Simone de Beauvoir tinha razão quando dizia que “toda opressão cria um estado de guerra”. E vai mais longe: “a opressão à qual mulheres são confinadas, de encarceramento no ambiente doméstico é um fator que vai gerar tensão na relação entre os gêneros”.
Marina Colasanti, a imortal da Academia Brasileira de Letras, que acaba de nos deixar produziu uma das crônicas citadas por toda a mídia séria para falar dela. Pinço o que segue:
“A gente se acostuma à violência, e aceitando a violência, que haja número para os mortos. E, aceitando os números, aceita não haver a paz. A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza para preservar a pele.”
Uma mulher de 32 anos foi perseguida e morta a tiros pelo ex-companheiro em frente a um hospital na cidade de São Francisco de Assis (RS), a 430 quilômetros de Porto Alegre. O caso aconteceu na tarde da última segunda-feira (27) e foi registrado como feminicídio.
Foram seis tiros, socorrida, chega ao Hospital, e o machista psicopata persegue, dando mais seis tiros.
A disputa pela guarda foi garantida pelo Judiciário para a mãe, agora morta, e que foi assassinada brutal e selvagemente na frente do filho de seis anos.
Não há o que comentar sobre o monstro assassino.
O que temos que fazer diante de tal caso é cobrar o cumprimento das leis, que a Justiça mande usar tornozeleira e tudo o que for possível de ser feito para salvaguardar a vida das mulheres. Que haja uma educação ao respeito, atacando o machismo e todas as formas de preconceitos.
O Monitor de Feminicídios no Brasil divulgou os dados atualizados de 2024, revelando um aumento alarmante nos casos de feminicídios em todo o país. Segundo os números mais recentes, foram registrados 750 feminicídios consumados e 1693 casos de feminicídios consumados e tentados até o momento.
RIO GRANDE DO SUL
Os números, analisados pela equipe técnica da Lupa, levam a crer que a curva elevada pode reiterar em 2024: em 2021 foram 99 feminicídios, em 2022 foram 106, em 2023 foram 102, mantendo-se uma média de 8 feminicídios ao mês e 100 feminicídios ao ano no Rio Grande do Sul.
Proporcionalmente à população o Rio Grande do Sul mostra-se um “locus” de violência e machismo exacerbados.
Na Literatura o nosso admirável João Simões Lopes Neto, no conto “No Manantial” relata o caso da moça, às vésperas de se casar, é “abordada” por um pretendente do qual tinha medo e pavor. Escapa do monstro que a quis tomar à força, corre e entra no manancial e o sujeito vai atrás. Ela morre e só se vê a rosa vermelha que tinha na orelha por sobre as águas turvas do lago, e ele morre aos poucos porque vai se afundando.
Ou seja, neste clássico de nossa literatura já temos um caso dramático, deveria ser lido e ensinado nas aulas de Literatura do nosso ensino médio.
Espero que no próximo exame do Enem a redação seja sobre este tema.
Chega de intolerâncias!
Chega de brutalidades!
Chega de machismo!
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.