Na segunda-feira (6), logo cedo, me assustei com uma mensagem no WhatsApp. Me perguntavam se Tom Phillips, correspondente do The Guardian no Brasil, estava desaparecido no Vale do Javari, uma das regiões mais perigosas da Amazônia. Meu marido, Jonathan Watts, é editor global de meio ambiente do jornal britânico e vive na Amazônia comigo. Tom, porém, estava em sua casa, no Rio de Janeiro, e atendeu prontamente ao celular. Se não era Tom, quem então estaria desaparecido? Dom Phillips, concluímos no segundo seguinte.
A diferença de apenas uma letra no nome de dois jornalistas que escrevem para o The Guardian no Brasil costuma provocar confusão. Dom é um dos melhores amigos de Jon, é um cara adorável, excelente jornalista, repórter experiente e responsável. Sabíamos que Dom estava trabalhando num livro sobre a floresta. Pedi então a uma liderança indígena do Vale do Javari que me enviasse uma foto da pessoa desaparecida, para que pudéssemos ter certeza. Quando a imagem se abriu no celular, a certeza era uma mão esmagando o estômago. Sim, era Dom. Nosso amado Dom, com seu rosto solar, de quem nada teme mostrar ao mundo, vestido pelo verde da floresta ao seu redor.
A dor então se tornou mais pungente. Era preciso contar à sua esposa, nossa amiga Alessandra, e à família na Inglaterra, que Dom estava desaparecido havia 24 horas. Também era necessário informar ao Guardian, jornal com o qual Dom colabora com mais frequência. Quem viajava com Dom era Bruno Pereira, um dos mais importantes indigenistas de sua geração, exonerado de seu cargo na Fundação Nacional do Índio em 2019, quando Sergio Moro era ministro da Justiça, após comandar uma operação de repressão ao garimpo ilegal. Servidor de carreira da Funai, Bruno precisou pedir licença do órgão para seguir protegendo os indígenas: sob o governo de Bolsonaro, a Funai se tornou um órgão contra os indígenas.
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