Desde final de dezembro, quando foram veiculadas as primeiras notícias da província de Hubei na cidade de Wuhan, na China, sobre o coronavírus, médicos especialistas do Ministério de Saúde Pública (Minsap), virologistas do Instituto de Medicina Tropical Pedro Kouri (IPK) e de outras instituições científicas começaram a investigar o fenômeno.
A partir do dia 11 de março, quando três turistas italianos foram identificados com a Covid-19, surgiu um conjunto de medidas para enfrentar esse tipo de vírus (Sars Cov 2), foram mobilizadas as organizações política e de massa, assim como prestadas as informações quantitativas e qualitativas diárias à população, assim como os principais temas discutidos nas reuniões de todos os dias do presidente da República de Cuba Miguel Díaz-Canel Bermúdez e ministros, por meio dos diferentes meios de comunicação.
No programa ‘Mesa Redonda’, o tema geral é a Covid-19 e dele participam, alternadamente, cientistas de diferentes organismos que compõem o Polo Científico; diretores de laboratórios e a comunidade científica: decanos de universidades e representantes de instituições científicas de diferentes áreas e especialistas do grupo interdisciplinar do Ministério de Saúde Pública (Minsap), em colaboração intersetorial e interdisciplinar, enfim, como dizem os participantes, ‘governo e ciência em função de salvar vidas’.
Nessas e em outras ocasiões sempre é lembrado o artífice de toda essa estrutura de saúde e esse método de ação, Fidel Castro
Para a Covid-19 são usados cerca de 15 produtos de fabricação nacional e em menor número de importados. Além do Interferon Alfa 2B, antiviral já usado anteriormente, utilizam a cloroquina e o PrebengHo Vir, antibióticos, e plasma dos recuperados que desenvolvem anticorpo monoclonar, especialmente para pacientes em estados crítico e grave. Além do tratamento dos casos positivos, há preocupação com o fortalecimento da imunidade da população em geral, com distribuição gratuita, casa a casa, de o medicamento homeopático PrebengHo VIR, que é inócuo e incrementa defesa no organismo, aumentando a imunidade.
O protocolo de tratamento de Cuba tem um esquema rígido de busca e internação e de atendimento. São realizados Testes rápidos e o conhecido PCR (Proteina C Reativa) em tempo real, mais sensível ao vírus. O período de 2 tratamento é de 28 dias, sendo os 14 primeiros no hospital e depois da alta médica mais 14 dias de isolamento em Centros de isolamento ou em casa, com vigilância sanitária e epidemiológica de equipe de saúde. Cuba teve uma fase pré-epidêmica e na primeira semana de abril passou à de transmissão autóctone limitada, e não chegou à fase de transmissão comunitária.
Todos os setores do governo e da sociedade civil trabalham no âmbito da prevenção e proteção para que a curva de crescimento da Covid-19 seja menos elevada, a partir de um modelo matemático – curva alta (linha vermelha), média (linha verde) e baixa (linha azul, favorável). Para isso, preventivamente, foram providenciados o aumento do número de leitos e equipamentos nos hospitais; a preparação de salas de terapia intensiva; a produção de mais medicamentos pela indústria farmacêutica; a maior capacitação de equipes de saúde e de outros trabalhadores para o funcionamento adequado dos serviços; a preparação de mais Centros de diagnóstico e Centros de isolamento.
Centros Universitários, escolas, Faculdade Latino Americana de Medicina, instalações do governo; o aumento do número de Testes rápidos e PCRs; a intensificação da pesquisa e busca ativa; a produção de máscaras e batas e de máscaras protetoras para o pessoal de saúde. Dessa maneira, não há possibilidade de o sistema de saúde colapsar.
Com o objetivo de evitar aglomerações e restringir circulação inter e intraprovinciais foram adotadas outras medidas em nível de funcionamento de vários serviços e que favoreçam também a compra de produtos alimentícios, de higiene e asseio. Ainda em março foram suspensas as aulas presenciais em todos os níveis de ensino.
Hoje, passados exatamente dois meses da identificação dos primeiros casos, a situação é bastante favorável, pois há 10 dias as altas são maiores que as internações. Faleceram 77 pessoas, a maioria com doenças associadas, como as cardiovasculares, hipertensão, diabetes, alcoolismo. Dos casos ativos (menos 2 estrangeiros que tiveram alta e voltaram ao país de origem, 1 em estado crítico e 6 graves, os falecidos e as altas médicas), os que apresentam estado clínico estável representam 98,0%. Dos casos positivos, a maioria está na faixa etária entre 40 e 60 anos e há percentual similar entre sexo feminino e masculino. Os assintomáticos estão entre 40 e 60% do total de casos confirmados e o mapeamento desses casos foi fundamental para romper a cadeia de transmissão.
E a curva a que me referi anteriormente continua baixando a partir da linha azul, a mais favorável. Mas, continua o incessante chamado para a necessidade de cumprir as medidas de proteção e prevenção, para que não haja nenhum evento local que possa comprometer este resultado satisfatório. Por outro lado, Cuba confirma sua solidariedade em diferentes ações, em consonância com o defendido e o praticado, com destaque, nestes tempos, para o envio de 25 brigadas médicas a 23 países, compostas por 1500 especialistas.
Destacamos também ações de solidariedade de outros países a Cuba, quando não impedidas de se concretizarem pelas leis do bloqueio.
A máxima de José Martí “Pátria é humanidade”, sistematicamente repetida nas inúmeras manifestações massivas pelo Comandante Fidel Castro, é internalizada nas mentes e nos corações do povo cubano.
A democracia participativa da Ilha, coerente com a proposta socialista solidária e humanista, revela ao mundo que não se mercantiliza a vida e que defende os valores de cooperação, humanismo, solidariedade e a unidade de todos os setores políticos e sociais.
Assim, essa pandemia revela o valor de cada sociedade – quanto mais dirigida a privilegiar valores sociais socialistas, mais universal o atendimento tende a ser.
Vale ressaltar que neste processo revolucionário a dimensão econômica acompanha a dimensão social. E assim, com a crise da economia mundial e o bloqueio comercial e financeiro de quase 60 anos, recrudescido pelo governo dos Estados Unidos, mesmo em tempos de pandemia, o próximo será para Cuba um período complexo e desafiador.
Maria Auxiliadora César, direto de Cuba