Um levantamento nas agências bancárias públicas e privadas identificou a ausência de qualquer forma de prevenção nos Terminais de Auto Atendimento (TAA).
Não há aferição de temperatura, limpeza e nem mesmo um simples suporte de álcool gel com reposição diária ou quaisquer outras medidas de enfrentamento e combate em plena Pandemia de Covid-19.
Em São Paulo, estado com o maior PIB do país, um levantamento em todas as regiões da cidade, incluindo o Centro, demonstra o descaso na prevenção e proteção dos clientes e população em geral que acessam os terminais. Seja para depositarem dinheiro, realizarem saques, transferências, pagamentos ou ainda, transações de créditos, financiamentos e empréstimos, os usuários, clientes e funcionários circulam nos terminais sem nenhuma proteção por parte das agências.
Em diversos bairros da cidade, a aferição e álcool gel só é concretizada (quando é) a partir da entrada do cliente na agência após a porta giratória. No entanto, o formigueiro humano nos TAA prolifera a doença, seja no momento de abertura das portas que estão quase sempre fechadas, na utilização da caneta depositada no balcão, nos teclados, na confirmação de identificação pela digital ou novamente na porta de saída. Movimentos automáticos, feitos no dia a dia especialmente das grandes cidades, sem atenção e nenhuma proteção.
Uma vez do lado de fora, clientes, usuários e funcionários tocam suas carteiras, celulares, e, principalmente, mucosas dos olhos, narizes, bocas, ouvidos. Mas também mexem nos cabelos, tocam nos parceiros, nas crianças, nos idosos, nas portas dos carros, câmbios, volantes. Tudo absolutamente contaminado. Depois, a porta de casa e aí, enfim… a lavagem das mãos ou o uso do álcool 70% gel, possivelmente, tarde demais. Em outros estados a situação se repete, a pandemia completa 10 meses e nunca houve esse cuidado nas agências bancárias, nas áreas externas.
A agência do Banco Santander na Avenida Ibirapuera fica em frente ao Hospital do Servidor Público Estadual, IAMSPE. Nos terminais não há nenhuma forma de prevenção, mesmo estando em frente a um hospital, uma área de maior possibilidade de contaminação. Durante o expediente bancário o álcool gel fica dentro da agência, após os caixas eletrônicos, sobre um balcão. Após o fechamento da agência não há nenhum cuidado.
Hospital do Servidor Público Estadual (IAMSPE), na Avenida Ibirapuera, em frente à agência do Banco Santander
Entrevistamos Orlando Henrique Vaz, cliente da agência e que saía do caixa eletrônico, ele afirmou que nunca encontrou álcool gel nas dependências do Caixa “Eu acho uma sem-vergonhice, comem todo nosso dinheiro com taxas e não tem sequer um álcool gel para proteger os próprios clientes da agência, sem o álcool eu saio levando a contaminação para dentro da minha casa”. Outra entrevistada, Cristina Azevedo Silva, que saía da mesma agência, disse que deveria ter um controle mais rigoroso com os clientes, absurdo em plena pandemia não ter sequer álcool gel nos caixas eletrônicos.
O Brasil passa por um dos momentos mais difíceis de sua história sanitária diante da Pandemia de COVID 19. O saldo é de mais de 203 mil brasileiros mortos. Após as festas de fim de ano e pelo andar das notificações diárias teremos até o carnaval aproximadamente 3 maracanãs lotados de mortos pela COVID no Brasil, ou mais de 236 mil brasileiros mortos. Lembremos que a Itália, epicentro europeu da pandemia em março de 2020, que deixou o mundo estarrecido quando atingiu 3 mil mortos, soma até o fechamento dessa matéria menos de 80 mil mortos, o que já é em si uma tragédia. Mas quando olhamos para o Brasil não há adjetivos que qualifiquem nossa atual e desesperadora situação.
O descaso com a prevenção multiplica o número de vítimas
O Brasil, maior país da América Latina teve o tempo necessário para tomar, à luz das experiências chinesa e europeia, todas as medidas cabíveis de campanhas educativas a lockdown impedindo assim essa barbárie de transmissão do vírus. No entanto, o descaso generalizado atirou o povo às valas da irresponsabilidade e do desprezo à vida.
Paralelamente, trabalhadoras e trabalhadores da saúde se desdobram em plantões para dar conta de hospitais lotados, UTIs com 100% da sua capacidade utilizadas e profissionais que mal conseguem visitar suas próprias casas. E os números não param de subir. Ficam as perguntas:
_Por que os bancos não estão atuando na defesa do povo brasileiro que dia a dia, várias vezes ao dia, os deixa mais e mais ricos?
_Qual é a justificativa dos bancos para não estabelecerem nem uma só medida preventiva à transmissão do COVID 19 nas áreas de Terminais de Auto Atendimento, se as encontramos em outros comércios, até mesmo os de rua?
_Por que nas agências Prime, Personalitè, Estilo, Select e similares existem mais cuidados e prevenção do que nas demais agências, principalmente nas periferias?
O Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social e Presidente da CUT Rio de Janeiro, Sandro Alex de Oliveira Cézar 46, compartilha da preocupação que traz a reportagem e responde algumas das nossas questões. Para ele, os bancos sempre recebem tratamento diferenciado dos outros setores da sociedade. “Os bancos receberam 1 trilhão e 200 milhões de reais, que equivale ao mesmo recurso que se economizaria em 20 anos de Reforma da Previdência. Mas aqui no Rio de Janeiro não existe nenhuma agência que realiza limpeza nos caixas, testagem de temperatura, nem nenhuma medida no sentido de preservar a saúde pública.
E do ponto de vista sanitário não há fiscalização do órgão que deveria fazer este controle, parece que as regras sanitárias não são válidas para todos os brasileiros”, conclui Cezar.
O que dizem os trabalhadores bancários
Em entrevista, o Presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, Kleytton Guimarães Morais, 42, disse que no início do processo pandêmico foi discutida a proteção aos trabalhadores e população, mas que certas medidas esbarram nos limites da representação sindical.
“A atuação do Sindicato se deu, sobretudo, na parte interna da agência, bem como nas superfícies de contato com os funcionários devido ao Covid, o que garantiu por exemplo, que nenhum trabalhador em atividade entrasse em óbito. Nas negociações do acordo Bancários-Covid, o Sindicato não apenas trouxe questões sobre a importância de EPI ‘s como também acionamos o Ministério Público e o GDF para uma atuação conjunta do Sistema Financeiro, além de colocar uma série de contingências.
E ainda foi sugerido pelo sindicato a criação de um Comitê de Crises para acompanhamento das medidas que estavam no decreto e que teria o papel de acompanhar situações como esta que a reportagem trás. No entanto, a proposta não foi encaminhada pelo governador”, diz Morais.
Para Ivone Maria da Silva, Presidenta reeleita do Sindicato dos Bancários de São Paulo, houve por parte do Sindicato inúmeras negociações no sentido de assegurar equipamentos de segurança e proteção individual (EPI) para os funcionários desde o início da pandemia, além da sobrecarga dos trabalhadores que suprem a falta de concurso e contratação. Durante a pandemia havia que se assegurar a manutenção dos seus empregos, e mesmo assim muitos bancos demitiram.
Sobre os Terminais de Autoatendimento é fundamental que haja uma cobrança dos clientes e usuários. Nós bancários estaremos juntos nos comprometendo a intensificar essa cobrança nas negociações e acordos, trazendo essa responsabilidade da parte dos bancos à discussão, mas a presença da sociedade na reivindicação dessa demanda é imprescindível e urgente”, conclui.
O que o JBP apurou ainda é que há um afrouxamento do controle e de medidas preventivas protocolares por parte do setor público, da iniciativa privada e da população.
Buscamos ouvir algum representante dos bancos. Após algumas tentativas de ligação na Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em canais de atendimento e telefones disponíveis que não são atendidos, enviamos mensagem com o número de protocolo 00014422 de 08-01-2021, solicitando uma entrevista e estamos aguardando o retorno.
Essa matéria é um alerta, mas também um convite à população brasileira para se atentar a cada local que pode ser um vetor de transmissão da COVID 19.
Atente-se. Preserve a sua vida e a de seus familiares, não se exponha e exerça o controle social acionando os órgãos de defesa do consumidor e a cobrança em todas as agências em que você comparecer. Para salvarmos vidas e para que a consciência coletiva se expanda.