Como diz o ditado popular, “a lei dita e o exemplo arrasta”. Assim definimos Elza Soares, um corpo político, com marcas individuais e coletivas, que partiu deixando um enorme legado para a cultura brasileira e para as lutas populares de combate ao autoritarismo, racismo, sexismo, violências e desigualdades.
Mulher negra, artista, mãe, Elza Soares era uma composição de características de pessoas que nasceram para ocupar todos os índices de vulnerabilidades, que atingem milhões de mulheres negras e periféricas de nosso país.
Mas ela virou o jogo, quebrou a banca e se transformou em um meteoro. Logo ela que disse vir do planeta fome, fez um movimento ascendente em direção à transcendência, o que a tornou uma esfera que gira, que cria, que ilumina e faz do seu próprio planeta uma fonte inesgotável de vida, uma legítima bombogira (espírito ancestral feminino de origem africana, conhecedora do tempo e das origens da vida e seus desígnios).
Da mesma forma que olhamos para conceitos da luta antirracista e antissexista, devemos olhar para o que ela viveu, a partir de parâmetros coletivos/próprios de liberdade. Elza era a potência de sua imagem, tal como um arcabouço profundo da compreensão de humanidade, com plena consciência de seu papel.
O empenho da Elza Soares não foi despretensioso, não foi por acaso. Foi uma manifestação ao racismo e sexismo, comuns à vida das mulheres que ela representava.
É incrível observar uma mulher negra que saiu de um não-lugar, aquele onde os seres humanos ficam anônimos, para outro não-lugar; ou seja, ao sair “do planeta fome”, Elza Soares estabeleceu seus próprios parâmetros de humanização, alargada por suas marcas individuais e coletivas.
A sua vida e obra se comunicam diretamente com nossa luta contra a opressão, a violência doméstica, pela possibilidade de ter uma vida, se quiser transgressora, da forma que quiser e bem convier. Basta observar um trecho de “Mulher do fim do mundo”, que a deixa imortal.
“Cantar
Eu quero cantar até o fim
Me deixem cantar até o fim
Até o fim eu vou cantar
Eu vou cantar até o fim
Eu sou mulher do fim do mundo
Eu vou, eu vou, eu vou cantar, me deixem cantar até o fim.”
Elza superou o que há de pior para nós mulheres negras; a perda dos nossos filhos, superou a fome, a invisibilidade, deixou tudo isso em algum lugar no passado e caminhou em frente para iluminar com força e resistência o seu legado. O que parecia otimismo era sua convicção de que não poderia esmorecer ou desistir. Nisso, a sua trajetória traduz muito bem o que nós, mulheres negras, nos empenhamos para seguirmos erguidas.
Suas últimas palavras foram “eles vieram me buscar”. Eles quem? Zumbi, Dandara, Tereza de Benguela, Tia Ciata, T´a Joaquina, Luís Gama, Esperança Garcia, Luíza Bairros, Mãe Beata de Iemanjá. Elza pertencia a este grupo de guerreiros e guerreiras negras. Agora, todas e todos sabem, ela sabe, nós sabemos.
(*) Por Joseanes Lima dos Santos, mestra em Sustentabilidade junto a Povos e Comunidades Tradicionais/MESPT/UnB e integrante da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno.
SEJA UM AMIGO DO JORNAL BRASIL POPULAR
O Jornal Brasil Popular apresenta fatos e acontecimentos da conjuntura brasileira a partir de uma visão baseada nos princípios éticos humanitários, defende as conquistas populares, a democracia, a justiça social, a soberania, o Estado nacional desenvolvido, proprietário de suas riquezas e distribuição de renda a sua população. Busca divulgar a notícia verdadeira, que fortalece a consciência nacional em torno de um projeto de nação independente e soberana.
Você pode nos ajudar aqui:
Banco do Brasil
Agência: 2901-7
Conta corrente: 41129-9
BRB
Agência: 105
Conta corrente: 105-031566-6 e pelo
→ PIX:23.147.573.0001-48
Associação do Jornal Brasil Popular – CNPJ 23147573.0001-48
E pode seguir, curtir e compartilhar nossas redes aqui:
BRASIL POPULAR, um jornal que abraça grandes causas! Do tamanho do Brasil e do nosso povo!
Ajude a propagar as notícias certas => JORNAL BRASIL POPULAR
Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua