Conflito no Oriente Médio já afeta humor do brasileiro, mas otimismo ainda se mantém elevado
Em sua mensagem para o Dia da ONU, o secretário-geral António Guterres afirma que “as Nações Unidas são um reflexo do mundo tal como ele é, e uma aspiração de um mundo que sabemos que pode se tornar uma realidade.”
Assinalado em 24 de outubro, o Dia das Nações Unidas deste ano marca os 78 anos desde a entrada em vigor da Carta da ONU, em 1945. O Brasil é um dos 50 países fundadores da organização e um dos líderes na elaboração do tratado histórico que estabelece princípios fundamentais de justiça, igualdade e respeito pelos direitos humanos.
Erguida sob o horror e a tragédia humana da II Guerra Mundial (1939-1945), a Organização das Nações Unidas é o pilar da cooperação pela paz, justiça e o desenvolvimento sustentável, reunindo 193 países para buscar soluções compartilhadas para nossos desafios comuns.
“As Nações Unidas são um reflexo do mundo tal como ele é, e uma aspiração de um mundo que sabemos que pode se tornar uma realidade. É nossa responsabilidade ajudar a construir esse mundo de paz, com um desenvolvimento sustentável e com direitos humanos para todas as pessoas. Sei que o podemos fazer. A Carta das Nações Unidas, que entrou em vigor há exatamente 78 anos, indica-nos o caminho. Acima de tudo, está enraizada num espírito de determinação para curar as divisões, restabelecer as relações e construir a paz. Para expandir oportunidades e não deixar ninguém para trás. Para garantir justiça, igualdade e empoderamento das mulheres e meninas. Para prestar ajuda vital àqueles que mais necessitam. E ser suficientemente flexível para enfrentar desafios que nem sequer existiam quando as Nações Unidas nasceram: da crise existencial do clima aos perigos e promessas da inteligência artificial. As Nações Unidas são guiadas por valores e princípios intemporais, mas nunca devem ficar congeladas no tempo. É por isso que temos de continuar a aprimorar as formas de trabalhar e a olhar para tudo o que fazemos por meio de uma lente do século XXI. Neste Dia das Nações Unidas, vamos nos comprometer, com esperança e determinação, a construir o mundo melhor ao qual aspiramos. Vamos nos comprometer com um futuro que faça jus ao nome da nossa indispensável Organização. Somos um mundo dividido. Podemos e devemos ser nações unidas”, disse mensagem do secretário-geral da ONU, António Guterres, para a data.
Clique aqui e leia o discurso de António Guterres na íntegra. Ou confira o discurso na íntegra também no final deste texto.
Secretario General de la ONU, Antonio Guterres: “Es importante reconocer que el ataque de Hamás no surgió de la nada. El pueblo palestino ha estado sometido a una ocupación asfixiante durante 56 años. Vieron cómo sus tierras se llenaban gradualmente de asentamientos, fueron… pic.twitter.com/uCEGkO4qI4
— Palestina Hoy (@HoyPalestina) October 24, 2023
Aqui no Brasil, pesquisa Radar Febraban, da Federação Brasileira de Bancos, apurou que a escalada do conflito entre Israel e o Hamas em outubro está afetando o otimismo do brasileiro quanto ao futuro do país. A guerra no Oriente Médio é uma preocupação para 83% dos entrevistados, que creem em consequências prejudiciais para a economia nacional. Embora a expectativa positiva sobre o país continue em níveis elevados, o número dos que acreditam que o Brasil vai melhorar até o final de 2023 caiu de 59% em setembro para 56% em outubro.
Ao mesmo tempo, se o cenário internacional conturbado fez com que as expectativas sobre o futuro ficassem mais cautelosas, as avalições sobre o país apresentam estabilidade. A opinião de que o Brasil está melhor este ano do que em 2022 manteve-se em 48%. Já a avaliação de que o país está igual caiu 3 pontos (30%), e os que identificam piora oscilaram de 19% para 20%.
A queda na inflação tem influência na boa perspectiva da população sobre o país, pois a percepção sobre a evolução do aumento de preços vem caindo desde o início do ano e chegou ao menor percentual da série histórica (53%), recuando dois pontos em relação a setembro. Aqueles que apontam diminuição da inflação e dos preços passam pela primeira vez de um quinto (de 20% para 24%).
“A guerra entre Israel e Hamas acontece em meio a notícias positivas e negativas sobre a economia. De um lado, Copom e Banco Central estimam o crescimento da renda disponível das famílias brasileiras e queda da inflação e de outro lado o IBGE registra recuo no varejo no terceiro trimestre e o Índice de Atividade Econômica do Banco Central indica recuo na atividade econômica entre julho e setembro”, aponta o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe.
Segundo ele, “além da tragédia humanitária do conflito no Oriente Médio, soma-se a apreensão com o impacto de eventual escalada regional sobre a elevação do preço do petróleo. No Brasil isso poderia gerar um efeito dominó sobre o IPCA, o preço dos combustíveis, dos alimentos e de outros produtos, afetando diretamente o consumidor.”
O estudo foi realizado entre os dias 12 e 16 de outubro, com 2 mil pessoas nas cinco regiões do país, pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) para a Febraban.
Reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o Oriente Médio
Presidido pelo Brasil, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu na tarde desta terça-feira (24/10) para abordar a escalada do conflito no Oriente Médio.
“Em um momento crucial como este, é vital que os princípios sejam claros – a começar pelo princípio fundamental de respeitar e proteger civis. Devemos exigir que todas as partes cumpram e respeitem suas obrigações de acordo com o direito internacional humanitário; tomem cuidado constante na condução de operações militares para poupar civis; respeitem e protejam os hospitais e respeitem a inviolabilidade das instalações da ONU, que hoje abrigam mais de 600.000 palestinos.”
Discurso de António Guterres na reunião deste dia 24 de outubro:
Excelências,
A situação no Oriente Médio está se tornando ainda mais terrível a cada hora.
A guerra em Gaza está em andamento e corre o risco de se espalhar por toda a região.
As divisões estão fragmentando as sociedades. As tensões ameaçam transbordar.
Em um momento crucial como este, é vital que os princípios sejam claros – a começar pelo princípio fundamental de respeitar e proteger civis.
Condenei inequivocamente os horríveis e sem precedentes atos de terror do Hamas em Israel no dia 7 de outubro.
Nada pode justificar a morte, os ferimentos e o sequestro deliberados de civis – ou o lançamento de foguetes contra alvos civis.
Todas as pessoas reféns devem ser tratadas com humanidade e liberadas imediatamente e sem condições. Observo respeitosamente a presença entre nós de membros de suas famílias.
Excelências,
É importante também reconhecer que os ataques do Hamas não aconteceram em um vácuo.
O povo palestino foi submetido a 56 anos de ocupação sufocante.
Eles viram suas terras serem constantemente devoradas por assentamentos e assoladas pela violência; sua economia foi sufocada; seu povo foi deslocado e suas casas demolidas. Suas esperanças de uma solução política para sua situação estão desaparecendo.
Mas as queixas do povo palestino não podem justificar os terríveis ataques do Hamas. E esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestino.
Excelências,
Até mesmo a guerra tem regras.
Devemos exigir que todas as partes cumpram e respeitem suas obrigações de acordo com o direito internacional humanitário; tomem cuidado constante na condução de operações militares para poupar civis; respeitem e protejam os hospitais e respeitem a inviolabilidade das instalações da ONU, que hoje abrigam mais de 600.000 palestinos.
O bombardeio implacável de Gaza pelas forças israelenses, o nível de vítimas civis e a destruição em massa de bairros continuam a aumentar e são profundamente alarmantes.
Lamento e honro as dezenas de colegas da ONU que trabalhavam para a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) – infelizmente, pelo menos 35, e a contagem continua – foram mortos nos bombardeios em Gaza nas últimas duas semanas.
Devo às suas famílias a minha condenação por essas e muitas outras mortes semelhantes.
A proteção dos civis é fundamental em qualquer conflito armado.
Proteger civis nunca pode significar usá-los como escudos humanos.
Proteger civis não significa ordenar que mais de um milhão de pessoas sejam evacuadas para o sul, onde não há abrigo, comida, água, remédios ou combustível, e depois continuar bombardeando o próprio sul.
Estou profundamente preocupado com as claras violações do direito internacional humanitário que estamos testemunhando em Gaza.
Quero deixar claro: nenhuma parte em um conflito armado está acima das leis humanitárias internacionais.
Excelências,
Felizmente, alguma ajuda humanitária está finalmente chegando a Gaza.
Mas é uma gota de ajuda em um oceano de necessidades.
Além disso, nossos suprimentos de combustível da ONU em Gaza se esgotarão em questão de dias. Isso será outro desastre.
Sem combustível, a ajuda não poderá ser fornecida, os hospitais não terão energia e a água potável não poderá ser purificada ou mesmo bombeada.
A população de Gaza precisa de ajuda contínua em um nível que corresponda às enormes necessidades. Essa ajuda deve ser fornecida sem restrições.
Saúdo os colegas da ONU e parceiros humanitários em Gaza que trabalham em condições perigosas e arriscam suas vidas para fornecer ajuda aos necessitados. Essas pessoas são uma inspiração.
Para aliviar o sofrimento épico, tornar a entrega da ajuda mais fácil e segura e facilitar a libertação dos reféns, reitero meu apelo por um cessar-fogo humanitário imediato.
Excelências,
Mesmo neste momento de perigo grave e imediato, não podemos perder de vista a única base realista para uma paz e estabilidade verdadeiras: uma solução de dois Estados.
Israelenses precisam ver materializadas suas necessidades legítimas de segurança, e os palestinos precisam ver concretizadas suas aspirações legítimas por um Estado independente, de acordo com as resoluções das Nações Unidas, o direito internacional e os acordos anteriores.
Por fim, devemos ser claros quanto ao princípio da defesa da dignidade humana.
A polarização e a desumanização estão sendo alimentadas por um tsunami de desinformação.
Devemos enfrentar as forças do antissemitismo, do fanatismo antimuçulmano e de todas as formas de ódio.
Sr. Presidente,
Excelências,
Hoje é o Dia das Nações Unidas, que marca os 78 anos da entrada em vigor da Carta das Nações Unidas.
Essa Carta reflete nosso compromisso compartilhado de promover a paz, o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos.
Neste Dia da ONU, nesta hora crítica, apelo a todos para que se afastem da beira do abismo antes que a violência ceife ainda mais vidas e se espalhe ainda mais.
Muito obrigado.
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