O mercado financeiro especulativo – a Faria Lima – aliado do Banco Central “Independente”, que manteve em 10,5% a Selic, na última reunião do Copom, sob argumento de combate à inflação de 3,9%, em 12 meses, sustentando, assim, juro real de 7%, o mais alto do mundo, quer manter o presidente Lula calado e conformado com tal situação.
Diz o mercado e o BC que a inconformidade de Lula provoca aumento do dólar, de modo que o melhor que ele poderia fazer é ficar calado e não reclamar que o juro escorchante impede o crescimento econômico e sua política desenvolvimentista de distribuição de renda e combate à desigualdade social.
Lula estaria se constituindo em fator de instabilidade geral da economia, porque reclama da estratégia monetária do BC “Independente”, que trabalha para o mercado especulativo, não para a sociedade, que reclama desenvolvimento sustentável, conforme o presidente prometeu em campanha eleitoral.
É verdadeira essa argumentação dos especuladores do mercado e do BC?
Não, responde o economista Petrônio Portella Filho, Consultor Econômico concursado do Senado, autor de “A moratória soberna”, Editora Alfa Ômega, e “As mentiras que contam sobre a economia brasileira”, editora Dialética.
Não é justificável, segundo ele, Selic no patamar de 10,5%, quando inflação em 12 meses, encontra-se dentro da meta inflacionária, 3,93%, monitorada pelo próprio BC.
O problema que explica o juro alto, a tirar o presidente da República do sério, indo ao ataque ao titular do BC, Roberto Campos Neto, bolsonarista neoliberal de carteirinha, é o câmbio flutuante adotado pela instituição que sofre os efeitos diretos da atual política monetária dos Estados Unidos.
IMPERIALISMO SUFOCA BRASIL
O Fed (BC americano) está sustentando patamar histórico elevado de juros, na casa de 5,25 a 5,50% ao ano, para reduzir inflação, o que espalha instabilidade global.
Atualmente, diz Petrônio Filho, formado na UnB, mestrado na Universidade de Minnesota, doutorado na Unicamp, pesquisador do IPEA, de filiação keynesiana, o Banco Central americano mantém a taxa de juros em patamar elevado para padrões históricos: 5,25% a 5,50%. A ideia dele é reduzir a inflação interna, que está na casa dos 3% anual, elevada para padrão americano, para 2%.
Para tanto, o Fed puxa a taxa de juro, o que atrai capital especulativo para os Estados Unidos de todo o mundo, inclusive do Brasil.
A fuga de capital para a América, diz ele, leva o BC “Independente” brasileiro a puxar, também, os juros internamente, em vez de controlar aqui o câmbio.
Como o Brasil não pratica controle de capitais, a economia americana atraiu capitais que estavam aqui, provocando escassez, explica Petrônio.
Resultado: o real foi a moeda que mais se desvalorizou em 2024: 10,5%. O aumento do dólar pressiona a inflação. E a função principal do Copom é controlar a inflação, quando deveria ser também o crescimento do PIB, destaca o economista.
Está aí, na opinião dele, uma explicação mais crível para a decisão unânime do Copom pela interrupção da queda dos juros. Portanto, não foi culpa da política fiscal de Lula, que, aliás, é austera para padrões internacionais, na opinião do economista do Senado.
CONTROLE CAMBIAL JÁ
“A solução ideal para o Brasil seria baixar a Selic para nível civilizado e instituir controle cambial como fez no passado. Tal mudança traria alívio tanto para a política cambial, quanto para a política monetária do BC. E a política fiscal do governo federal ficaria livre das amarras atuais. O Brasil precisa de mais investimento público e de mais gastos na reconstrução da máquina pública que Guedes e Bolsonaro tentaram destruir”, destaca Petrônio.
Infelizmente, conclui, tais mudanças não são sequer cogitadas pelo governo centrista de Lula que, na atual conjuntura, é refém das armadilhas criadas pelo tripé econômico neoliberal – câmbio flutuante, metas inflacionárias e superávit primário -, vigente desde a Era neoliberal de FHC, submetida ao Consenso de Washington.
Foto TV Antena – Piauí
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.