A vacina Coronavac, do laboratório Sinovac, é eficaz contra a variante P1 em 50% dos casos, depois da aplicação da primeira dose, mostrou um estudo realizado com 67.718 profissionais de saúde de Manaus. E não tem efeitos colaterais. Por que não dispor da vacina que se produz desde dezembro no Brasil, em aliança com Sinovac, como fazem Indonésia, Turquia, Singapura, entre outras nações?
Em tempos de pandemia, não resta outro remédio que se abrir para o mundo sem preconceitos ideológicos ou políticos e tomar a mão bondadosa que se oferecer. O contrário seria equivalente a deixar milhões de pessoas desprotegidas.
Há alguns dias li no The New York Times: “Brasil necessita vacinas. China se beneficia”. Perguntei-me por que o povo brasileiro, que padece de políticas sanitárias debilitadas, não obtêm os benefícios das vacinas produzidas pela China, provadas em muitos países do mundo e com alta efetividade. Então, veio-me à mente que alguns políticos brasileiros preferiram dar as costas ao seu povo antes de aborrecer seus homólogos nos Estados Unidos. Que pena! E pensar que é um assunto de vida ou morte. O que é mais grave é que esses mesmos políticos ativaram sua imaginação e maquinaria política para criar uma imagem de que a vacina chinesa não é efetiva, mas outras fórmulas vindas da Europa sim. Medicamentos que nem sequer os Estados Unidos ou a União Europeia estão aplicando na sua população.
Ironicamente, Washington enviou ao México a vacina da AstraZeneca que não foi aprovada pelas autoridades sanitárias dos EUA. Além disso, os brancos estadunidenses tiveram maiores probabilidades de ser imunizados em relação aos afroamericanos e latinos, população mais vulnerável, que foi o porquinho da Índia usado para os ensaios.
No Brasil, os contágios se multiplicam de um dia para o outro e com uma velocidade tremenda. Lamentavelmente, poucos brasileiros receberam a vacina CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac. No entanto, estes poucos imunizados não apresentaram efeitos secundários. Experiência vivida por Carlos Alberto Cassi, de 71 anos e Elizabeth Sá Rosa Cassis, de 68 anos, ambos se consideram sortudos depois de receber a vacina no Autódromo de Interlagos. Vi a foto do momento emocionante, que os dois idosos relacionam com viver tranquilos e sem medo de falecer sozinhos pelo vírus.
Em São Paulo está o Instituto Butantan, um centro de pesquisa de biologia e biomedicina, fundado em 1901, responsável pela produção de mais de 80% dos soros antiofídicos e vacinas consumidas no Brasil. A instituição também desenvolve e fabrica a vacina contra a Covid-19, associada à farmacêutica chinesa Sinovac.
O diretor do Instituto, Dimas Covas, assegurou que a “Sinovac é segura, eficaz e tem todos os requisitos que justifiquem seu uso de emergência”. O levantamento de dados do Instituto Butantan não permite afirmar que a vacina irá erradicar a doença, mas é capaz de controlar a pandemia, reduzindo as hospitalizações, assegurou Ricardo Palacios, diretor de pesquisas médicas. Ambos apostam na CoronaVac para tirar Brasil do momento de incerteza que atravessa.
No dia 11 de abril, o Instituto Butantan revelou pelo Twitter uma “grande notícia”. “A Vacina Butantan contra Covid-19 protege contra as variantes P1 e P2, tem uma eficiência global de até 62% e 83% em casos moderados, taxas muito superiores ao 50,3% e 78% verificados nos primeiros estudos, divulgados entre dezembro e janeiro”. A pesquisa foi realizada com 13 mil voluntários entre 21 de julho e 16 de dezembro de 2020 e publicada em revistas científicas. O mesmo estudo feito pelo Butantan demonstrou que “a vacina é ainda mais eficaz quando a segunda dose é administrada em um intervalo igual ou superior a 21 dias. Tanto nos primeiros testes, como agora, seguimos trabalhando para oferecer ao Brasil uma vacina que salva mais vidas”.
Para o economista e professor do Instituto Insper, Thomas Conti, é importante conhecer alguns dados sobre o mercado mundial de vacinas contra a Covid-19. Dados que mostram uma realidade da qual Brasil não está isento.
- Os laboratórios vendem vacinas a um preço de reposição
- Os laboratórios grandes só vendem aos governos
- Há uma fila para adquirir vacinas em todo o mundo
- As entregas atrasam
Com este panorama e em busca de opções para avançar rumo a uma vacinação massiva, a Câmara de Deputados aprovou, no dia 6 de abril, o Projeto de Lei (PL) 948/2021, que significa uma mudança de regras para a compra de vacinas pelo setor privado. E me pergunto de novo: por que não dispor da vacina que se produz desde dezembro no Brasil, em aliança com Sinovac, como fazem Indonésia, Turquia, Singapura, entre outras nações?
A agência de notícias Reuters publicou, no dia 7 de abril, uma manchete que dizia “a vacina CoronaVac do laboratório Sinovac é eficaz contra a variante P1 em 50% dos casos, depois da aplicação da primeira dose, mostrou um estudo realizado com 67.718 profissionais de saúde de Manaus, onde a nova cepa é predominante”.
Se assumirmos como seguro este número e, se fossem vacinadas 200 milhões de pessoas com uma fórmula que reduz em 50% a possibilidade de contágio, 100 milhões de pessoas poderiam ser protegidas. Por que estão perdendo essa oportunidade de ouro? A decisão de acelerar o ritmo da imunização no Brasil é política e a política sustenta como bem supremo agir em benefício de todos os integrantes de um sistema social ou não?
Vejamos o caso do Chile, um dos países sul-americanos que adquiriu doses da Sinovac e salvou sua população. “Observamos um bom perfil de segurança tanto em adultos, como em idosos, maiores de 60 anos com anticorpos detectáveis entre 14 e 28 dias depois da segunda dose”, declarou a Biochile, Susan Bueno, pesquisadora do Instituto Milênio de Imunologia e Imunoterapia (IMII) e coordenadora do ensaio.
“Uma característica particular do nosso estudo é que detectamos linfócitos T, específicos contra proteínas de diferentes spikes. Em trabalhos anteriores não havíamos detectado resposta contra outras proteínas do vírus e em nossos estudos conseguimos identificar que, efetivamente, a imunização com CoronaVac promove a geração destas células”, afirmou.
Os interferons são citocinas potentes com atividade antiviral, imunomoduladora e antiproliferativa e está demonstrado, cientificamente, que atuam como o grande despertador do nosso sistema imunológico.
Outra coisa muito clara é que os brasileiros querem se vacinar da maneira que seja. Há pouco tempo, Ignacio Lemus, correspondente da TeleSUR, em São Paulo, apesar do fechamento da fronteira, estima-se que ao menos 300 brasileiros já cruzaram o rio Oiapoque em canoas ou barcos a motor, saindo do Amapá para serem vacinados na Guiana Francesa. E volto a perguntar-me: para que ir a outro país tendo em casa a Coronavac? Este é o Brasil de hoje. E este é o Brasil de muitas perguntas sem respostas.
(*) Marcela Heredia, jornalista argentina