No comício das reformas, em 1964, o então presidente condenou atentados aristocráticos contra o Governo
Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por esses democratas. Democracia para eles, trabalhadores, não é o regime da liberdade de reunião para o povo. O que eles querem é uma democracia de um povo emudecido, de um povo abafado em seus anseios, de um povo abafado em suas reinvindicações.
A democracia, trabalhadores brasileiros, a democracia de um patrício que eles desejam impingir-nos é a democracia do antipovo, a democracia da antireforma, a democracia do antisindicato, ou seja, aquela que melhor atenda os seus interesses ou dos grupos que eles representam. A democracia que eles pretendem é a democracia dos privilégios, é a democracia da intolerância, é a democracia do ódio.
A democracia que eles querem, trabalhadores, é para liquidar com a Petrobrás; é a democracia dos monopólios nacionais e internacionais, a democracia que possa lutar contra o povo. É a democracia que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício.
Ainda ontem, trabalhadores, eu afirmava, no Arsenal da Marinha, envolvido pelo calor dos trabalhadores daquela Marinha, que a democracia jamais poderia ser ameaçada pelo povo, quando o povo vem livremente para as praças. A praça que é do povo, a rua que é do povo.
Democracia, trabalhadores brasileiros. Democracia, meus patrícios, é o que o meu governo vem procurando realizar, como é do seu dever, não só para interpretar os anseios populares, mas também para conquistá-los pelos caminhos do entendimento e da paz.
Não há ameaça mais séria à democracia, trabalhadores, do que a democracia que desconhece os direitos do povo. Não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo, dos seus legítimos líderes populares, fazendo calar as suas reinvindicações. Estaríamos, sim, trabalhadores, ameaçando o regime se nos mostrássemos surdos aos reclamos da Nação, dessa Nação que de norte a sul, de leste a oeste levanta o seu grande clamor pelas reformas de base e de estrutura, sobretudo pela reforma agrária, que será como complemento da abolição do cativeiro para dezenas de milhões de brasileiros que vegetam no interior, em revoltantes condições de miséria.
Ameaça à democracia, enfim, não é vir confraternizar com o povo na rua. Ameaça à democracia é empulhar o povo brasileiro. É explorar os seus sentimentos cristãos, na mistificação de uma indústria do anticomunismo, insurgindo o povo até contra os grandes e luminosos ensinamentos dos últimos Papas que informam notáveis pronunciamentos das mais expressivas figuras do episcopado nacional.
O inolvidável Papa João XXIII é quem nos ensina, povo brasileiro, que a dignidade da pessoa humana exige normalmente como fundamento natural para a vida, o direito e o uso dos bens da terra, ao qual corresponde a obrigação fundamental de conceder uma propriedade para todos. É dentro desta autêntica doutrina cristã que o governo brasileiro vem procurando situar a sua política social, particularmente no que diz respeito à nossa realidade agrária.
O cristianismo nunca foi o escudo para os privilégios condenados pelos Santos Padres. Nem também, trabalhadores, nem também, brasileiros, os rosários podem ser levantados contra a vontade do povo e suas aspirações… Não podem ser levantados os rosários da fé contra o povo que tem fé numa justiça social mais humana… Os rosários não podem ser erguidos contra aqueles que reclamam a disseminação da propriedade privada da terra, pois ainda em mãos de tão poucos, de tão pequena minoria. Brasileiros, aqueles que reclamam do Presidente de República uma palavra tranquilizadora para a Nação, aqueles que em todo Brasil nos ouvem nessa oportunidade o que posso dizer é que só conquistaremos a paz social através da justiça social.
Perdem o seu tempo aqueles que imaginam que o governo seria capaz de sufocar a voz do povo ou de abafar as suas reivindicações. Perdem o seu tempo, também, os que temem que o governo vá empreender uma ação subversiva na defesa de interesses políticos ou pessoais; como perdem também o seu tempo os que esperam deste governo uma ação repressiva dirigida contra o povo, contra os seus direitos ou contra suas reivindicações.
Ação repressiva, trabalhadores brasileiros, ação repressiva, bravo povo carioca, é a que o governo está praticando e vai amplia-la cada vez mais e mais implacavelmente, assim na Guanabara e em outros estados contra aqueles que especulam com as dificuldades do povo, contra aqueles que exploram o povo e que sonegam gêneros alimentícios porque jogam com seus preços.
Ainda ontem, trabalhadores e povo carioca, dentro de associações de cúpula de classes conservadoras, levantavam a voz contra o Presidente pelo crime que o Presidente está praticando de defender o povo contra aqueles que o exploram nas ruas, contra aqueles que o exploram em seus lares, através da ganância.
Mas trabalhadores, povo brasileiro, não lhes tiram o sono as manifestações de protesto dos gananciosos, mascarados de frases patrióticas, mas que, na realidade, traduzem suas esperanças e seus propósitos de restabelecer a impunidade para suas atividades antipopulares e antisociais.
Por outro lado, povo brasileiro, não receio ser chamado de subversivo pelo fato de proclamar – e tenho proclamado e continuarei proclamando em todos os recantos da Pátria – a necessidade da revisão da atual Constituição da nossa República, que não atende mais aos anseios do povo e aos anseios de desenvolvimento desta Nação.
A Constituição atual, trabalhadores, é uma constituição antiquada, porque legaliza uma estrutura socioeconômica já superada, uma estrutura injusta e desumana. O povo quer que se amplie a democracia, quer que se ponha fim aos privilégios de uma minoria, que a propriedade da terra seja acessível a todos, que a todos seja facilitado participar da vida política através do voto, podendo votar e podendo ser votado.
Todos, todos os brasileiros, todos têm o direito à liberdade de opinião e de manifestar também sem temor o seu pensamento. É um princípio fundamental dos direitos do homem, contido na própria Carta das Nações Unidas, e que temos o dever de assegurar a todos os brasileiros.
Está nisso, trabalhadores, está nisso, povo brasileiro, o sentido profundo desta grande e incalculável multidão que presta, neste instante, a sua manifestação ao Presidente que vem também, por sua vez, prestar-lhes conta dos seus problemas, de suas atitudes e das suas providências na luta que vem enfrentando. Luta contra forças poderosas, mas confiando sempre na unidade do povo e das classes trabalhadoras. Unidade que irá encurtar o caminho da nossa emancipação.
É apenas de se lamentar que parcelas ainda ponderáveis que tiveram acesso à instrução superior continuem insensíveis, de olhos e ouvidos fechados à realidade nacional. São certamente, trabalhadores, os piores surdos e os piores cegos, porque poderão, com tanta surdez e com tanta cegueira, ser amanhã responsáveis perante a História pelo sangue brasileiro que possa vir a ser derramado, ao pretenderem levantar obstáculos ao progresso do Brasil e à emancipação do povo brasileiro.
De minha parte, à frente do Poder Executivo, tudo continuarei fazendo para que o processo democrático siga um caminho pacífico, para que sejam derrubadas as barreiras que impedem a conquista de novas etapas do progresso. E podeis estar certos, trabalhadores, de que juntos o governo e o povo – operários, camponeses, militares, estudantes, intelectuais e patrões brasileiros que colocam os interesses da Pátria acima de seus interesses –, haveremos de prosseguir, e de prosseguir de cabeça erguida, a caminhada da emancipação econômica e social deste país.
O nosso lema, trabalhadores do Brasil, é “progresso com justiça e desenvolvimento com igualdade.
A maioria dos brasileiros já não se conforma com a ordem social imperfeita, injusta e desumana. Os milhões que nada têm impacientam-se com a demora, já agora quase insuportável, em receber os dividendos de um progresso tão duramente construído, mas construído também cm o esforço dos trabalhadores e com esforço dos mais humildes.
Vamos continuar lutando pela construção de novas usinas, pela abertura de novas estradas, pela implantação de mais fábricas, de novas escolas, de mais hospitais para o nosso povo sofredor. Mas sabemos, trabalhadores, que nada disso terá sentido se o homem não for assegurado o sagrado direito ao trabalho e uma justa participação no desenvolvimento nacional.
Não, trabalhadores, não brasileiros, sabemos muito bem que de nada vale ordenar a miséria neste país, nada adianta dar-lhe aquela aparência bem-comportada com que alguns pretendem enganar o povo brasileiro.
Meus patrícios, a hora é a hora é das reformas. A hora das reformas, brasileiros, reformas de estrutura, reformas de métodos, reformas de estilo de trabalho e reformas de objetivos para o povo brasileiro.
Já sabemos que não é mais possível progredir sem reformar, que não é mais possível acomodar, que não é mais possível admitir que essa estrutura ultrapassada possa realizar o milagre da salvação nacional para milhões de brasileiros da portentosa civilização industrial porque dela só conhecem, apenas, a vida cara, as ilusões, o sofrimento e as ilusões passadas.
O caminho das reformas é o caminho do progresso e da paz social. Reformar é solucionar pacificamente as contradições de uma ordem econômica e jurídica superada, inteiramente superada, pela realidade do tempo em que vivemos.
Trabalhadores, acabei de assinar o decreto da SUPRA. Assinei, meus patrícios, com o pensamento voltado para a tragédia do irmão brasileiro que sofre no interior da nossa Pátria. Porém, é necessário que se diga que o decreto da SUPRA não é ainda aquela reforma agrária pela qual nós lutamos. Representa, como ainda há pouco afirmava o governador de Pernambuco, apenas um passo, um passo à frente no caminho da grande reforma de estrutura. Ela ainda não representa, esse decreto ainda não representa, trabalhadores, a carta de alforria do camponês abandonado Mas é, repito, o primeiro passo. Representa uma porta que se abre para a solução definitiva do problema agrário brasileiro.
O que se pretende com o decreto que considera de interesse social para efeito de desapropriação, as terras que ladeiam os eixos rodoviários, os leitos de ferrovias, açudes públicos federais e terras beneficiadas com saneamento da União, é tornar produtivas áreas inexploradas ou subutilizadas, ainda submetidas a um comércio especulativo, a um comércio odioso, a um comércio intolerável.
Não é justo, trabalhadores, que o benefício de uma estrada, uma estrada construída com o dinheiro do povo venha beneficiar apenas as pequenas minorias latifundiárias nesse país. Não se compreende que uma estrada como a Rio-Bahia, que os 800 quilômetros asfaltados da Rio-Bahia, que custaram 70 bilhões de cruzeiros ao povo brasileiro, venham a beneficiar os latifundiários, que tem o valor multiplicado nas suas propriedades. E aquela estrada foi feita com o dinheiro do povo brasileiro. O povo tem que participar daquela estrada e das terras ficadas ao lado de seu leito.
Mas, trabalhadores, reforma agrária com pagamento prévio em dinheiro não é reforma agrária, trabalhadores brasileiros. Reforma agrária como contrária à nossa Constituição precisando pagar à vista e pelo justo valor, não é reforma, é negócio agrário que interessa apenas aos latifundiários…
Sem reforma constitucional, trabalhadores brasileiros, não poderá haver uma reforma agrária autêntica que atenda aos anseios dessa nação e aos reclamos do povo brasileiro[gritos]. Sem emendar a Constituição, que tem acima dela o povo, que tem acima dela essa multidão que aqui em praça pública… Podemos votar leis agrárias honestas e bem-intencionadas, mas nenhuma delas será capaz de poder modificar as estruturais profundas que devem ser modificadas em benefício desse país. Camponeses brasileiros… Graças aos convênios e da colaboração patriótica e técnica das nossas gloriosas Forças Armadas, em convênios realizados com a SUPRA, graças a essa colaboração, meus patrícios, eu espero que, dentro de menos de 60 dias, já comecem a ser divididos os latifúndios das beiras das estradas. Que já comecem a ser divididos os latifúndios ao lado das ferrovias, ao lado dos açudes construídos com o dinheiro do povo, ao lado das obras de saneamento realizadas com o sacrifício da Nação.
E, feito isto, trabalhadores do campo, já poderão, então, ver concretizada, embora em parte, a sua mais sentida e justa reinvindicação, aquela que lhe dará um pedaço de terra própria para ele trabalhar, um pedaço de terra para ele cultivar. Aí, então, o trabalhador e a sua família, sua família sofrida, irá trabalhar para ele, porque até aqui ele trabalha para o dono da terra, a que ele aluga, o dono da terra para quem ele entrega o meio… de sua produção. E não se diga, trabalhadores, que há meio de se fazer a reforma sem mexer a fundo na nossa Constituição.
Em todos os países civilizados do mundo já foi suprimido do texto constitucional aquela parte que obriga para desapropriação de interesse social, o pagamento prévio, o pagamento em dinheiro. No Japão, brasileiros, há mais de vinte anos já se fez a reforma agrária pagando em títulos e em bônus ao prazo de vinte anos e ao juro de 3%. E naquele tempo, quem promoveu e iniciou a reforma agrária no Japão, foi um general americano que não podia ser chamado de comunista, nem de agitador e nem de inconveniente aos interesses nacionais. Foi o General MacArthur que realizou já há vinte anos atrás a reforma naquele país.
Na Itália, já também, há mais de quinze anos, realizou-se uma reforma popular. E a Itália como a Calábria passaram a multiplicar sua produção, e os colonos italianos passaram a ter o seu pedaço de terra própria para produzir. No México, já mais também de doze anos, está se completando a reforma agrária onde se entregou mais de 30 milhões de hectares de terra aos trabalhadores mexicanos, também com o pagamento de 20 anos de prazo e com juros a 5%. Na própria Índia, também, já se fez a reforma agrária de mais da metade da área cultivada daquele país.
Portanto, não existe argumento capaz de poder afirmar que no Brasil, uma nação jovem que se projeta para o futuro graças ao seu povo, não se possa fazer também a reforma da Constituição para uma reforma agrária autêntica e verdadeira.
A reforma agrária não é capricho de um governo, de uma pessoa ou programa de partido. A reforma agrária é produto da inadiável necessidade de todos os povos do mundo. Aqui no Brasil, ela constitui a legenda mais viva nas esperanças do povo brasileiro, especialmente dos trabalhadores rurais da nossa pátria.
A reforma agrária também é, trabalhadores, uma imposição do próprio imperativo do progresso nacional. É também a maneira de melhorarmos e ampliarmos o nosso mercado interno, que necessita aumentar a sua produção para poder sobreviver.
Os tecidos, os sapatos sobram nas prateleiras das lojas e das nossas fábricas, que estão produzindo, ainda, muito abaixo de sua capacidade. Mas enquanto sobram os tecidos nas prateleiras, o povo brasileiro vive nu no interior da nossa pátria…, as crianças vivem sem calçados porque não têm poder aquisitivo, porque não têm dinheiro para comprar esse produto. Assim, a reforma agrária é indispensável não só para aumentar o nível de vida do homem do campo, mas também para dar mais trabalho à nossa indústria e melhor remuneração ao trabalhador urbano.
Interessa, por isso, a todos os industriais e a todas aquelas forças produtoras que se interessam realmente pelo desenvolvimento do nosso país. A reforma agrária é necessária e indispensável, enfim, à nossa vida social e econômica, para que o país possa progredir, em sua indústria e no bem-estar do seu povo.
Como garantir, trabalhadores, o direito de propriedade autêntica, quando dos quinze milhões de brasileiros que trabalham na terra, apenas dois milhões e meio são proprietários dessa terra?
O que estamos pretendendo fazer no Brasil, pelo caminho da reforma, especialmente da reforma agrária, não é diferente, portanto, do que já se fez em todos os países subdesenvolvidos do mundo. É uma etapa de progresso que precisamos conquistar e que haveremos de conquistar, trabalhadores brasileiros.
Esta manifestação deslumbrante, que presenciamos diante de nossos olhos, é um testemunho mais vivo de que a reforma agrária será conquistada para o povo brasileiro. O próprio custo da produção, trabalhadores, o próprio custo dos gêneros alimentícios está diretamente subordinado às relações entre o homem e a terra. Num país em que se paga aluguéis da terra que vão a mais de 50% da produção obtida daquela terra, não pode haver gêneros baratos, não pode haver tranquilidade social.
No meu Estado, por exemplo, o Estado do deputado Leonel Brizola, no nosso Estado, trabalhadores, 65% da produção de arroz é realizada em terras alugadas e o arrendamento já vai a mais de 55% do valor da produção.
O que ocorre no Rio Grande é que um arrendatário de terras para o plantio de arroz paga, em cada ano, o valor total daquela terra que ele produz para o proprietário. Esse inquilinato rural, desumano e medieval é o grande responsável pela produção insuficiente e cara que torna, também, cada vez mais insuportável, a vida para as classes populares em nosso país.
A reforma agrária, trabalhadores, e o povo sabe, só prejudica a uma pequena minoria de insensíveis, que deseja manter o povo escravo e a Nação submetida a um miserável processo de vida. E é claro, trabalhadores, que só pode ser iniciada uma reforma agrária em terras economicamente aproveitáveis. É claro que não poderíamos começar uma reforma agrária para atender aos anseios do povo, lá no estado do Amazonas ou do Pará. A reforma agrária deve ser iniciada nas terras mais valorizadas e ao lado dos grandes centros de consumo, com transporte fácil para o seu escoamento.
Governo nenhum, trabalhadores, governo nenhum, por maior que seja seu esforço e até mesmo o seu sacrifício, poderá enfrentar o monstro inflacionário que devora salários, que inquieta o povo assalariado, se não forem efetuadas as reformas de estrutura e de base exigidas pelo povo e reclamadas pela Nação.
Tenho autoridade para lutar pela reforma da atual Constituição, porque esta reforma é indispensável e porque ela tem por objetivo único e exclusivo abrir o caminho para a solução harmônica dos problemas que afligem o nosso povo.
Não me animam, trabalhadores, não me animam, povo brasileiro – e é bom que a nação me ouça – quaisquer propósitos de ordem pessoal. Os grandes beneficiários das reformas serão, acima de todos, o povo brasileiro e os governos que me sucederem. Será o povo brasileiro e os governos que vierem, ao qual desejamos, trabalhadores, entregar uma Nação engrandecida, emancipada e cada vez mais orgulhosa de si mesma, por ter resolvido mais uma vez, e pacificamente, os graves problemas que a História nos legou.
Dentro de 48 horas, vou entregar à consideração do Congresso Nacional a mensagem presidencial deste ano. Essa mensagem, trabalhadores, essa mensagem, povo brasileiro, estão, bem claras e expressas, as intenções e os objetivos deste governo. Espero que os senhores congressistas, em seu patriotismo, compreendam o sentido social da ação governamental, que tem por finalidade acelerar o progresso deste país e assegurar aos brasileiros melhores condições de vida e de trabalho, pelo caminho do entendimento, isto é, pelo caminho da reforma pacífica e democrática.
Mas estaria faltando ao meu dever se não transmitisse, também, em nome do povo brasileiro, em nome destas 150 ou 200 mil pessoas que aqui estão, o nosso caloroso apelo ao Congresso Nacional para que venha ao encontro das reinvindicações populares, para que, em seu patriotismo, sinta os anseios da Nação, que quer abrir caminho, pacífica e democraticamente de melhores dias, de dias mais felizes para o povo brasileiro.
Mas também, trabalhadores, antes de finalizar, quero também referir-me a um outro decreto que também acabo de assinar, interpretando os sentimentos nacionalistas dessa Nação. Acabei de assinar, também hoje, ao dirigir-me para esta grande festa cívica, o decreto de encampação de todas as refinarias particulares. A partir dessa data, trabalhadores brasileiros, a partir deste instante, a [refinaria de] Capuava, a Ipiranga, Manguinhos, Amazônia e Destilaria Rio Grandense pertencem ao povo…ao patrimônio nacional.
Procurei, trabalhadores, depois de estudos cuidadosos elaborados por órgãos técnicos, depois de estudos profundos, procurei com esse decreto ser fiel ao espírito que criou a Lei 2.004, lei que surgiu, lei que foi inspirada nos ideais patrióticos e imortais de um brasileiro que também continua imortal em nossa alma e nosso espírito.
Ao anunciar, à frente dessa multidão incalculável, o decreto de encampação de todas as refinarias particulares, eu desejo prestar, meus patrícios, uma homenagem de respeito e solidariedade àquele que sempre teve respeito e foi solidário aos sentimentos do nosso povo. Quero prestar uma homenagem ao grande e imortal Presidente Getúlio Vargas. Ele, trabalhadores, o imortal e grande patriota Vargas tombou, mas o povo continuou a sua caminhada… E eu vivo, hoje, um momento de profunda emoção ao poder dizer que, soube interpretar o sentimento do povo brasileiro.
Ao lado dessas medidas, da maior significação para o desenvolvimento do nosso país e para participação do povo brasileiro nas nossas riquezas, especialmente nessa riqueza criada pela luta do povo brasileiro, que foi a luta memorável pelo petróleo e pelo monopólio… quando anuncio essas medidas eu sinto que, para medidas como estas, que para medidas nacionalistas dessa significação, o povo estará sempre presente nas ruas e nas praças públicas. Estará sempre nas praças públicas para, prestigiando um governo que pratica atos como estes, mostrar às forças reacionárias que o povo há de continuar a sua caminhada.
Essa mensagem, trabalhadores, que enviei à consideração do Congresso Nacional, está, também, bem consignada duas outras reformas que o povo brasileiro exige porque é uma exigência do nosso desenvolvimento e da nossa democracia. Refiro-me à reforma eleitoral, à reforma ampla que permita a todos os brasileiros, maiores de 18 anos, também ajudarem a decidir os seus destinos; que permita a todos os brasileiros que lutam pelo engrandecimento do seu país, a também participarem dos destinos gloriosos do Brasil. Nesta reforma, propugnamos pelo princípio democrático, princípio democrático fundamental, de que todo alistável deve ser também elegível.
Também está consignada nessa mensagem, a reforma universitária, reclamada pelos estudantes brasileiros, reclamada pelos universitários, que sempre têm estado corajosamente na vanguarda de todos os movimentos populares e nacionalistas. Ao lado dessas medidas, desses decretos e dessas providências, o governo continua examinando outras medida se outras providências de fundamental importância para a defesa do povo, para defesa, especialmente, das classes populares. Dentro de poucas horas, outro decreto será, também, dado ao conhecimento da Nação. Trata-se do decreto que vai regulamentar o preço extorsivo e abominável dos apartamentos de todos apartamentos e residências que estão desocupadas, e que hoje chegam a afrontar o povo e o Brasil, oferecendo até pagamento em dólar para um apartamento brasileiro. Apartamento que só deve ser alugado em cruzeiros, que é dinheiro do povo e a moeda deste país. Estejam tranquilos que dentro em breve esse decreto será uma realidade. E realidade há de ser também a rigorosa e implacável fiscalização para que seja cumprido o decreto do aluguel.
Assim como, também, o governo, apesar dos ataques que tem sofrido, apesar dos insultos, não recuará um centímetro sequer na fiscalização que vem exercendo contra a exploração do povo. E faço um apelo ao povo carioca para que ajude o governo na fiscalização da exploração contra o povo, a exploração contra o Brasil. Aqueles que faltarem à lei, aqueles que desrespeitarem a lei explorando o povo – não interessa o tamanho da sua fortuna, não interessa o tamanho de seu poder….esteja ele em Olaria ou aqui na Rua do Acre, que há também de pagar, perante a lei, a responsabilidade pelo seu crime.
Aos servidores públicos dessa Nação, aos médicos, aos engenheiros do serviço público, que também não me têm faltado com seu apoio e o calor de sua solidariedade, posso afirmar que as suas reinvindicações justas estão sendo objeto de estudo final e que, também, em breve, servidores públicos, médicos e engenheiros terão suas reivindicações atendidas. Atendidas porque o governo deseja cumprir o seu dever com aqueles que permanentemente cumprem o seu dever para com o país.
Ao encerrar, trabalhadores, quero dizer que me sinto reconfortado e retemperado para enfrentar a luta que tanto maior será contra nós quanto mais perto estivermos do cumprimento do nosso dever. À medida que esta luta apertar, eu sinto-me confortado porque sei que o povo também apertará sua vontade contra aqueles que não reconhecem os direitos populares, contra aqueles que exploram o povo, contra aqueles que exploram a Nação.
Eu sei, trabalhadores, das reações que nos esperam, mas eu estou tranquilo porque sei que eu cumpro com o meu dever, mas tranquilo, acima de tudo, porque sei que o povo brasileiro já está amadurecido, já tem consciência da sua força e da sua unidade, e não faltará com seu apoio às medidas de sentido popular e nacionalista.
Quero agradecer, mais uma vez, essa extraordinária manifestação, onde os mais significativos líderes populares vieram dialogar com o povo brasileiro, em especial com o bravo povo carioca, a respeito dos problemas que preocupam a Nação e que afligem todos os nossos patrícios.
Quero dizer, também, ao finalizar, que nenhuma força será capaz de impedir que o governo continue assegurando absoluta liberdade ao povo brasileiro. Nenhuma força impedirá que o povo se manifeste livre e democraticamente. E, para isto, povo brasileiro, nós podemos dizer, com orgulho, que contamos com a compreensão e o patriotismo das bravas e gloriosas Forças Armadas da Nação.
Hoje, com o alto testemunho da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao povo pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo pertence, reafirma seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela reforma da sociedade brasileira. Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e, ao lado do povo, pelo progresso do Brasil.
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