Em entrevista ao jornal O Globo, o indígena estimou que terras dos povos originários já têm mais de 100 mil garimpeiros e contou que corre risco de vida
Reconhecido internacionalmente por sua luta pelos direitos do povo Ianomâmi, Davi Kopenawa não vê motivos para comemorar os 30 anos da demarcação da maior terra indígena do país daqui a um mês e diz que este é o pior momento para os 30 mil ianomâmis que vivem nas comunidades invadidas em Roraima, onde há, segundo ele, muito mais garimpeiros. “Dentro e e fora de nossas terras, há mais de 100 mil garimpeiros”, diz o líder indígena, que acusa o presidente Jair Bolsonaro de incentivar a atividade ilegal.
Terror ianomâmi:Garimpeiros aliciam mulheres e adolescentes indígenas trocando comida por sexo
De São Paulo, onde está para acompanhar a exposição do amigo fotógrafo Sebastião Salgado sobre a Amazônia, Kopenawa afirma ao GLOBO que a floresta conhecida como “pulmão do mundo” está destruída pelo garimpo e faz um apelo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para retirar os garimpeiros que levam terror aos seus parentes, com doenças, abusos sexuais contra crianças e mulheres, além de aliciar jovens com bebidas alcoólicas. “As autoridades precisam de coragem”, diz.
Ianomâmi:Garimpo ilegal cresce 46% na maior destruição em 30 anos de demarcação
Presidente da Hutukara Associação Yanomami e prestes a completar 66 anos, Kopenawa se diz preocupado, mas confiante na salvação da Floresta Amazônica. “Existe solução e ela passa por nós indígenas, mas agora o pulmão do mundo está estragado. Essa é minha luta”, diz o autor de A Queda do Céu, com o antropólogo francês Bruce Albert, ao revelar não se sentir confortável na cidade por sua segurança. “Garimpeiros têm raiva de mim”.
Confira os principais trechos da entrevista:
O senhor ajudou a denunciar à ONU, em 1992, o massacre de Haximu, quando 12 ianomâmis foram mortos por garimpeiros. Depois disso a Terra Indígena Yanomami foi homologada, isso melhorou a vida do seu povo?
De lá pra cá melhorou um pouquinho, mas invasores retornaram com o garimpo forte desde 2016 e agora então aumentou muito o número dos garimpeiros na área indígena e também na cidade. Agora em 2022 tem muita gente envolvida, autoridades, grandes empresários dão apoio a garimpeiros para continuar trabalhando em terra ianomâmi e autoridades brasileiras não estão preocupadas com a gente. Nem Funai e nem governo, pelo contrário, querem tirar o ouro da terra ianomâmi.
Há denúncias de abuso contra crianças e mulheres em território Ianomâmi. Como as lideranças estão lidando com essa situação?
Garimpeiros que estão na terra ianomâmi não levam a mulher deles para usar lá. Como eles não levam mulher, então eles abusam de nossas índias, estuprando, levando doença, sempre levam doença. Isso é muito ruim para mim, pois aumentou a invasão do garimpo. Hoje é o mais grave momento do povo ianomâmi e com o aumento do número de garimpeiros já existem 50 mil garimpeiros, quem compra ouro, alimenta o garimpeiro, dentro e fora da cidade, nas minhas contas dão mais de 100 mil garimpeiros nesse processo. Estamos sempre denunciando para que as autoridades nos escutem, mas estão nos ignorando. Eu gostaria muito que as autoridades pensassem em fazer uma grande reunião entre eles Funai, Polícia Federal, Ministério da Justiça, Ibama, Exército, Ministério do Meio Ambiente e do da Defesa. Esse é o papel deles. Decidir para tomar as providências urgente, junto com o governo federal, que tem dever de resolver esse problema, urgente. Ano passado já pedimos várias vezes para todos eles. Falei com delegado da PF e outros agentes e todos me falaram que é muito difícil para tirar os garimpeiros por que nossa terra é muito grande. Eles já estão acostumados a se esconder e fugir na floresta.
Há grande número de crianças desnutridas nas aldeias, o povo ianomâmi está passando fome?
Na minha comunidade não estão passando fome, porque não deixamos o garimpo chegar por lá, mas onde há garimpo, há fome. Estamos passando mal de fome e isso não é culpa dos ianomâmi, não é culpa minha, os garimpeiros estão nos jogando uns contra os outros. Não temos mais água limpa, não tem mais peixe e por isso que nós parentes de Roraima que moram na fronteira (Venezuela), nos rios Uraricoera, Palimiú, Mucajaí, Apiaú, são hoje rios sujos, contaminados, eles não têm peixe. Ali que está acontecendo de entrar a fome, garimpeiro que está causando isso ali, destruindo enquanto vê os ianomâmis morrer de fome. E como não tem comida na comunidade, eles (indígenas) acabam se aproximando do garimpo, e o garimpeiro aproveita para enganar eles, se alimentar, vai sustentar, ficam mentindo, ianomâmi que está próximo a garimpo não pode mais pescar, não pode mais caçar e não pode mais fazer um roçado. Eles estão doentes, de malária e outras doenças que entraram, como o coronavírus, piorou muito. Jovem ianomâmi hoje está enganado, eles estão enganando eles. A maioria está lutando, nos unimos, mas os jovens que estão com o garimpo estão envolvidos por dinheiro de nada, por bebida alcoólica, jovem não vai ganhar importante nada, só vai ganhar uma doença. Essa é a minha fala.
(*) Por Daniel Biasetto do jornal O Globo
Foto da capa/legenda:
Davi Kopenawa Yanomami, liderança indígena brasileira Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo
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