Já estão provisionados mais de R$ 80 bilhões a serem pagos ao longo de 2025 em dividendos e juros sobre capital próprio.
As empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores brasileira pagaram R$ 308 bilhões em proventos (principalmente dividendos + juros sobre capital próprio) em 2024. O valor representa alta de 13% na comparação com 2023. O resultado, porém, ficou atrás de 2021 e 2022, este último o ano recorde em pagamento de proventos, quando o valor alcançou R$ 393 bilhões. O levantamento foi feito pela plataforma Meu Dividendo.
O maior aumento em relação ao ano passado foi do Itaú Unibanco (ITUB4), com alta no pagamento de dividendos e JCP de 124%. Em seguida, outra empresa do mesmo grupo econômico, a Itaúsa (ITSA4), com crescimento de 89%. Telefônica (VIVT3) fecha o pódio das empresas que mais elevaram os pagamentos em relação a 2023, com alta de 27,5%.
O grande crescimento da Telefônica veio da redução do capital social e restituição desses valores aos seus acionistas. A empresa restituiu R$ 1,5 bilhão em 2024 e já aprovou nova redução de capital social no valor de R$ 2 bilhões a ser realizada em 2025, o que equivale a um valor de R$ 1,22 por ação.
A Petrobras (PETR4) manteve o posto de maior pagadora de proventos, distribuindo pouco mais de R$ 103 bilhões em 2024, aproximadamente 1/3 dos dividendos e JCP pagos pelas empresas negociadas em Bolsa. A estatal aumentou em 4% o volume de proventos pagos ante o mesmo período de 2023.
“Apesar de termos vislumbrado a possibilidade de um Dividend Yield (DY) superior a 15%, houve resistência por parte do governo em relação aos dividendos extraordinários no primeiro trimestre, que gerou o desgaste do então presidente Jean-Paul Prates custando-lhe a cadeira da gestão da estatal. Tudo indicava que haveria alguma mudança na política de distribuição de proventos, o que acabou não acontecendo”, afirma Wendell Finotti, CEO da Meu Dividendo, plataforma especializada de antecipação de dividendos.
A Vale (VALE3), como esperado, decepcionou e reduziu em 24% o volume de dividendos e demais proventos pagos em 2024, caindo para o terceiro posto entre os maiores pagadores, com quase R$ 29 bilhões. A segunda colocação foi reivindicada pelo Itaú Unibanco, com R$ 28 bilhões. A Itaúsa ficou em quarto lugar, com R$ 12,7 bilhões. Dessa forma, as empresas controladas pelas famílias Setúbal e Villela pagaram a seus acionistas pouco mais de R$ 40 bilhões. O Itaú Unibanco também tem, entre seus controladores, a família Moreira Salles, por meio da Iupar.
Setor elétrico se destaca em dividendos e JCP em 2024
Um destaque vai para as empresas do setor elétrico. A grande maioria das companhias desse segmento apresentaram um crescimento no pagamento de dividendos superiores a 40% na comparação com os resultados do ano de 2023. Dentro do setor elétrico algumas empresas decepcionaram significativamente. É o caso da Auren (AURE3) com uma queda de 86,7% e Engie Brasil (EGIE3) com uma redução de 53%.
No setor de consumo cíclico, as empresas de construção civil fizeram a diferença. Entretanto, a grande empresa do setor, a Ambev (ABEV3), apresentou uma redução de 66% no volume de proventos pagos, somando apenas R$ 3,86 bilhões pagos em 2024 ante R$ 11,5 bilhões distribuídos em 2023.
No setor de bens de consumo não cíclico, as empresas de proteína animal JBS (JBSS3), Marfrig (MFRG3) e BRF (BRFS3) fizeram grandes distribuições de dividendos e foram as grandes responsáveis pelo desempenho do setor.
O grande destaque do setor de bens industriais ficou por conta da Santos Brasil (STBP3) que pagou mais de R$ 2 bilhões de proventos em 2024 ante pouco mais de R$ 300 milhões distribuídos aos acionistas em 2023.
Empresa | 2023 (R$) | 2024 (R$) | Variação |
Petrobras | 99.072.754.863,44 | 103.239.232.014,03 | 4,2% |
Itau Unibanco Holding | 12.439.620.337,21 | 27.894.993.053,27 | 124,2% |
Vale | 28.912.535.033,43 | 21.934.057.465,76 | -24,1% |
Itausa | 6.720.952.227,20 | 12.706.374.950,09 | 89,1% |
Banco do Brasil | 13.102.478.493,61 | 12.522.230.514,77 | -4,4% |
Santander | 6.246.770.704,74 | 7.540.939.328,55 | 20,7% |
Bradesco | 6.562.912.428,90 | 6.052.131.281,26 | -7,8% |
Telefônica Brasil | 4.292.193.892,66 | 5.473.281.348,44 | 27,5% |
BB Seguridade Participações | 6.972.427.880,00 | 5.304.394.126,46 | -23,9% |
Cemig | 1.988.227.285,82 | 4.879.938.752,74 | 145,4% |
Mais de R$ 80 bilhões de dividendos e JCP já provisionados para 2025
O ano que começa chega com boas notícias para os acionistas e já apresenta um provisionamento de mais de R$ 80 bilhões em proventos a serem pagos ao longo de todo o ano. Para efeito de comparação, 2024 começou com apenas R$ 57,33 bilhões de pagamentos de dividendos e JCP provisionados de 2023. Um crescimento de 40%.
Para Finotti, “a Petrobras deverá continuar seguindo como uma das grandes pagadoras de proventos da B3”, basicamente por três motivos: a empresa vem mantendo uma política de preços dos combustíveis que permite auferir lucro na operação e então, dividir parte desse lucro com seus acionistas; o Governo Federal, principal acionista da empresa, precisa aumentar sua arrecadação para fazer frente aos desafios orçamentários e é um dos principais beneficiados pelos dividendos; a atual gestão apresentou o novo plano de negócios da empresa onde aumentou a meta de dívida bruta da companhia para US$ 75 bilhões e reduziu seu nível mínimo de caixa para US$ 6 bilhões, abrindo espaço para o aumento do pagamento de dividendos.
Empresas com forte solidez financeira, baixo endividamento e com bom histórico de pagamento de proventos devem estar na mira do investidor que está procurando se proteger de grandes oscilações, mas que deseja continuar investindo em empresas listadas na bolsa brasileira, destaca a Meu Dividendo.
Uma das estratégias para os investidores criada pela plataforma é o acrônimo com as iniciais dos setores que mais pagam proventos no Brasil: EGGSS – Energia, Gás e Óleo, Grandes Bancos, Saneamento e Seguros.
As empresas nos setores de serviço público como Energia e Saneamento costumam ter uma demanda fixa contratada, revisão tarifária com base na inflação, baixos investimentos e elevada geração de caixa. O setor financeiro é o que mais paga proventos na B3. A competição entre as instituições financeiras é baixa, o que lhes confere uma elevada lucratividade. Já o setor de seguros tem crescido ano a ano no Brasil. Novos produtos estão sendo lançados, e o brasileiro criou o hábito de adquirir seguros pessoais e patrimoniais.
Proporção de JCP teve queda de 3% em 2024
Após as novas medidas aprovadas pelo Congresso em dezembro de 2023 para tentar reduzir a utilização de juros sobre capital próprio pelas companhias de capital aberto da B3, o volume total pago ao longo de 2024 teve uma queda proporcional de 3% em relação ao volume total de proventos pagos no ano.
Em 2024, o investidor demorou, em média, 81 dias para receber seus proventos desde a Data Com; praticamente o mesmo prazo praticado pelas empresas em 2023 que foi de 82 dias.