Trabalhadores podem comprometer até mais de 78% do seu Fundo aceitando as ofertas de empréstimos que podem ser pagas com o saque-aniversário
Assediados pelos bancos, é cada vez maior o número de trabalhadores e trabalhadoras que estão fazendo empréstimos para pagar com o dinheiro do saque-aniversário do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Um exemplo é o Santander, que está oferecendo a seus correntistas a antecipação do saque-aniversário, com taxa de juros inicial para resgatar o valor de 1,69% ao mês. No pré-lançamento a nova linha de crédito atraiu 200 mil clientes, segundo o banco.
Os trabalhadores ignoram que, ao aderir ao saque-aniversário, quando forem demitidos não poderão sacar o saldo do fundo – norma estabelecida pela nova modalidade de saque – e, as taxas de juros cobradas pelos bancos, que podem contribuir para que se endividem mais ainda.
Leia mais: Entenda o saque-aniversário do FGTS
A corrida ao saque-aniversário preocupa o economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clovis Scherer, que assessora a CUT no Conselho Curador do FGTS.
Essa modalidade de saque, explica o economista, pode até aliviar momentaneamente as dívidas, mas o trabalhador não poderá sacar o restante do seu Fundo de Garantia na hora em que vai mais precisar, que é quando for demitido e, portanto, estará desprotegido.
Trabalhadores já sacaram R$ 23 bilhões
De janeiro de 2020 a outubro de 2021, por meio do saque-anivesário, 16 milhões de trabalhadores e trabalhadoras sacaram R$ 23 bilhões das contas do FGTS. No ano passado inteiro os saques-aniversário somaram R$ 9,8 bi – valor aumentou em mais R$ 13,2 bilhões nos últimos 10 meses.
A projeção da Caixa Econômica Federal (CEF) é de que outros R$ 1,7 bilhão serão comprometidos no próximo mês. O índice desse tipo de operação já atinge mais de 15% do total dos R$ 11 bilhões retirados das contas do Fundo este ano por trabalhadores que sacam por demissão, ou utilizam o valor para comprar um imóvel, entre outras modalidades de saques.
O quadro de endividamento do trabalhador tende a piorar porque os juros bancários são altos e eles estão comprometendo a poupança (FGTS) que garantiria uma segurança futura em caso de desemprego.
Normalmente o saque-aniversário pode ser feito uma vez ao ano. Por exemplo, quem tem R$ 20 mil na conta pode retirar até 10% (R$ 2.000) mais R$ 1.900, o que totaliza R$ 3.900 ao ano.
No caso de empréstimos no mercado financeiro, o trabalhador pode comprometer até quatro saques-aniversário, o que totalizaria R$ 15.600. Ou seja, até aquele momento, 78% do seu Fundo de Garantia serão utilizados para pagar um empréstimo, sem contar os juros cobrados pela financeira.
Como cada financeira cobra um índice de juros, que não são baixos, o trabalhador que for demitido nesse período ficará praticamente sem nada.
“O trabalhador perde duas vezes, primeiro o direito de sacar o seu saldo se for demitido, e segundo vai pagar juros muito altos para os bancos em cima do valor que pediu emprestado”, alerta Scherer.
Segundo o economista, nos últimos meses virou febre propagandas de alienação fiduciária, e de gente criando serviços e ‘consultoria’ para ‘ajudar’ a antecipar os saques-aniversários. “É um verdadeiro assédio, seja por meio de correspondência ou WhatsApp. É o canto da sereia, uma armadilha para o trabalhador que abrirá mão de uma proteção para quando perder o emprego”, afirma Clovis Scherer.
Além da desproteção do trabalhador, os saques-aniversário podem provocar menos dinheiro no Fundo de Garantia, que aplica em habitação e saneamento básico, áreas que empregam milhares de pessoas.
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