You must remember this
A kiss is just a kiss
A sigh is just a sigh
The fundamental things apply
As time goes by
Sinatra cantava “As time goes by” , algo “como o tempo passa”. E você deve se lembrar de que um beijo é apenas um beijo; um suspiro é simplesmente um suspiro, às coisas fundamentais se aplica: o tempo passa.
Os velhos e bons cafés se foram, passaram com(o) o tempo. Na Rua da Praia só a “memória” pode trazer de volta a Confeitaria e Café Colombo, e os papos de “O Grupo”, o time do Paulo de Gouvêa, lá pelo final de 20 e início de 30; nem o Rian e sua mesa com aqueles cafezinhos fumegantes e os papos dos anos 70 está ali. Passou também. Vale, repito, a memória.
E o bonde? O primeiro bonde elétrico de Porto Alegre começou a circular no dia 10 de março de 1908 quem fez reportagem para o Correio do Povo foi o cronista Archymedes Fortini e este mesmo jornalista exemplar acompanhou a última viagem no dia 08 de março de ‘970, quando o prefeito Telmo Thompson Flores liquidou com ele.
Talvez ainda tenha uma chance de ver Bob Dylan em Porto Alegre, mas nada será como aquele que vi no Gigantinho. Passou o show e tudo o mais daquela noite.
Mesmo com a espera infernal pelo show da Madonna só foi aquela vez, como um suspiro.
Qual o próximo papa a visitar Porto Alegre? Não se sabe. Nem adianta conjeturar. Pois quem estava aqui em 1980 se viu viu se não viu…
Era uma vez… poderia ser até meio factual se esta cidade tivesse mais preocupações com sua memória.
Em 1957 perambulou por aqui aquele que seria o mestre da bossa nova, João Gilberto. Até sabemos a casa onde tocava com o maestro Armando Albuquerque aos sábados à tarde. Era só a Prefeitura colocar uma placa, como uma que vi em Roma na casa onde morou meu poeta preferido inglês, Lord Byron:
Não, não te assustes: não fugiu o meu espírito
Vê em mim um crânio, o único que existe
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,
Tudo aquilo que flui jamais é triste.
Vi o que eu não queria ver e acreditar, a Casa de Cultura Mário Quintana, aquele hotel onde morou João Gilberto e é claro o velho Quintana, com águas barrentas de maio de 2024, ali queria ter novamente visto quem vi pelas ruas de minha cidade, Mário Quintana:
(…)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei…
(…)
Tudo é tão passageiro na vida da gente, não é? Sei que sou finito. Aqui estou desde 1972 e muito do que vi não tem mais. A Masson não é mais a Masson, ah nem a Esquina Democrática não é mais a mesma. Os protestou que a consagram são pífios perto do que ali vive e das duas vezes que a Polícia me prendeu ali. Não vejo mais as moças lindas dos anos 70 pelas quais me dobrei, passando pela Casa Louro, a Lyra. Bah, ainda vivi um pouco da Livraria do Globo, já não era mais a Editora do Érico, mas tinha ainda lá seu charme.
Tímido, comprava uma calça barata no Guaspari e uma camisa no Wolens. E cuidava bem, lavava eu mesmo, passava ali na Casa do Estudante, para guardar os curtos trocos para o Cine Vogue ou um livro na Sulina.
Saudades que tenho do meu amigo Rui Gonçalves da Palmarinca que um acidente estúpido nos levou. Falta ela para mais um almoço com meu professor Flávio Loureiro Chaves. Quase tudo passou dos meus tempos da Faculdade de Letras, ainda posso dar um suspiro quando encontro minhas colegas fiéis daqueles tempos. Por quanto tempo não sei.
E fico pensando que se pedia um sanduíche farroupilha era com mortadela, este negócio de presunto só veio mais tarde. Um “meia” com leite era uma meia taça de café com leite. Uma “batida” era a “vitamina” dos paulistas com banana, com mamão, com abacate e leite “batidos” numa batedeira.
Se ainda o Café e Confeitaria Matheus estão aí depois de 77 anos, se foi o sanduíche de pernil pela pressa e pelo preço.
Resolvi dar uma volta pela cidade e ver se achava a Wallig e a Geral dos fogões. A Wallig foi a maior da América Latina, não foi. Em seus lugares um shopping e um megacondomínio.
Nada de encontrar a Zivi Hércules, a Fiatecci virou condomínio.
Ah, e a Varig? Só resquícios. Um avião ali no Boulevard Laçador. Pelo menos ali onde era a antiga Linck temos um ótimo espaço de gastronomia.
Fui atrás dos cinemas de rua, opa, diziam que havia mais de 40. Eu cheguei a contar 37. O Victória era minha expectativa já que voltará. Mas foi derrotado pelo streaming e os cines de shopping.
Mas, pasmem, a Banca 40 ainda está no Mercado e já tem uma loja fora. Ufa.
(*) Por Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.