Jack London, grande escritor socialista americano, diz, em Tacão de Ferro, que o embate final, no campo do capitalismo, se dará entre os oligopolios estatal x privado, no cenário da financeirização global; um representa o interesse público; outro, interesse privado; no limite, o Estado, por ser expressão do interesse público, sentencia, intervirá em favor deste, para evitar destruição de si mesmo pelo sistema capitalista; seria isso que estaria começando a acontecer no Brasil, no momento em que o oligopólio privado bancário, representado pela Febraban, entra em confronto com o Estado sob comando de Bolsonaro? É briga de cachorro grande. Quem leva?
Bolsonaro, estimulado por Paulo Guedes, homem querido de Wall Street, está pê da vida com a turma da bancocracia nacional, organizada em torno da Febraban, com poder total sobre BC Independente; o poder do oligopólio bancário privado está, simplesmente, detonando a economia nacional, desde que o golpe de 2016, que derrubou Dilma Rousseff, da Presidência da República, impôs o modelo ultraneoliberal, expresso no teto de gastos públicos; essa estratégia levou a economia ao buraco e à inflação incontrolável; o povo brasileiro foi expulso do orçamento geral da União(OGU); gastos com saúde, educação, segurança, infraestrutura etc, que produzem renda disponível para o consumo, perdem de longe para os gastos financeiros, que alcançam 44% do total orçamentário, para cumprir teto de gastos; um massacre; nesse ambiente de restrição financeira brutal, que diminui a oferta de crédito, leva pancada violenta na cabeça os salários, que não podem ter mais correção real, salvo a inflação do ano anterior; o teto de gastos impôs o subconsumismo que leva os empresários a reajustarem os preços para manter constante taxa de lucro em face da redução do consumo interno; sem consumidor, os estoques são reduzidos e os preços saem do controle; a inflação sobe no rítmo do subconsumismo, enquanto as expectativas negativas crescem e produzem como resultado natural aumento da taxa de juros; esta avança, graças ao BC, acima do crescimento do PIB, massacrando as atividades produtivas, enquanto o capital especulativo descola da realidade para ganhar na abstração financeira; a superconcentração de capital na rede bancária, que aumenta, consequentemente, desigualdade social e desajuste cambial com fuga de capital, alimenta resistência ao oligopólio bancário privado que, agora, motiva, o contrapolo reativo do oligopóllio bancário estatal; está em cena choque do interesse público, expresso do oligopólio estatal, com o interesse privado da bancocracia comandada pela Febraban; a Caixa e o BB, mobilizados por Bolsonaro e Guedes, estão em guerra com o oligopólio privado, causando estrondo geral na economia; vem à tona no governo velha idéia de Guedes de abrir mercado para o Bank Of América para fazer parceria com Banco do Brasil, hoje, praticamente, dominado pelos acionistas privados, no movimento semelhante que leva à privatização da Petrobras; por isso é que a Fiesp, cujos representantes, na crise subconsumista, estão dependurados no Banco do Brasil e no BNDES, bancos estatais, recuou, estrategicamente, no documento que inicialmente elaborou para criticar tendência antidemocrática do governo do presidente capitão; foram forçados nesse sentido, para não levarem grandes prejuízos nos seus interesses financeiros; resolveu recuar e entrar em choque com a banca privada oligopolizada, para não ferir posições do oligopólio bancário estatal; nesse contexto, financeira, econômica e politicamente explosivo, cria-se o ambiente adequado para Paulo Guedes defender abertura de mercado para a banca internacional em nome da redução da taxa de juro no crédito ao consumidor; romperia oligopólio pirvado; nesse esquema, o grande interessado em dominar mercado privado de crédito no Brasil é o Bank Of América, com o qual Guedes mantém estreitas relações. Afinal, é o querido de Wall Street.
(*) Por César Fonseca