Como bom porta-voz eterno dos tucanos, Elio Gaspari, do Globo e da FSP, tem ojeriza do nacionalismo trabalhista de Getúlio Vargas que construiu o Estado nacional depois de pegar em armas na Revolução de 1930.
Ele demoniza o imposto sindical, criado por Vargas, no contexto da industrialização varguista, como se fosse algo desconectado da luta de classe que movimenta o mundo capitalista no qual convivem em desequilíbrio constante capital e trabalho, numa luta desigual em favor do primeiro que domina o Estado que faz as leis no modo de produção burguês.
Getúlio criou dois fatores de subsistência financeira permanente para as duas classes.
Aos capitalistas favoreceu-os com o Sistema S mediante cobrança de percentual de 0,3% incidente sobre a folha nacional de salários e aos trabalhadores imputou-lhes o imposto sindical correspondente ao valor de um dia de salário por ano.
Destaque-se que tanto o valor que financia os capitalistas, bem como o que favorece os trabalhadores, saem do lombo destes últimos, não daqueles.
Os sanguessugas representantes do capital jamais enfiam a mão no bolso para financiar Sesi, Senai, Sesc, Senac, Senar, Sebrae etc., mas administram o dinheiro que a eles é transferido pelo poder público, por meio do qual o Estado os fiscaliza.
Por que os trabalhadores, que pagam a conta do Sistema S, por meio dos seus salários, não têm o direito de comandá-los?
Se se trata de dinheiro dos trabalhadores, lógico e normal seria que os próprios operários administrassem o seu patrimônio legal sob a fiscalização do Estado e não ter essa função essencial delegada aos patrões.
O dinheiro do trabalhador é administrado pelo patrão para construir suas sedes suntuosas e financiar os programas que sustentam o poderoso Sistema S.
Se, no modo de produção capitalista burguês, o trabalhador conquistou direito de fazer o que melhor lhe aprouver com seu salário, por que as obras construídas com o seu dinheiro não podem ser administradas por ele, mas por quem o explora pelo regime assalariado?
Com o dinheiro do trabalhador, o capitalista montou uma superestrutura política e jurídica que determina ser o capital preponderante sobre o salário quando se tem de decidir o que fazer com o dinheiro do assalariado por intermédio do Estado.
Portanto, pela lógica, todo o Sistema S, montado com o dinheiro do trabalhador, deveria ser administrado não pelo capital, mas pelo trabalho.
Durante governos de representantes dos trabalhadores, eleitos pelo Partido dos Trabalhadores, os representantes do trabalho conseguiram, no máximo, certa autonomia sobre a administração do Serviço Social da Indústria (Sesi), do Comércio etc.
Jamais puderam dar palpites sobre administração do Serviço Nacional da Indústria (Senai), do Comércio etc.
A estes são delegados comandantes representantes do capital, não do trabalho, com ressalvas de que administração do sistema social (Sesi, Senai etc) responde ao comando da administração como um todo, sob orientação do capital.
PENSAMENTO SOCIAL DE VARGAS
Vargas conseguiu destinar os recursos dos trabalhadores, extraídos dos seus salários, para criar o Sistema S, com o assentimento dos capitalistas, é claro, mas quando colocou na mão dos trabalhadores o dinheiro – imposto sindical – para garantir as suas organizações(sindicatos), a fim de resistirem ao arrocho salarial, o poder do capital chiou.
Os capitalistas, com o apoio da mídia conservadora, inventaram que Vargas criou sistema pelego, por meio do qual controlava, especialmente, as cúpulas sindicais.
Mas, não é de se perguntar que conferindo aos trabalhadores o direito de resistirem aos capitalistas por meio do imposto sindical que garantia a organização financeira da luta, o presidente trabalhista obteria apoio dos trabalhadores, em vez de ferrenha oposição por parte deles?
Não é isso que explica a defesa do varguismo pelos trabalhadores que saíram em massa às ruas quando o presidente suicidou mediante argumento de que adotara esse gesto fatal como último lance da sua luta política para defender a classe laboral ameaçada pelos antinacionalistas que não o deixaram governar?
O que o reacionário Elio Gasperi oculta por trás do seu cinismo é que o imposto sindical é a arma de luta dos trabalhadores contra os capitalistas, garantindo-lhes a realização de greves, financiadas com seu próprio dinheiro.
Como lutar sem dinheiro no bolso, só com discurso?
Quando o presidente ultraneoliberal Michel Temer acabou com o imposto sindical, desarmou a classe trabalhadora para enfrentar os capitalistas.
Com que roupa, perguntaria Noel Rosa, os trabalhadores enfrentam, sem o imposto sindical, aqueles que o exploram?
Uma parte da esquerda caiu no conto do vigário da direita para criticar/condenar o Imposto Sindical em nome de uma visão distorcida e alienada quanto às relações capital-trabalho, destacaria Darci Ribeiro.
“PT é a esquerda que a direita gosta”, disse Darci.
FIM DAS GREVES, PARAÍSO DO CAPITAL
Depois de Temer, seguido do fascista Jair Bolsonaro, pós-reforma neoliberal trabalhista e previdenciária, os capitalistas estão felizes da vida: podem arrochar salários e destruir, paulatinamente, a previdência sem ter medo de paralisações e greves.
Simplesmente, utilizam a ditadura do capital imposta pelo Estado capitalista neoliberal.
Com esse Estado, que é capital, ficou mais fácil para os capitalistas financeiros especulativos criarem o Banco Central Independente(BCI), para fixar a política macroeconômica ultra-restritiva capaz de impor a exploração do trabalho, ao lado do golpe parlamentarista neoliberal, para impedir o presidencialismo de coalizão tocar o PAC lulista.
Agora, o Estado, totalmente dominado pelos ultraneoliberais, aos quais Gasperi empresta sua pena, impõe a sua condição intrínseca de capital para continuar impondo a exploração do trabalho em forma de redução de salário em escalada permanente.
É de mentes brilhantes, como a de Elio Gaspari, que nascem os argumentos e as maldades contra os trabalhadores.
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.