O livro “Economia Solidária Digital”de Emanuele Rubim e Lucas Milanez se apresenta como uma contribuição significativa ao movimento da economia solidária, especialmente no contexto de sua adaptação ao ambiente digital, aonde a digitalização está remodelando profundamente todos os aspectos da vida social e econômica. A obra, ao explorar como os princípios cooperativistas podem ser aplicados ao ambiente virtual, ou as plataformas digitais, os autores propõem um conceito que não só é inovador, mas também fundamental para a adaptação e sobrevivência dessas práticas em um mundo cada vez mais digital que ilustram a transição da economia solidária para o mundo virtual. No entanto, como qualquer abordagem pioneira, o conceito traz consigo certos limites que merecem ser considerados para que o movimento da economia solidária possa se apropriar de maneira ainda mais ampla e eficaz dessa proposta.Este artigo propõe, portanto, uma crítica construtiva ao livro, destacando tanto sua importância quanto os aspectos que poderiam ser expandidos para uma compreensão mais abrangente da economia solidária digital.
O conceito de economia solidária digital no estágio atual é de grande relevância, pois responde diretamente ao desafio de adaptar práticas solidárias tradicionais a um ambiente digital que, por sua própria natureza, apresenta dinâmicas muito diferentes das que caracterizam a economia solidária clássica. Ao digitalizar essas práticas, o conceito abre novas possibilidades para a inclusão social, a autogestão e a justiça econômica, permitindo que comunidades tradicionalmente marginalizadas possam participar de maneira mais ativa na economia global.Apesar de suas muitas qualidades, o livro, entretanto, apresenta uma limitação conceitual significativa ao focar quase exclusivamente no cooperativismo de plataforma como a principal manifestação da economia solidária digital. Embora o cooperativismo de plataforma seja uma inovação importante e necessária, ele não é a única forma pela qual a economia solidária se expressa no ambiente digital. Ao centrar sua análise nesse modelo, os autores acabam por desconsiderar outras formas e movimentos históricos que também fazem parte da economia solidária e que têm sido igualmente transformados pela digitalização.
Através de uma linha do tempo bem estruturada, é possível complementar as que os autores mapearam. Iniciativas histórica como o Cirandas, organizado pelo Fórum Brasileiro de Economia solidária – FBES, ou, o E-Dinheiro, aplicativo fundamental para estruturação da rede brasileira de bancos comunitário digitais e a difusão da moedas digitas, o Portal Jornal Brasil Popular que serve nesse momento para difundir esse artigo que foi organizado por uma Associação de jornalista e comunicadores, além , da atual inciativa no campo da formação a distância em economia solidaria, estruturada pelo Centro de Estudo e Assessoria – CEA, a plataformaEducaEcosol, que também desenvolve atualmente o primeiro programa nessa área o ECOSOLDIGITAL, mesmo não exploradas na linha do tempo destacada no livro (páginas 24 e 25), representam juntos exemplos de como a economia solidária pode se beneficiar das tecnologias digitais e assim expandir seu alcance e impacto. Essas ferramentas digitais são fundamentais para a construção de uma economia mais inclusiva, onde o controle das operações é devolvido às comunidades e os seus resultados econômicos distribuídos de maneira equitativa entre os participantes.
Para que o movimento da economia solidária possa se apropriar plenamente do conceito de economia solidária digital, é necessário considerar o livro como um ponto de partida, e não como um quadro completo. A digitalização da economia solidária é um processo dinâmico e em constante evolução, que requer a inclusão de uma gama mais ampla de experiências e setores do que aqueles apresentados na obra. Nesse sentido, destaco três aspectos complementares ao processo de construção ativa e orgânico do conceito de economia solidária digital:
Inclusão de Outras Práticas e Iniciativas.
O conceito de economia solidária digital, como descrito no livro, ganha força quando incorporado por uma diversidade maior de práticas que já estão utilizando o digital de maneiras inovadoras, são fundamentais para a compreensão plena do conceito. Essas diversidades de práticas mostraram que a economia solidária digital não se limita ao cooperativismo de plataforma, mas se estende a uma variedade de práticas que fortalecem o movimento de forma ampla e diversificada.
Reconhecimento da Diversidade de Setores e Movimentos.
A economia solidária é um movimento multifacetado que opera em diversos setores, como a agricultura familiar, o comércio justo, e as redes de troca, cada um dos quais enfrenta desafios únicos no processo de digitalização. Para que o conceito de economia solidária digital seja realmente inclusivo, é essencial reconhecer e incorporar essas diversas experiências. A integração dessas práticas pode enriquecer o conceito e torná-lo mais representativo da realidade multissetorial da economia solidária.
Necessidade de Expansão Conceitual e Inclusão de Tecnologias Emergentes.
À medida que a economia digital continua a evoluir, novas tecnologias emergentes, como a inteligência artificial e o blockchain, oferecem oportunidades adicionais para fortalecer a economia solidária digital. A inclusão dessas tecnologias no debate pode abrir novas possibilidades para a gestão democrática, a transparência e a sustentabilidade das iniciativas solidárias. Incorporar essas inovações ao conceito pode ampliar ainda mais o impacto da economia solidária no ambiente digital.
Portanto, o livro “Economia Solidária Digital” é, sem dúvida, um marco importante na reflexão sobre a adaptação da economia solidária ao ambiente digital. Ele oferece uma base sólida para o desenvolvimento de práticas que podem transformar a maneira como as comunidades se organizam, cooperam e prosperam em um mundo cada vez mais conectado. No entanto, como qualquer obra pioneira, ele também apresenta certos limites que podem ser superados através de um debate contínuo e inclusivo.
Os autores, ao sugerirem na página 72 que o tema é dinâmico e merece ser continuamente refletido, abrem espaço para que o conceito seja expandido, enriquecido e adaptado às novas realidades. Nesse sentido, a crítica não deve ser vista como oposição, mas como uma contribuição valiosa para o fortalecimento do conceito e para a ampliação de sua aplicabilidade no movimento da economia solidária. Ao incorporar uma diversidade maior de experiências e setores, e ao explorar novas tecnologias, o conceito de economia solidária digital pode se tornar uma ferramenta ainda mais poderosa para a construção de uma economia verdadeiramente inclusiva, justa e sustentável.