“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino,não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus”
Luiz Inácio Lula da Silva (in verbis)!
Entre as várias qualidades que diferenciaram o Homo sapiens dos demais animais na trilha evolutiva, destaca-se a aquisição e qualificação da fala. “Falar” permitiu que nos organizássemos; que soubéssemos o que o outro deseja, imagina ou sente; facilitou planejar o futuro conversando sobre o passado; evitou conflitos ao minuciar intenções; deu-nos valores inimagináveis e a possibilidade de dividir sonhos; permitiu-nos desenvolver e divulgar conhecimentos; presenteou-nos com aproximação de ideais e sentimentos para suplantarmos adversidades de um momento.
A fala é uma das bases da civilidade!
Entretanto, ela exige respeito à verdade dos fatos, inteligência mínima, qualificação de raciocínio, justeza de lógica, fidedignidade ao que se diz e expressa (in verbis), envergadura ética e moral. Caso contrário, inviabiliza o diálogo e cada um vai entender o que quer, ou distorcer de acordo com suas intenções.
A citação de Lula de que o genocídio na Faixa de Gaza se compara a “quando Hitler resolveu matar os judeus”, é uma colocação precisa, pontual e deve ser interpretada respeitando a temporalidade na história. “Quando Hitler resolveu matar os judeus”, os nazistas ainda não haviam planificado o extermínio de ciganos, homossexuais, deficientes, negros e também dos judeus; os “nacionais socialistas” ainda matavam os próprios alemães, inclusive suas crianças consideradas como “inferiores” (os não condizentes com a “pureza” da raça ariana); os “nacionalistas” ainda organizavam a “máquina de guerra” para iniciar a II Guerra Mundial.
Também, e importante, iniciava a “máquina da propaganda” hitlerista, que foi extremamente eficaz através de seu ministro da propaganda Joseph Goebbels. Ele teria asseverado: “uma mentira repetida várias vezes transforma-se numa verdade”. Hitler teria complementado: “quanto maior a mentira, mais facilmente ela seria aceita”!
Um exemplo é que, entre os motivos justificados por alguns jornais daquela época para a invasão da França, estava a foto de um homem negro conversando com uma mulher branca num bar parisiense e abaixo escrito: “Precisamos salvar os franceses dos negros”!
Essa era a lógica da então chamada “Lügenpresse”, ou “imprensa da mentira”, atualizada e agora chamada de “Fake News”. O propósito nazista era distorcer fatos, deturpar acontecimentos, adulterar a verdade, estimular a beligerância, desorientar a população alemã, exatamente como ainda faz a extrema direita mundial na busca de adeptos.
Uma “Lügenpresse = Fake News” é a “verdade torturada”, é o fato maculado, é a mentira fantasiada, é o raciocínio pervertido, é a fala corrompida, é o engodo afirmado como verossímil.
Muito distante de explicar ou justificar a fala de Lula, sabe-se que em nenhum momento ele citou o Holocausto, mas ainda assim formatou uma colocação que poderia ser considerada dúbia em se tratando de relações internacionais, mas jamais desprovida de razão, como bem comprovam uma longa série de acontecimentos. Se o ocorrido orbitasse somente nesse âmbito, o problema poderia ter sido explicado, justificado e esclarecido em diálogos entre embaixadas sem maiores problemas.
Entretanto, foi exacerbada e exaltada pela ultradireita, oferecendo especulações e oportunidade de ouro para uma necropolítica que transforma discordâncias em “mísseis”, mal-entendidos em “bombas” e opiniões em “balaços”, desacordos em assassinatos.
O presidente Lula é citado amplamente, mas poucos relacionam que foi somente depois de sua atitude enfática, que todos os países da União Europeia, com exceção da Hungria, apelassem conjuntamente para um cessar-fogo em Gaza, além de não atacar Rafah (nesse último inclui-se os USA). De nada adiantou e explosões destruíram mais essa região.
No caso, à “Lügenpresse/Fake News” interessa abordar citações que só levam a brigas, desavenças, difamações, enquanto acobertam o extermínio de civis desarmados, famintos, doentes e mal nutridos. Ainda, não esqueçamos, dos próprios judeus e reféns vítimas no ataque covarde e selvagem que sofreram pelo Hamas. A meta é que todos sofram, todos chorem, todos experimentem o desespero!
“Lügenpresse/Fake News” nutre-se de ódio (não interessa de quem por quem); complementa-se com a morte (não importa de quem ou por quê); vive para a guerra (dane-se se do forte contra o indefeso); locupleta-se na dor, no sofrimento, no fenecimento (não se preocupa com idade ou como); estimula a discórdia, o desentendimento, a mágoa (preferencialmente nas famílias, entre amigos ou, também, entre quem quer que seja); mata bebês, mães e idosos (não importa se com bombas, fome, sede, amputações ou eviscerações).
“Lügenpresse/Fake News” constrói-se pela astúcia, dissemina-se na falta de cultura e na ignorância, fermenta-se em ideários macabros, segregacionistas e estúpidos.
Nessa mesma lógica de distorção da verdade atuam alguns congressistas brasileiros com rasos dotes intelectuais e parcos morais, propondo o impedimento (Impeachment) de Lula por conta de uma citação não feita. Ironicamente, são os mesmos que abraçam neonazistas, ou defendem o retorno ao ambiente político do partido hitlerista.
Bolsonaro, o líder maior desse grupo, recebeu escondidos no Palácio do Planalto uma neonazista e neta de ministro de Hitler, para depois esboçar foto com um sorriso que parecia ultrapassar os limites da própria face. Também Bolsonaro afirmou sobre o Holocausto: “Podemos perdoar. Mas não podemos esquecer”, ao que esse mesmo grupo, e grande parte da imprensa, silenciaram sobre tão tresloucada e desumana citação.
Em igual quilate, outro ultradireitista, Benjamin Netanyahu, asseverou, em 2015, que “Hitler não queria exterminar os judeus naquela época”, numa aproximação horripilante e intolerável com o maior assassino de seu próprio povo. Para além, em 2023, o jornal israelense Haaretz, trouxe a manchete: “O governo de Israel tem ministros neonazistas. Realmente lembra a Alemanha em 1933”. Netanyahu também deve explicar e justificar como um grupo de terroristas e assassinos conseguiu ultrapassar uma das fronteiras mais vigiadas do mundo, indo assassinar e sequestrar judeus inocentes.
Por tais motivos, a extrema direita mundial tenta, desesperadamente, desviar a atenção do fracasso de seus grandes líderes Donald Trump, Benjamim Netanyahu e Jair Bolsonaro (entre outros tresloucados)!
O que eles têm em comum?
Desrespeito à vontade popular, ataques à democracia, racismo, estímulo à beligerância, mitomania, simpatizantes do nazismo, genocídio, etnocídio, desvios financeiros e, não por acaso, proximidade com a cadeia!
Para ficar bem claro: a aproximação da ultradireita brasileira bolsonarista é com o governo ultradireitista e sionista de Netanyahu, e não com o Estado de Israel ou com o povo judeu!
Os Estados e os povos brasileiro e israelense continuam amigos como sempre foram, próximos como sempre existiram e consanguíneos como a história bem demonstra! Esse ideário primitivo, anticivilizatório e desumano que uma ultradireita mundial teima em persistir, já foi derrotado nas últimas eleições aqui no Brasil e, segundo o noticiário de “The Times of Israel”, a população israelense também já pede sua saída: “Manifestantes em Jerusalém ampliam apelos por eleições e acordo de reféns em comício semanal”.
Mas o Brasil também é amigo, próximo e consanguíneo com o povo palestino e não pode aceitar o que está acontecendo na Faixa de Gaza! Aliás, qualquer pessoa com um mínimo de civilidade e piedade não aceitaria e, mesmo uma relação antiga conflituosa entre povos, não pode compactuar, justificar ou conviver com tal barbárie.
O “sangue” nas mãos de Netanyahu também verte aos borbotões do seu gabinete. A ferocidade deles é tão horripilante, que sequer se preocupam com vidas dos próprios reféns, sendo que a única meta é o extermínio de pessoas!
Precisamos entender que o “direito de resposta” ao ataque cruel e covarde que Israel sofreu, não justifica um genocídio, sacrifício ou imolação (nomeiem como desejarem) do povo palestino. A bem da verdade, além de um povo, está sendo exterminado um país, um Estado, uma cultura, um pedaço da própria humanidade.
Quando os palestinos tiverem de volta seu chão, certamente eles também construirão o seu triste monumento, quiçá chamado de “Museu do Genocídio”, alicerçado pelos cadáveres de mulheres e crianças, que o já chamado “o açougueiro de Gaza” provocou!
(*) Por Althen Teixeira Filho, UFPelotas/Instituto de Biologia