“Provavelmente devo concorrer às eleições e, por imperativos legais, devo deixar o governo em abril de 2022. Temos uma longa estrada até lá, são praticamente 15 meses pela frente. Então, minha intenção é deixar tudo pactuado no que se refere a Governo, vice-governador, Senado, chapas, ao longo de 2021, para que a gente entre em 2022 com a casa arrumada”.
Com essa declaração, dada durante entrevista à TV Mirante, no dia 23, antevéspera do Natal, o governador Flávio Dino (PCdoB) fez o primeiro grande movimento em relação a ele próprio e à aliança que lidera na direção das urnas do grande e decisivo embate eleitoral de 2022. Mais do que um comentário ocasional e de uma simples sinalização, suas frases alinhavaram a base de um roteiro por meio do qual prenuncia o seu próprio caminho e manifesta clara intenção de articular dentro da aliança partidária um grande pacto para a definição de candidatos a governador, vice-governador, senador e deputado federal e estadual. Essa articulação passa também, claro, por um posicionamento em relação a candidatos a presidente da República.
Mesmo usando o “provavelmente” como uma possibilidade de sair candidato, não resta dúvida de que o governador vai encarar as urnas. E essa seja, talvez, a informação mais importante da sua declaração, por dois motivos. Primeiro porque sua desincompatibilização em abril de 2022 terá impacto decisivo no cenário político estadual, mas com repercussão diferente. Se sair candidato a senador, como sugere a lógica, será o líder e o esteio principal da chapa, com amplas chances de vitória, independentemente de quem venha ser o candidato a governador, o que lhe dará cacife para se tornar um quadro de ponta no cenário político nacional. Além disso, sua provável candidatura ao Senado desanima alguns projetos que estão sendo montados nessa direção dentro do seu grupo. Mas se o projeto for o de disputar a Presidência da República ou, numa hipótese mais remota, a vice-presidência, as chances de sucesso dependerão de fatores que estão fora do seu alcance, podendo correr o risco de perder o controle da disputa estadual, mesmo estando ela bem pactuada.
O outro motivo da importância da declaração do governador Flávio Dino é que sua “provável” desincompatibilização fortalece a perspectiva de o vice-governador Carlos Brandão (Republicanos) ascender ao comando do Governo, o que lhe dá uma ampla margem de movimento e um poderoso item na sua pauta de argumentos na conversa com a classe política. Ao mesmo tempo, o sinal emitido pela declaração alcança também o senador Weverton Rocha (PDT), que a partir dele pode definir com maior precisão o roteiro da sua candidatura ao Governo do Estado. O vice-governador e o senador já se movimentam como pré-candidatos, mas sabem que em algum momento da construção do pacto serão colocados frente a frente para encontrar um caminho comum ou partir para a guerra aberta.
Quando fala enfaticamente em pactuar para “arrumar a casa”, o governador Flávio Dino manda um recado claro às forças que integram a aliança governista avisando que vai trabalhar politicamente para evitar o que aconteceu na eleição para a Prefeitura de São Luís, quando alguns segmentos do grupo não respeitaram o acordo firmado, causaram um racha e entregaram a mais importante máquina municipal do Maranhão a um adversário. E dando uma demonstração de que compreende a dinâmica e os desacertos eventuais dentro de uma base tão heterogênea, o governador anuncia que se prepara para fazer um movimento amplo no sentido de pacificar a aliança e mantê-la de pé em torno de uma chapa majoritária definida por consenso para 2022.
Calcado na experiência de quem sabe onde pisa, tanto no âmbito estadual quanto no nacional, o governador Flávio Dino tem ao seu alcance uma visão completa e apurada dos dois cenários. E com a determinação de dedicar parte dos próximos 15 meses à preparação das forças que lidera para o grande embate eleitoral, dificilmente dará um passo em falso. Sua declaração sugere essa conclusão.