O depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo à CPI da Pandemia da Covid-19, no Senado Federal, resultou num estrondoso golpe político ao governo Bolsonaro, a começar pelo fato de que ele teve de reconhecer, ao contrário de seu fanatismo ideológico anti-chinês, que a República Popular da China foi o país que mais colaborou com o Brasil no fornecimento de vacinas para enfrentar a Pandemia, que já nos custou a vida de mais de 441 mil compatriotas. Mesmo assim, foi obrigado a admitir que não adotou nenhuma prática para que a Diplomacia Brasileira favorecesse uma relação mais cooperativa com a nação asiática, e, ao contrário, confirmou que fez declarações falando na existência de um suposto “comunavírus”, atitude que é, totalmente, contraproducente diante do país que é o principal parceiro comercial Brasil.
Além disso, Araújo confirmou ter colocado o Ministério das Relações Exteriores para realizar a operação de importação de grandes quantidades de cloroquina dos EUA, medicamento que não possui comprovação terapêutica contra o novo coronavírus, dando a entender que obedecia ordens do Palácio do Planalto. Ainda sobre os EUA, o ex-chanceler reconheceu não ter obtido nenhuma ajuda concreta daquele país quando realizou gestões visando trazer para o Brasil, uma parte dos enormes excedentes de vacina lá existentes, indicando que a preferência por uma relação de dependência ante o governo norte-americano, nada representou em benefício para o povo brasileiro.
Ponto do alto da sessão da CPI, que também foi muito tensa, foi a participação da senadora Kátia Abreu, presidenta da Comissão de Relações Exteriores do Senado, que, munidade dados e argumentos concretos, acusou o Ex-Chanceler de não defender os interesses do povo brasileiro ao dar prioridade às suas opções ideológicas, ao invés de praticar uma verdadeira diplomacia, que promove aproximação de estados, de povos, para o que é necessário respeitar a história e a cultura de outros povos, em especial, como frisou a senadora, a República Popular da China, principal parceiro comercial brasileiro.
Foi também muito constrangedora para Araújo, a intervenção do Presidente da CPI, senador Omar Aziz, amazonense, que questionou a postura do ex-chanceler de nunca ter convidado o Embaixador da China, em Brasília, para uma reunião presencial, bem como de não ter feito qualquer contato com o Governo da Venezuela que, por solidariedade, forneceu significativas quantidades de oxigênio hospitalar para o Estado do Amazonas, num momento dramático, quando muitos brasileiros faleceram por carência do produto. “Por que o Sr não enviou um avião da FAB a Venezuela para buscar este oxigênio, que teve que vir por via rodoviária, levando 2 dias de viagem¿”. Após a intervenção de Aziz, Ernesto Araújo confirmou seu fanatismo ideológico, dizendo que sequer agradeceu ao Governo venezuelano pela doação.
Além de ter sido politicamente um grande golpe que corrói ainda mais a já declinante popularidade do governo Bolsonaro, o ex-chanceler, complicou ainda mais o já adverso clima para o depoimento do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, marcado para hoje, pois, afirmou que todas as providências adotadas na esfera diplomática, sobretudo as não adotadas para favorecer o enfrentamento à Pandemia, decorriam de orientações advindas do Ministério da Saúde, o que tornará ainda mais difícil a tarefa dos bolsonaristas em explicar porque não agiu em defesa da saúde do povo Brasil, uma obrigação de Estado, sobretudo diante da maior calamidade sanitária experimentada pelo Brasil.