques às instituições e ao estado democrático de direito que vinha contando com a participação de Jair Bolsonaro. A bancada do PT apresentou denúncia no Ministério Público Federal contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e tem enviado diversos projetos para defender o setor ambiental de sucessivos ataques do governo Bolsonaro e auxiliar a agricultura familiar contra a crise agravada pela pandemia do Coronavírus.
JBP: O PT decidiu apoiar a campanha Fora Bolsonaro. Como o partido e a oposição estão se articulando para incluir a sociedade e envolver a maioria dos parlamentares neste processo, em meio à crise? Como o senhor vê o país sem Bolsonaro e com o vice Mourão como novo presidente?
Rogério Carvalho: Não podemos esquecer que estamos no meio de uma pandemia, e isso dificulta a mobilização e o chamamento da sociedade para se manifestar em grandes atos públicos. Mas existe uma insatisfação grande na sociedade pelo no número de morte e pela forma equivocada que o governo Bolsonaro conduz o combate à pandemia. Mesmo assim, vimos a vontade do povo na reação aos atos antidemocrático que demonstra o. sentimento do Brasil em querer a saída do presidente Bolsonaro. Cada vez mais, veremos a progressão destas manifestações. Acredito que o povo brasileiro já está mobilizado. Sobre a saída do presidente, além dos problemas que enfrentamos com a saúde pública e a paralisação da economia, nos deparamos com inquéritos que investigam a legitimidade do pleito eleitoral de 2018. Diante do que já foi visto, acreditamos que o TSE dará um parecer satisfatório para a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.
JBP: Em recente pesquisa eleitoral para presidente, o ex-presidente Lula foi o nome mais forte da oposição para enfrentar Bolsonaro na eleição de 2022. Na sua opinião, quais as condições de viabilidade da candidatura de Lula, que já afirmou que não deve mais concorrer? E, até lá, o senhor acredita numa construção ampla dos campos progressistas para derrotar o projeto neoliberal de extrema direita do poder executivo?
Acredito que o PT tem uma história e um legado reconhecidos pelo povo brasileiro pelo fato de ter melhorado a vida das pessoas através da geração de emprego, renda, oportunidades na educação e em todas as áreas. E o PT está aberto à construção com todos os partidos que queiram contribuir para um projeto que respeite a vida, inclua e restabeleça os direitos dos brasileiros, que aposte, como o PT aposta na democracia, e que mude a imagem do Brasil no mundo. Esperamos que devolvam ao presidente Lula a inocência dele e reconheçam o golpe de 2016. Diante dessas premissas, podem surgir as alianças e pensar em candidatura com os demais partidos.