Segundo ministro da Fazenda, escala da economia, reservas e crescimento recente dão mais segurança ao país, que ainda pode retomar investimentos privados
A economia brasileira está em boas condições para enfrentar turbulências do cenário externo, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele participou, nesta terça-feira (8/4), do 11º Fórum Anual de Investimentos do Brasil, em São Paulo. O fórum abordou os “Desafios Fiscais Atuais no Brasil”, com a moderação do economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato.
No encontro, que reuniu nomes importantes do setor financeiro, Haddad comentou que, na América Latina, não há outro país em condições de performar como o Brasil. “Pela escala da sua economia, pelas reservas, pelo crescimento recente”, justificou.
Ele entende que é cedo para dizer o que acontecerá, como reflexo das recentes medidas anunciadas pelo governo dos Estados Unidos, mas acredita que o Brasil está bem. “Porque o Brasil não tem dívida externa. O Brasil tem reservas cambiais. O Brasil tem um saldo comercial bastante robusto. O Brasil está com uma super safra, está colhendo uma super safra. O Brasil está com uma taxa de juros alta e crescendo. Ainda crescendo, com 14,25% de Selic”, reforçou.
Ele ressaltou que o país enfrenta dificuldades, mas salientou que o governo está endereçando um conjunto de medidas para fazer frente aos problemas e continuar progredindo. “No quadro geral, eu penso que o Brasil tem mais graus de liberdade para tomar providências e segurar o tranco que vier do exterior, como foi o caso de 2008”, ponderou.
Prudência diplomática
Ainda em relação ao quadro externo, Haddad avaliou que é um momento de incerteza e que o Brasil precisa manter a prudência diplomática de mediação e também considerar a situação frente a seus parceiros, que estão comprando cada vez mais no Brasil. “Nós estamos exportando mais para os Estados Unidos, para a Europa, para o Sudeste Asiático, particularmente para a China. Então, nós temos que ter prudência, mas saber que, se essas condições se mantiverem, nós vamos ter que sentar, a sociedade vai ter que pensar como se portar diante de um fato que é disruptivo do ponto de vista econômico”, afirmou.
Reforma Tributária
Haddad destacou medidas, como a Reforma Tributária – “a maior reforma tributária da história do Brasil” e “a única feita sob regime democrático”. “Você teve Estado novo e militares. E não teve uma reforma tributária como nós fizemos. E com o grau de profundidade que nós fizemos”, frisou.
Outro destaque, segundo o ministro da Fazenda, é que os Três Poderes, em Brasília, estão se harmonizando em torno de uma agenda de Estado, que não seja de governo.
O ministro comentou efeitos das medidas do crédito consignado para o setor privado, da desoneração do Imposto de Renda até R$ 5 mil e da liberação do resgate do Fundo de Garantia do Saque Aniversário. “Quando você melhora o ambiente de negócio, que é o caso da reforma sobre o consumo, da reforma sobre a renda, da reforma do crédito, quando você toma essas providências da reforma dos seguros, você melhora o ambiente de negócio e as pessoas começam a olhar para o país com outros olhos. As pessoas falam que o Brasil está adotando práticas internacionais que são as mais justas e avançadas para fazer a economia rodar melhor”, pontuou.
Dívida
Haddad também abordou a dívida do governo, afirmando que ela “teria outra trajetória se não fossem alguns dissabores do passado recente”. Ele mencionou o fato de o governo não ter conseguido acabar com a desoneração da folha, nem antecipado o fim do Programa de Retomada do Setor de Eventos (Perse), que já tinha atingido R$ 25 bilhões, além de ter de pagar precatórios deixados pelo governo anterior.
“A dívida é consequência de decisões que foram tomadas no passado, não foram tomadas por nós. Nós estamos administrando um passivo”, justificou, acrescentando que agora o governo está “arrumando as contas”. “E nós vamos continuar arrumando, porque nós acreditamos que isso seja uma necessidade para manter o crescimento”, garantiu.
Investimento privado
A maior fonte de preocupações, de acordo com ele, é garantir que o investimento privado retome a sua carteira de projetos, com possibilidade de retornos altos. “E aí a gente pode tirar o pé do primário tranquilo, porque a economia vai progredir naturalmente”, explicou.
Nesse sentido, o ministro entende que é necessário investir na agenda micro, porque ela vai trazer muitos benefícios para o país, além das reformas que já foram feitas. “A gente está mudando para melhorar a lei de concessões e PPPs. Tudo leva a crer que nós vamos tirar uma série de empecilhos da lei para destravar investimento”, informou. “Então, você imagina o que essa agenda setorial pode trazer de investimento para o Brasil. E, se a gente tiver investimento privado, de novo, o fiscal deixa de ser um problema.”
Por isso, na visão do ministro da Fazenda, não é preciso estímulo governamental, a não ser o básico para garantir que os investimentos aconteçam e, assim, o setor privado pode funcionar como um motor de desenvolvimento do país. “Agora, nós não sabemos o que vem pela frente, não sabemos todos os desafios. Quanto mais juntos nós estivermos, quanto mais as associações estiverem próximas – CNI, Febraban, Anfavea –, se todo mundo estiver próximo do governo, como todo ser humano que quer acertar, vai errar menos se tiver os canais de comunicação abertos”, defendeu Haddad.