O geólogo Antônio João Paes de Barros, da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), afirmou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Renúncia e Sonegação Fiscal da Assembleia que a extração de ouro é utilizada para lavagem de dinheiro no estado. De acordo com ele, há cidades que não têm garimpo, mas que aparecem no ranking de extração do mineral.
A CPI voltou a se reunir na terça (20/4). Em duas oitivas, os parlamentares também ouviram o presidente da Companhia Mato-Grossense de Mineração (Metamat), Juliano Jorge, e o presidente da Federação das Cooperativas de Mineração do Estado de Mato Grosso (Fecomin), Gilson Camboim.
A CPI foi criada, em 2019, para investigar indícios de sonegação de impostos e renúncias fiscais indevidas em Mato Grosso. Mas os trabalhos foram suspensos em razão dos problemas sanitários ocasionados pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) em todo o estado.
Quem falou em nome da Metamat, sobre a situação do setor mineral em Mato Grosso, foi o geólogo Antônio João Paes de Barros. De acordo com Paes de Barros, o cenário atual da mineração em Mato Grosso, o valor da exploração mineral em Mato Grosso é de 1,2 a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso, nos últimos dois anos. Mas em 2020 esse percentual chegou a quase 3% do PIB, em função da alta do preço do ouro e do calcário. Esses dois minérios representam 85% do valor da produção mineral do estado.
Na atualidade, segundo ele, Mato Grosso é o estado que mais atrai empresas de mineração, com quatro regimes de exploração: regime de pesquisa; o regime de exploração de lavra garimpeira, inerência garimpos; o regime de licenciamento de minerais para uso industrial do calcário em pó, corretivo argila; o regime de monopólio que é petróleo e gás. “Mato Grosso era para ter 1 mil geólogos empregados”, disse.
Em relação a Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) em Mato Grosso, em 2019, foi o sexto estado da federação. Já em 2020, passou a ser o quinto com a arrecadação do CFEM com um faturamento de R$ 86,7 milhões. O valor da exploração mineral com a compensação financeira em 2019, que foi de R$ 2,4 bilhões, chegou em 2020 a R$ 4,7 bilhões por causa do ouro e do calcário gerando, um incremento de 68%.
Em Mato Grosso o maior depósito de zinco do Brasil fica no município de Aripuanã. Segundo ele, é um grande projeto de exploração. O outro mineral de grande valor é o níquel, assim como o fosfato. E tem ainda, segundo ele, mais de uma dezena à exploração de ouro em vários municípios de Mato Grosso. Nesse contexto, segundo Barros, Mato Grosso importa cerca de US$ 1,8 bilhão por ano, e dessa importação 77% a 80%, ou seja, US$ 1,5 bilhão são de sais, são insumos em forma de potássio e fósforo.
Ele disse ainda que há quatro anos, Mato Grosso figurava no ranking do maior explorador de diamante do Brasil . Mas perdeu a liderança por de falta políticas públicas para desenvolver o setor mineral.
Barros disse que há uma estimativa de que existem 10 mil garimpeiros em Mato Grosso, segundo ele, a população desses trabalhadores podem crescer nos próximos anos. “Hoje, o ouro está muito mais valorizado, por isso essa corrida ao garimpo. Um quilo de ouro está valendo cerca de R$ 260 mil no mercado”, disse.
Ao ser questionado pelo presidente da CPI, Wilson Santos, se o comercio do ouro em Mato Grosso serve para lavar dinheiro da corrupção, Barros disse que pode acontecer. “É difícil fiscalizar porque existem muitos garimpos, por isso fica difícil saber quanto foi gerado na região”, afirmou. Barros.
Segundo Barros, existem municípios como Figueirópolis d’Oeste que não têm nenhum garimpo conhecido, mas aparece no ranking da produção de ouro. “São essas coisas que chamam atenção. Não conheço nenhuma atividade mineral nessa região. Mas alguém está declarando, pode haver uma permissão de lavra garimpeira, que não conheço. A produção forte, na região, começou a aparecer em 2019”, explicou Barros.
Em 2020, segundo o Barros, Mato Grosso exportou Cerca de US$ 270 milhões de ouro, equivalente a 4,49 toneladas de ouro. Um dos maiores problemas relatados por Barro é o da Metamat não ter acesso às informações da quantidade de ouro exportado.
Outro ouvido pela CPI foi Gilson Camboim. Em sua apresentação exibiu um vídeo mostrando as ações desenvolvidas pela Cooperativa. Segundo ele, não está ligada apenas à exploração mineral, mas também preocupada com a conservação do meio ambiente, com investimento social e com desenvolvimento da economia da região.
A Federação, segundo ele, tem cinco cooperativas filiadas. Na Junta Comercial de Mato Grosso tem mais de 40 cooperativas cadastradas filiadas. A cooperativa tem 10 anos na região. Nesse período, cinco cooperativas se uniram para formar a federação. Elas estão localizadas em Peixoto de Azevedo, Alta Floresta, Pontes e Lacerda e Poconé. Hoje, ela agrega cerca de 7 mil cooperados.
Questionado pelo presidente da CPI deputado Wilson Santos sobre a receita gerada anualmente pela federação, Gilson não soube responder. “a federação tem uma pequena ajuda de custo que as cooperativas repassam, mas não tenho o valor no momento” disse Gilson Camboim.
Outra pergunta dirigida a Camboim pelo deputado Wilson Santos foi sobre o montante gerado pelos cooperados à Federação, Gilson também não soube responder. “Vou encaminhar à CPI como foi a produção de cada cooperativa e de quantas áreas cada uma delas possui”, garantiu
Wilson Santos perguntou quais são os mecanismos utilizados para o setor sonegar impostos ao estado, Camboim disse o que mais impulsiona a negação é a ilegalidade. “Hoje, o imposto é pago em cima do bruto, O garimpo tem IOF de 1%. Nesse imposto 70% ficam para os municípios e 30% para o estado. outro imposto é CFEM é de 1,5%. Por último tem o Imposto de Renda quando atinge o limite de isenção”, disse.
Hoje, a média de extração do ouro pelas cooperativas, de acordo com Camboim, é de 4 às 5 toneladas ao ano. Segundo Camboim, no início das atividades dos cooperados a produção era de 300 kg por ano. “Nesse período era um poucas áreas exploradas”.
Gilson Camboim propôs ainda a criação de um Conselho Estadual de Mineração, envolvendo todo o segmento mineral. Para, segundo ele, otimizar os trabalhos do segmento mineral em Mato Grosso.
Reprodução do Poconé Online