Flor de lis era um nome que me remetia a doçura e carinho por conta da música de Djavan, da qual peguei uma passagem para o título do texto, depois pela lembrança de uma colunista que marcou a história do jornalismo maranhense, tanto nos jornais como na TV, sempre sorridente e feliz. Mas eis que na altura de tantos acontecimentos surpreendentes e tristes desse ano de 2020 somos impactados pela notícia de que a cantora, pastora e deputada federal pelo estado do Rio de Janeiro, de nome Flor de lis, só que com as palavras todas juntas, Flordelis, é apontada pela polícia como a mentora e mandante do assassinato do seu marido, o também pastor Anderson do Carmo.
A notícia traz revelações da vida pessoal da deputada que foram se tornando públicas a partir de então. Algumas já sabidas, como os mais de 50 filhos adotivos. Outros detalhes, desconhecidos até então, tornam a história mais curiosa, como o fato desse mesmo marido já ter sido um dos seus filhos adotivos e ter se relacionado amorosamente com uma das filhas da deputada, irmã do pastor, antes do matrimônio com Flordelis. Tem um outro filho adotivo que diz ter tido encontros sexuais com a pastora. Tem fiel da igreja afirmando que ela frequentava casa de swing (prática de troca de casais visando apimentar torrencialmente as relações).
Essas notícias sobre a vida sexual da deputada, revelam que ela, como todo ser humano, tem seus desejos e busca saciá-los. Caso não se utilize de qualquer instrumento que desrespeite a lei e a vontade alheia, só diz respeito a ela mesma. O assunto chama atenção por conta das posições públicas da deputada que no púlpito se mostrava uma ardente defensora de costumes conservadores, os quais tentava impor aos seus fiéis, enquanto ela, guardava somente pra si o direito de que toda maneira de amor e prazer vale à pena.
O chamado “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, coloca apenas a prática sexual e a vida da pastora na conta da hipocrisia cada vez mais conhecida de boa parte de líderes religiosos que sabem muito bem o que seu público gosta de ouvir e portanto, o dizem de forma teatral.
Quanto à adoção dos filhos, ficou a impressão de que eles seriam, para a deputada, apenas um número a compor uma peça de propaganda visando provocar uma sensibilidade que ajudaria na ocupação de espaço político e ao mesmo tempo consolidaria a “sua igreja” que nasceu denominada Ministério Flordelis. Não podemos continuar vendo com naturalidade que qualquer pessoa adote mais de 50 crianças sem demonstrar a capacidade necessária para educá-las, acompanhá-las e guiá-las no caminho de desenvolvimento de suas vidas e da sua inserção social.
No seu imaginário, Flordelis idealizou um Deus só seu, que se ofende de forma escandalosa com uma separação mas que, nos delírios dela, consideraria menos grave e portanto tolerável, um assassinato com 30 tiros, onde os próprios filhos são arregimentados como assassinos, formando o que agora a polícia dá o conceito de “organização criminosa intrafamiliar”.
Anderson e Flordelis viviam uma relação cheia de mistérios pelo que vimos agora. Tudo indica que a sua morte foi motivada por dinheiro e disputa de poder. Oxalá não tenha coisa pior por trás de tudo isso. 30 tiros buscavam dar a certeza de que uma execução não falharia como nas outras seis tentativas anteriores de matar o pastor, conforme a polícia. O tempo nos dirá tudo que aconteceu de fato. Para Anderson, o tempo acabou e talvez em seu último suspiro tenha lembrado da primeira frase da música que intitula o texto: “Valei-me Deus”.